terça-feira, 23 de outubro de 2018

Instituto Tonny Ítalo - Ação Social das Crianças e Outubro Rosa 2018


 
Para quem chegou um pouco atrasado a vista lá de cima do Barrocão era envolvente. A fila chegava a 100 metros, evidenciando as previsões da diretoria e colaboradores de que realmente contaríamos com elevado número de pessoas. Um crescimento que evidencia o empenho do voluntariado. Todo um processo elaborado durante reuniões, e delas os contatos, os ofícios em busca de apoios, os apelos pelas redes sociais, e, acima de tudo, muito trabalho individual e coletivo.



 Os esforços não foram em vão. A criançada se esbaldou em mais um evento da qual a protagonista. Divertiram-se em cada brinquedo, degustaram dos lanches, interagiram nas diversas oficinas. Pelas imagens, o Instituto e a sua gente, pequenos com seus pais, parentes e amigos, numa alegria contagiante, a qual todos os parceiros são os grandes ativos do prazeroso retorno social. A fotografia desse momento, porém, leva-nos a refletir sobre os caminhos percorridos, as adversidades inerentes ao mundo ambicioso e injusto, buscando os melhores meios, as alternativas mais viáveis para a concretização de um evento pela vida.


 No meio do caminho pisamos em espinhos, mas seguimos em frente. Foram meses de muito trabalho, dificuldades financeiras e testemunhas do grande problema mundial, a violência. Perdemos alguns colaboradores por causa dela, pessoas que participaram de nossos eventos vítimas de um mal que nos amargura, o tráfico de drogas e suas consequências arrasadoras. E como as nossas ações visam alternativas para afastar os núcleos familiares desse mal nos assola, precisamos agir e resgatar valores através da educação e da arte.





 Concluímos, felizes, que das palestras e contatos diretos, efetivou-se mais retorno por parte dos assistidos, que ajudam na limpeza e manutenção do sítio. Por isso, numa localização privilegiada, esse asseio, em meio ao privilégio do contato com a natureza, nos é recompensado pelas observações dos transeuntes e visitantes, elogiando o espaço como o mais belo da região. 

A maior temática foi a paz. Nas paredes, nas árvores, pinturas de rostos, em todas as direções a constatação do foco, que veio neste ano a contento. Como exemplo foi a apresentação musical de Tia Vera, do Projeto A Casa dos Sonhos, em todos os matizes a práxis do evento: paz.


 
Ponto alto, e, para muitos, surpreendente, a Oficina de Bordado, aos cuidados da professora Lúcia, com forte participação da criançada masculina, oferecendo oportunidade de contato e prática com a arte nordestina.  Foi das mais concorridas e aplaudidas, assim como a terapeuta Camila, com as suas habilidades de esteticista. Já o Espaço Saudável nos proporcionou um espaço ao acolhimento psicológico com a Dra. Débora Pio, sendo importante ressaltar as presenças do casal de médicos cubanos João Almeida /Taís Matos e da presidenta da AFBNB, Rita Josina, nossa colaborara em todos os eventos, do Conselho Fiscal do InsTI.

Diante da interação entre as parcerias na realização do evento(Fórum de Mulheres no Fisco e Voluntários da Alegria) fortaleceu-se com uma experiência mais rica e organizada, resultando em rostos infantis como em sonhos, numa felicidade que poderia ser duradoura.  Uma comunidade ciente de que o espaço do Instituto Tonny Ítalo se consolidou como a via de intermediação dela com os objetos de sustentação social. Provou-se que cada morador é um articulador desse intercâmbio entre os dilemas coletivos e as soluções, daí a responsabilidade em preservá-lo.




 

 

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Fortaleza E.C. 100 Anos. A Origem do Clube da Belle Époque


Território dos Gentios


 

(FEC)
  O Fortaleza Esporte Clube leva o nome da capital cearense e com ele a história da cidade. Ela tem como origem a presença de índios tapuias, tremembés, misturando-se com os potiguaras da Paraíba e do Rio Grande do Norte chegados ao Ceará no século XVI. Chamados gentios, os do litoral foram os mais organizados em forma de coletividade e de contato aparentemente amistoso com os portugueses.

 O ex-soldado Martim Soares Moreno, nomeado primeiro capitão-mor, fundou, na Barra do Ceará, o Forte de São Sebastião em 1612, contando com uma ermida, sob evocação de Nossa Senhora do Amparo, aos cuidados de um padre, solicitação sua ao El-Rei. Seria o fundamento para a colonização pretendida em 1603, frustrada devido à falta de recursos e um projeto sem continuidade. Contudo, suas ausências, devido às campanhas no Maranhão, Rio Grande do Norte, Bahia e moradia em Pernambuco, deixaram o Ceará entregue a um corpo policial praticamente desprotegido.

 Apenas em 1621 Moreno introduziu a criação de gado vacum, equino e o cultivo da cana de açúcar. Mas a incompetência do sucessor no comando do forte, Domingos da Veiga Cabral, seu sobrinho, indispondo-se com os portugueses e com os índios da Barra do Ceará, puseram freio à tentativa de colonização progressiva.


Fortaleza Holandesa


A colonização criou corpo durante o segundo capítulo da presença holandesa, ou seja, com Mathias Beck, a partir de 1649. Uma pequena vila surgiu em volta da fortificação que ele criou, aproveitando as estacas do antigo São Sebastião, no "Marajaig", atual 10° Região Militar, destacando-se o Riacho Pajeú ainda com águas puras. A presença flamenga primeiramente se voltou ao estudo e exploração de minérios. Após a negativa dos achados, introduziu uma administração organizada de acordo com as regras da capital do Brasil Holandês, Pernambuco, por sinal avançadas. Protestante e em choque com os judeus, deixou pacificamente o Ceará em 1654, após a rendição do príncipe Maurício de Nassau frente aos portugueses.

 Álvaro de Azevedo Barreto, capitão-mor, tratou de mudar o nome do forte para Nossa Senhora da Assunção e avançar no povoamento, mas esqueceu dos índios e com eles teve um péssimo relacionamento. O Ceará pertencia ao Maranhão desde 1621, passando para a capitania de Pernambuco em 1656, permanecendo até 1799. Um período de negligência portuguesa e de estagnação econômica e social.  Sua autonomia a partir daquele ano finalmente permitiu um avanço, ainda que lento, rumo ao progresso.


Produção e Comércio


 A partir daquele século, com a consolidação da pecuária no solo cearense, a economia local experimentou a sua primeira etapa de crescimento. As charqueadas, oficinas de carnes salgadas, enriqueceu muitas famílias nobres, surgindo estradas e portos marítimos para evacuar as produções. Em seguida a bonança do algodão, o “ouro branco”, no século XIX, e o surgimento da estrada de ferro ativaram o comércio nas grandes cidades, partindo Fortaleza para destaque de maior centro econômico do Estado. Evidenciava-se a riqueza concentrada em comerciantes, uma sociedade elitizada e influenciada pela cultura francesa, um período de inspiração francesa conhecido por “Belle Époque”. 


Foot-Ball



 
(Campo do Passeio Público, 1904 - Instituto do Ceará)


  Dos encontros elegantes no Passeio Público às diversões. Precisava-se buscar no estrangeiro uma maneira de ativar o físico e o lazer do fortalezense. Na Europa praticava-se um novo esporte. E 1903 foi um ano marcante para a história da pequena cidade. Em evidência, o futebol ainda não chegara para valer em muitos estados brasileiros, e o Ceará estava nesse rol. Apenas algumas peladas nas praças e praias da cidade usando bolas improvidas, além de qualidade técnica a desejar. Um esporte praticado por rapazes que curiosamente aprenderam regras e práticas nas cidades onde estudavam no velho continente (Inglaterra, França, Áustria e Alemanha) ou no Rio de janeiro, e, com ajuda de alguns ingleses, surgiu o Ceará Foot-Ball Club. Indivíduos com um objeto redondo que corria no areal com capim e uma multidão de curiosos procurando entender o sentido da obstinação por um objeto redondo.

 
Prof. José Silveira (Correio do Ceará)
No ano seguinte o primeiro jogo contra ingleses que moravam na cidade: 2x1 para os forasteiros. Em seguida, entretanto, aportou no antigo porto da Alfândega um navio inglês com um time que seguia para amistosos no sudeste do País e Argentina, surgindo um amistoso entre eles e os cearenses. Ocorreu novamente no segundo plano da Praça dos Mártires (Passeio Público). Um jogo considerado “profissional”, pois, pela primeira vez, desde a chegada de José Silveira da Europa com bolas duras, marca Olimpique, e regras do esporte, ocorria uma disputa contra jogadores qualificados. Campo lotado, marcando presença, também, ingleses residentes em Fortaleza, trabalhadores de armazéns, estrada de ferro e companhia de gás: 10x2 para os ingleses. Tamanha foi a repercussão que, com o passar dos tempos, novas bolas foram aparecendo, a prática esportiva uma realidade nas ruas do Centro e uma recreação nos colégios particulares e no Liceu do Ceará.


 Stella e Fortaleza


 Segundo José Silveira, em 1908, após o retorno de estudantes cearenses que estudavam na Europa, foi fundado o Stella Foot-Ball Club por João da Frota Gentil, futuro diretor geral do Banco Frota Gentil e fundador do Colégio São João. Possuía o nome da escola e time em que os cearenses estudavam e jogavam, Stella Matutina, em Feldkirch. Curioso que essa cidade pertence à Áustria, podendo haver um erro histórico quando associamos ao país vizinho. As cores, branca e vermelha, lembravam as da bandeira suíça ou austríaca. Os demais jovens dirigentes eram: Adriano Deodato Martins, Bruno Menescal, José Raimundo da Costa, Oscar Loureiro, Pedro Albano, Paulo Menescal , Ademar Albuquerque e ele, Zé Silveira. Disputava jogos no Passeio Público e na Praça da Lagoinha.

 Assim permaneceu por anos, quando, em 1912,  época em que passou a ser usado o Campo do Prado, no Benfica, destacavam-se o English Teen (cearense fundado em 1908) e o Rio Negro. Contudo,  ainda naquele ano surgiriam o Maranguape e o Rio Branco, que originou o Ceará Sporting Club, o rival do Stella Foot-Ball Club, que fincou as bases da fundação do Fortaleza Esporte Clube (Sporting na época), sendo um braço de uma equipe amadora da época, o Fortaleza Foot-Ball Club, fundado por Alcides Santos, cuja existência foi registrada pela revista carioca O Malho durante um amistoso contra o Almirante Barroso, time de marinheiros do Rio de Janeiro, em 1914. 

 
Alcides Santos (Instituto do Ceará)
A Liga Metropolitana de Futebol não passava de uma representatividade extraoficial dos clubes que disputaram torneios a partir de 1913: Rio Branco, Hispéria e Maranguape. Mas em 1914 contaria com uma novidade, o Stella. Consagrava a figura de Alcides Santos, seu presidente e da Liga naquele ano. Ele comerciante e filho do professor, intelectual e deputado Agapito dos Santos. Outros abnegados: Pedro Riquet, José Bruno Menescal, Lucio Bauerfeldt, Walter Barroso, Jaime e Oscar Loureiro. Sua equipe de estreia contou com José Raimundo da Costa, que não era o jornalista e ex-presidente do Fortaleza; Ademar Bezerra de Albuquerque, futuro funcionário do Banco Frota Gentil, documentarista audiovisual, criador da ABA Film; Aleardo Costa Sousa, Paraense, Adriano Martins, Oscar Loureiro, Paulo Bruno Fiuza Menescal, Pedro Albano, Diógenes Vasconcelos, Atahualpa Alencar e José Silveira, o homem da primeira bola. Dois anos depois despareceria o Stella por uma causa nobre, um projeto maior.

 Em 18 de outubro de 1918, Alcides Santos, então com 29 anos, funda o Fortaleza Esporte Clube e revoluciona o futebol cearense, investindo na infraestrutura e beneficiando não apenas o seu Clube como o conjunto que fazia o esporte local. Doou o terreno no Alagadiço (atual Av. Bezerra de Menezes), mais espaçoso do que o do Passeio Publico, o do Campo do Prado (ao lado do futuro PV) e fundou a Associação Desportiva Cearense (ADC), o primeiro órgão federativo oficial do Estado, em 1920. Pela efervescência do glamour francês de então, suas cores tricolores são alusivas à bandeira daquele país.  Os dirigentes eram os mesmos do Stella mais Clóvis Gaspar, Jayme Albuquerque, Clóvis Moura e Walter Olsen, de família dinamarquesa estabelecida na cidade. O futuro do Clube o Brasil é testemunha. Só emoção e orgulho para a sua apaixonada torcida.




 José Silveira, o introdutor do futebol cearense e jogador do Stella.



 Filho de José Maria Silveira e de Glória Maria Carneiro Silveira, portugueses, José Silveira nasceu em Fortaleza em 29 de setembro de 1882. Partiu para a Europa em 1898, aos 16 anos, para estudar no Instituto Internacional Dr. Schmidit, na Suíça, estando ao lado de colegas de diversas nacionalidades. Com o futebol local em evidência, jogou como center-half (volante) pelo Rosemberg FC, pertencente à instituição, que seria a segunda maior força do País, superada pelo Grasshopper (Gafanhoto). 

De volta à terra alencarina, municiado de bolas e com o livro de regras, constatando que os conterrâneos não sabiam praticar o esporte, procurou um inglês, sócio da firma Leite Barbosa, marinheiros e engenheiros ingleses para um racha contra os cearenses, que contavam com o próprio, Zé, mais Prisco Cruz, Julio Sá, Marcondes Ferraz, J. Queiroz, J. Henrique e quem se dispusesse a encarar o sol e a nova modalidade esportiva. Isso no segundo piso do Passeio Público, em frente ao Gasômetro, que ficava na descida da Santa Casa de Misericórdia, sentido praia.  2x1 para os ingleses. 

José Silveira concluiu estudos em Fortaleza em 1909, na Faculdade de Direito. Professor de Línguas do Liceu do Ceará e da Escola Normal, lecionou por cinquenta anos. Falava inglês, francês, espanhol, alemão e italiano. Disse para o Correio do Ceará em 1963: “Dediquei a minha vida ao nobre ofício de ensinar, mas faço questão de frisar: nunca pedi emprego ou posição para mim. Devido a esse retraimento sempre fui um esquecido”.

 Foi prefeito de Trairi CE e deputado estadual.




Fontes: História do Campeonato Cearense de Futebol (Nirez), Jornal Correio do Ceará (1963) e Jornal A República (1903).





sexta-feira, 4 de maio de 2018

Trairi CE, 14 de agosto de 1974. O Centenário de Livramento.


 
O momento foi por demais aguardado. Nas missas, Padre Tomás Féliu ministrava os preparativos para a solenidade tão louvada. Católicos, irmandades, o bispado do Ceará, o conjunto em torno da veneração por uma Santa estava mobilizado. Um pedaço da história do Estado traçava mais algumas linhas para o futuro. Dificilmente havia um trairiense que não soubesse o que se passava. No mercado, no comércio, nas praias, escolas e comunidades do sertão a conversa era única: a Paróquia de Nossa Senhora do Livramento estava completando cem anos.





Aquele 14 de agosto caiu numa quarta-feira, fato que não tirou o brilho de um evento histórico. Cem anos de Vila e Paróquia de Nossa Senhora do Livramento. Uma verdadeira massa de fiéis presente, lembrando os festejos religiosos do fim de ano, com representações de todas as comunidades. Autoridades de diversas esferas sociais presentes, como  o ex Bispo Auxiliar de Fortaleza, D. Raimundo de Castro e Silva; do Pe. Windemburg Santana (Superior Provincial da Companhia de Jesus), de vários ex vigários da paróquia; do vigário de Baturité, Pe. Hugo Furtado, descendente de Dona Maria Furtado; do presidente da Assembleia Legislativa, Almir Pinto, além de representantes das classes operárias, agrícolas e empresariais do município e do Ceará.



Prefeito Manoel Barroso Neto com os fiéis na rua Raimundo Nonato Ribeiro


 Mas acima de todos estava o povo, os fiéis procedentes daqueles que levantaram a imagem da milagreira desde a sua origem. À meia noite a deslumbrante missa, na qual o devoto beija-mão perdurou quase uma hora. Seguindo-se os cânticos acompanhados da banda do Colégio Piamarta, atos litúrgicos e declamações de poemas, destacando-se a fiel Maria Pia de Salles.  Muitos ainda chegavam de longínquos municípios quando se iniciou o grande cortejo. Estudantes e fiéis, pessoas de origem simples mas de grandeza cristã, de fé, carregavam as imagens dos demais santos que ornamentam a Igreja, sendo a de São Pedro aos cuidados dos pescadores.




A multidão e os demais santos acompanham Nossa Senhora do Livramento


 Nossa Senhora do Livramento abençoou o seu povo. Chorou quando ali chegou após cruzar  o Atlântico;  chorou quando a viu paróquia, com o Pe. José da Silva Carvalho, em 1874, surgindo ao seu lado, triunfante, rumo ao templo idolatrado. E chorou novamente de alegria no centenário, durante uma festa católica da qual o povo trairiense  jamais esquecerá, emocionando os visitantes. E mais do que isso, nunca a abandonou. Assim conta um povo tão católico, fiel, sabedor do seu destino, que é amar a Deus e por ele ser perdoado. Assim conta a História.


                                                                                          (Acervo Lucas)



 Pesquisa: "Como Nasceu Trairi" (Maria Pia), "Ungidos do Senhor" (Aureliano D. Silveira), jornais O Povo e Tribuna do Ceará.


segunda-feira, 5 de março de 2018

Correio do Ceará - 1915, Um Marco no Jornalismo Cearense


 
Rua Conde D'Eu. Primeira sede
Os grandes jornais do País se postaram como mensageiros das tragédias no Ceará. Nos séculos XIX e XX o 
Estado passou imagem negativa, uma terra enraizada nos problemas climáticos e políticos. Caricaturistas do Rio de Janeiro e de São Paulo traçavam o líder oligárquico Nogueira Accioly ao fenômeno da seca que porventura inquietasse o Sudeste: “ O comendador trouxe a seca do Ceará”. Essas informações chegam às redações através do seus representantes, que eram muitos, de Fortaleza, com seus informativos apreciados e disputados pelos leitores sedentos por notícias. Uma devoção que começou oficialmente  pelas mãos de um padre em meio a um clima político tenso e por uma concorrência de grupos partidários.





 
Primeiro número do Correio
O historiador Perdigão de Oliveira propôs que a imprensa cearense surgiu em 1817. O presidente da Província, Manoel Inácio de Sampaio, teria criado uma gazeta, fazendo-a circular por todo Ceará, informando sobre a Confederação do Equador, na verdade uma revolução. Isso lhe custou uma discussão com Barão de Studart, que manteve o jornal Diário do Governo do Ceará como o introdutor do jornalismo no Ceará. Seu redator era Gonçalo Inácio de Loiola de Albuquerque e Melo, o Padre Mororó, passando a operar a partir de 1 de abril de 1822 pelas máquinas  dos tipógrafos Felipe Lana e Urbano Paz. O destemido religioso, que foi um dos mártires fuzilados no Passeio Público por se posicionar contra o autoritarismo de D. Pedro I, é um ícone da imprensa cearense.




Passados alguns anos surgiram os famosos jornais com potencialidades comerciais, numa fase do jornalismo de cunho partidário, de críticas aos adversários e fofocas. Por um lado os conservadores, Pedro II (1840 - 1889) e Constituição (1863 - 1889), e do outro os liberais, O Cearense (que tornou-se Cearense, 1848 - 1891), este, conforme João Brígido (do Unitário, de 1908), introdutor no jornalismo científico no Ceará. Resumindo, uma imprensa atrelada a ataques que, em suma, visavam a conquista da presidência da Província, ou seja o poder.



 
A. C. Mendes
 
Contudo, foi com o surgimento do Correio do Ceará que finalmente Fortaleza pode apreciar um jornal fiel aos princípios do jornalismo, com noticiários e publicidade. Criado em 2 de março de 1915, era um órgão ligado à Diocese de Fortaleza, mas independente. Seu fundador, Álvaro da Cunha Mendes (A. C. Mendes, do Diário do Estado, 1914), instruiu-se em São Paulo, na perspectiva de inovar a maneira de levar as informações do dia a dia aos seus conterrâneos. Excêntrico, o fundador vestia-se finamente, embora gostasse do branco, a cor dos sapatos, meias, de tudo, inclusive da sua pele. E na questão higiênica cobrava de toda a equipe o devido asseio, muitas vezes em tom de deboche: "Aqui não é sujo como jornal do Rio!".

 Eram redatores padres como Silvano de Sousa, e dirigida pelo Padre Climério Chaves.  Com a criação do O Nordeste (1922,) por Monsenhor Tabosa para a Diocese, o Correio do Ceará tornou-se mais imparcial e fiel ao jornalismo. Já as receitas não partiam da exclusividade das vendas dos jornais, pois o dono possuía rendas dos Estabelecimentos Gráficos A. C. Mendes.







Cônego Climério Chaves





1960. Jornal na rua Senador Pompeu
Nos anos 1920, Fortaleza contava com alguns jornais combativos como Correio do Ceará, O Ceará (de J. Matos Ibiapina), O Nordeste (dirigido por Andrade Furtado), Gazeta de Notícias (de Antônio Drummond) e O Povo (de Demócrito Rocha). Dentro dessa linha, A. C. Mendes fez várias denúncias, mas uma delas tornou-se foco de atenção dos cearenses, digno de debates acalorados. Após publicar relatos sobre desvios de verbas da Inspetoria Federal de Obras Contra Secas (IFOCS), envolvendo personalidades como Pompeu Sobrinho, acabou preso no dia 27 de julho de 1926, durante o governo de Artur Bernardes. O STF o impôs uma pena de seis meses, das quais a metade foi cumprida, mais pagamento de multa de dois mil réis, em vista às apelações jurídicas e populares. Parecia que toda a cidade o acompanhou desde a sede do jornal, na Rua Conde D’Eu, 183, ao então quartel do 23° BC, na Av. Alberto Nepomuceno. A multidão lembrava a inauguração da estatua de D. Pedro II, em 1913, quando todo o largo da Sé foi tomado por curiosos.



 
1926. Prisão de A. C. Mendes (Arquivo Nirez. Gentileza Fortaleza Nobre)


 No estilo austero, era o mais popular, fruto de um trabalho empresarial definido, da redação à oficina com código de disciplina e política salarial, respeitando a ordem previdencial e consequentemente os direitos e deveres dos empregados. E para tal, Álvaro Mendes e H. Firmeza muitas vezes faziam concursos para atrair bons profissionais



 
Primeira edição pelos
Diários, em 1937

O Correio do Ceará acabou vendido aos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, em 1937, logo após a criação de um concorrente, O Estado, de José Martins Rodrigues. Muita expectativa por se tratar de um ano eleitoral, marcado pelo Estado Novo, que culminou com um regime ditatorial a partir de novembro. Nem por isso a redação do jornal se recolheu. Com a direção de João Calmon e circulando de segunda à sexta-feira à tarde (às 15 horas em ponto) e sábado pela manhã, manteve as suas editorias independentes, com grandes colunistas, valorização do esporte e da cultura cearense. Durante o Estado Novo, nos anos 40, combateu o regime autoritário, porém, durante a ditadura de 1964, sob direção de Eduardo Campos, apoiou o regime militar.






 
 
H. Firmeza, "Príncipe dos Jornalistas
do Ceará". Revisava todo o jornal
Os Diários Associados passavam a contar com três jornais: Correio do Ceará, Unitário e Gazeta de Notícias, sucessos em retorno financeiro, numa época de paixão pela leitura e pela comunicação. Então vieram a aquisição da Ceará Rádio Clube, e, em 1960, a revolucionária TV Ceará, Canal 2. Destaques da imprensa, que militaram naquele jornal, Hermenegildo Firmeza (H. Firmeza), João Calmon, Eduardo Campos, Antônio Moreira de Albuquerque, Antônio Carlos Campos de Oliveira, Blanchard Girão, Fernando Sátiro, Felizardo Montalverne, Geraldo Oliveira (fotógrafo), Vieira Queiroz (fotógrafo), J. Ciro Saraiva, Teixeira Cruz, Boaneges Facó, Antonio Soares e Silva, Raimundo Guilherme, Nery Camello, Luiz Bezerra, Hildebrando Espínola, Colombo Sá, Pádua Campos, Teobaldo Landim, Luciano Diógenes, Milano Lopes, Juarez Timóteo, Roberto Vasconcelos, Adauto Gondim, José Olívio (gráfico), Francisco Soares de Medeiros, Severino Palácio e Geraldo Nobre, este um dos maiores amantes do jornal. Contava que, ainda jovem, aguardava o vizinho ler o Correio para pedir emprestado, às segundas feiras, quando o mesmo 

saía com o resumo da semana anterior.









 Em 1965, em comemoração ao seu centenário, saiu com quatro edições especiais, sendo que a Associação Cearense de Imprensa promoveu o Curso Livre de Jornalismo. Em 1980 o jornal passaria a Venelouis Xavier Pereira, tendo Colombo Sá seu editor. Não duraria mais que dois anos, porém com magistral número de 19.962 edições.



1960. Jornal se antecipa ao rompimento de parede do Orós


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                                                                                            Fotos e consulta: Correio do Ceará






quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Clóvis Beviláqua. O Maior Civilista sem Casaca




Dr. Clóvis e D. Amélia (da família)
De origem italiana, Clóvis Beviláqua (Bevilacqua) nasceu em Viçosa do Ceará no dia 4 de outubro de 1859. Fez os estudos primários em Sobral e os seguintes em Fortaleza (Ateneu Cearense e Liceu) e Rio de janeiro, onde conviveu com os colegas Paula Ney e Silva Jardim, que futuramente se destacariam na literatura, no Direito e em lutas sociais. Entre 1878 e 1882 estudou na Faculdade de Direito do Recife, onde fixou residência. Tão logo bacharelou-se, destacando-se como professor de Filosofia, concursado na Faculdade em que estudara na capital pernambucana,  logo fezendo jus à respeitada figura do meio jurídico. No Ceará, o Comendador Accioly, a fim de acalmar as tensões políticas, o convidou para a presidência do Estado. Negou, bem como para senador e deputado; também aos convites dos presidentes da Repúbica Hermes da Fonseca e Washington Luís, para ministro do STF. Contentou-se com o cargo de consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores após convite de Barão do Rio Branco, o que lhe valeu também vaga de professor de Legislação Comparada no Recife. Mas aceitou um trabalho solicitado pelo presidente norte americano, Robert Hoover, redigindo um projeto para a Corte Permanente de Justiça Internacional. Entretanto, para lá não foi discuti-lo, afinal jamais faria uma viagem internacional.

 Proclamada a Republica, em 1889, secretariou o Dr. Thaumaturgo de Azevedo, o primeiro presidente do Piauí, seguindo adiante para Fortaleza como deputado constituinte.



 Nascimento do Código Civil Brasileiro



 
Faculdade de Direito de Recife
Em 1899, durante o governo de Campos Sales, o então Ministro da Justiça, Epitácio Pessoa, seu colega de faculdade, o incumbiu de redigir um projeto de Código Civil. Em seis meses teria que apresentar um trabalho de aprimoramento do contexto social, de forma liberal e equitativa. Assim o fez, e assim foi aplaudido mundialmente. Após dezessete anos de discussão, o mesmo entrou em vigor em 1 de janeiro de 1917. Criou normas que buscavam a igualdade social, quebrando as antigas e injustas que distanciavam as classes, uma vez privilégios das classes sociais mais abastadas, assentando as bases de uma filosofia jurídica dos grandes revolucionários das ciências. Para Clóvis Beviláqua, a filosofia geral é a síntese mais elevada do saber humano, pois ela generaliza, unifica e completa a natureza harmônica de todas as ciências. O Direito como ciência estuda o homem em suas relações mutuas, mas como fenômeno aparece na sociedade humana como consagração da necessidade da vida em comum, e como deixou claro, “a filosofia jurídica traduz um grau superior na evolução das ciências do Direito”.


 Famoso e humilde



 No que pese uma vida dedicada ao ensino e de consultorias, Clóvis Beviláqua não enriqueceu financeiramente. Não importando o grau da personalidade dos solicitantes, desde que chegara ao Rio de Janeiro, em 1906, cobrava o mesmo valor pelos pareceres, inferiores aos dos colegas. Conforme o jornalista do Flan, Francisco de Assis Barbosa, “não ligava para dinheiro. Excetuando o “Código Civil Comentado” e “O Direito das Coisas”, vendeu a propriedade de todos os livros, a maior e mais completa obra que um jurista produziu em língua portuguesa. Tudo por uma quantia irrisória”. Das duas obras, aos cuidados da Livraria Francisco Alves, e de uma pensão paga pelo governo, sustentavam-se as filhas do jurista. Ambas sequer possuíam emprego, assim como de vida humilde eram seus parentes no Ceará. A própria casa da família, na Rua Barão de Mesquita, 500, foi adquirida através de um empréstimo na Caixa Econômica, “facilitado por uma entrada proveniente de subscrição popular da Sul América”. Ali o intelectual dedicou a outra tarefa que amava: cuidar de animais. Abraçava-se aos gatos, cachorros, dava milho aos pombos sentado na sua cadeira de balanço, nas suas mãos.  E não esquecia dos demais, pois alimentava até as aves  dos vizinhos. Interessante, criava galinhas mas não as matava, afinal possuíam nomes, eram como membros da família.


 Maior civilista do País sem casaca


 Tamanha modéstia vinha de longe.  1916 era o ano do centenário de nascimento do jurista baiano Teixeira de Freitas. Bateram em sua porta. Era seu amigo Edmundo da Luz Pinto, presidente da Associação dos Estudantes da Faculdade de Direito do Rio de janeiro, que o convidara para fazer uma conferência sobre o seu colega centenário. Agradeceu, mas não poderia ir porque não possuía uma casaca. O outro tratou de ir atrás e conseguiu a roupa, alugada na Casa Storino, e para a concorrida sessão, no dia 10 de agosto, compareceu ao Teatro Municipal. O imponente monumento da cultura nacional viveu um momento ímpar. Da mesa, da qual presidia, o famoso jurista Rui Barbosa, conterrâneo de Teixeira, o apresentou: “Dou a palavra ao maior dos nossos civilistas vivos para falar sobre o maior dos nossos civilistas mortos”. Fez a conferência, silenciando o prédio, lotado por estudantes. Foram tantas as palmas que até Clóvis Beviláqua as bateu pensando dirigir-se ao colega baiano.


Defensor da mulher. Aliás, das mulheres.



 Contudo, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, Clóvis Beviláqua, membro da Cadeira 14, teve um desgosto que o fez se afastar em definitivo da casa. Em 1930, sua esposa, a escritora Amélia de Freitas Beviláqua, inscreveu-se para a vaga de Alfredo Pujol. Ela já bem conhecida, já que, a contragosto dos imortais, acompanhava o marido nas sessões. Entretanto, acabou rejeitada após o presidente Aloysio da Costa colocar em votação, tendo como motivo a negativa ao sexo feminino possuir assento na Academia, o que só viria a ocorrer em 1977, com Rachel de Queiroz. Em reação à negativa, bradou em boa voz o esposo inconformado: “ Lá fora deixo o meu chapéu e a minha bengala. Onde minha mulher não pode entrar eu também não entrarei!”. O casal se conheceu durante os estudos no Recife, ela culta, piauiense, filha de desembargador, escritora desde a infância, e que teve o companheiro como parceiro em livros.


A família


 
Funerais do jurista no Campo Santo, Rio (Diários Associados)
Após a sua morte, em 26 de julho de 1944, as filhas, Dóris e Violeta, prosseguiram a tarefa de zelar os livros dos pais. Superando 10 mil volumes, com certeza a maioria voltada ao Direito, estragando-se na umidade e na precariedade do espaço, a biblioteca de Clóvis Beviláqua foi pretendida pelo Estado a fim de enriquecer os arquivos  Ministério das Relações Exteriores. Dóris Beviláqua, entretanto, recusou não apenas essa oferta como outras: “Não quero que mexam em nada. Guardarei os livros de papai e mamãe aqui mesmo. Depois da minha morte e das minhas irmãs, então sim, a biblioteca ficará para os estudantes pobres. Papai tinha horror em pensar que os seus livros seria postos em leilão. Lembro-me que ele ficava triste com o anúncio dos leilões de bibliotecas particulares no Jornal do Comércio”.


A gratidão da sua terra




JK no Ceará. (Correio do Ceará, 1965)
No dia 3 de agosto de 1965, o presidente Juscelino Kubitschek, dentro das comemorações do centenário de nascimento do jurista cerense, esteve em Fortaleza, inaugurando o Hospital das Clínicas e recebendo o título de Doutor Honoris Causa da UFC. E nos dois dias posteriores eventos ligados ao Direito, culminando com um recital na Concha Acústica da UFC com os pianistas cearenses Jacques Klein e Cesarina Klein. Parecia que toda a cidade encontrava-se do lado de fora em todas as ocasiões.



 
Fortaleza, 1965. Inauguração da estátua. (Unitário)
Às 9 horas do dia 11 agosto de 1965, Dia do Jurista e do estudante, foi inaugurada a sua estátua na praça ao lado da Faculdade de Direito. Discursaram Eduardo campos, presidente da Associação Cearense de Letras, e Luís Cruz de Vasconcelos, diretor da Faculdade, diante de incontável número de estudantes e populares. A estátua do ilustre cearense surgiu a partir da iniciativa do Centro Acadêmico Clóvis Beviláqua e do jornalista e escritor Pantaleão Damasceno, dos Diários Associados, com uma campanha do jornal Unitário em busca de apoios, resultando numa comissão que foi ao encontro das autoridades. Em 1963, o governador Virgílio Távora sancionou projeto de lei do deputado Themístocles de Castro e Silva, disponibilizando o valor de CR$ 2 milhões para a sua construção, uma dívida do cearense para com seu conterrâneo.


       

                                                                                                            J. Lucas Jr


 Fonte: Pantaleão Damasceno (Jornal Unitário), Jornal Correio do Ceará e Jornal Flan.




Rio de Janeiro. O jurista com a esposa e filhas. Lendo, Florisa, falecida em 1945. (Álbum de família)


Biblioteca: Violeta e os amores de Clóvis Beviláqua. (Flan)


quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Bibliotecas do Ceará - História de Amor à Leitura - (Por J. Lucas Jr)

Primeiro passo: Liceu do Ceará   


 
Liceu do Ceará (O Estado 1937)
No ano de 1844, o presidente da Província, Fausto de Aguiar, criou, com ordenado de 400 mil réis,  o cargo de inspetor geral da Instrução Pública, que seria hoje equivalente ao secretário da educação, com o intuito de procurar dinamizar o ensino público no interior, uma vez que pouco se progredia e o fato de os inspetores locais, das vilas, não serem remunerados. Restrito à aprendizagem primária, o presidente procurava um meio de estimular a educação com a criação de um grau mais elevado, no caso o secundário, com variadas cadeiras a serem preenchidas via concursos, prendendo os inspetores na atividade de forma assalariada. O responsável seria o primeiro diretor do Liceu do Ceará, que estava sendo criado, aliás um dos seus fundadores, Thomaz Pompeu de Souza Brasil, futuro senador.



 A biblioteca do Senador Pompeu


 
Estudioso e historiador, em 1847 o diretor desenvolveu a ideia de uma biblioteca para o Liceu, em Fortaleza, ainda que o mesmo não possuísse sede própria, 
o que ocorreria somente em 1894, funcionando na sua residência, na Praça dos Voluntários.  Dispondo de 500 mil réis cedidos pela província, pôs adiante a sua luta, surgindo dali o primeiro acervo correspondente. Naquele ano, aliás, o decreto imperial n° 433 obrigava as tipografias a cederem todos os seus impressos às bibliotecas públicas do País, motivando o governo local a colaborar com Pompeu, solicitando do mesmo a relação dos livros essenciais à biblioteca da escola. Mas infelizmente não houve a contribuição necessária da parte do poder público, não passando de uma pequena sala improvisada com parcos livros. 

 Contudo, a capital cearense contava com um espaço não particular para leitura, antecedendo à Biblioteca Pública do Ceará (1867) e ao Instituto do Ceará (1887). Com 1.730 volumes na época da inauguração, a Biblioteca Pública cresceu com todas as dificuldades, mudando de endereços em busca da sobrevivência. Em 1893 estava instalada na rua Sena Madureira, contando com 10.392 obras, das quais 4.930 foram acessadas pelos 3.334 visitantes. Recebia muito pouco financeiramente para se manter, perdendo do governo as contribuições para as assinaturas de revistas e aquisições de livros, dos quais os mais velhos, sem conservação, estragavam-se.



Biblioteca e sala de aula do Liceu (Gazeta de Notícias 1957)


O jogo por trás das contribuições



 Os recursos do executivo para a área cultural, educacional, religiosa e principalmente para a Santa Casa de Misericórdia dificilmente saíam dos impostos dos contribuintes, poucos diante de uma rede de contribuintes restrita a comerciantes e da elite em torno do centro da cidade. Por isso o Estado fazia rígidos contratos com as loterias para delas angariar fundos para a manutenção de órgãos fundamentais. Isso na ordem de sete contos de réis por mês sob pena de multas e fechamento. Portanto, o jogo não apenas mantinha como foi colaborador da criação da Santa Casa, do Asilo dos Alienados e do Colégio da Imaculada Conceição (assim como a sua capela do Pequeno Grande), ajudando o Liceu e a Biblioteca Pública. O dinheiro do Estado, pelo visto, só dava para pagar os salários dos servidores e dos poderes.


Phenix dos Caixeiros



 
Primeira sede da Fênix (Gazeta de Notícias RJ, 1907)
No dia 24 de junho de 1905 foi inaugurada a primeira sede da Fênix Caixeiral, presidida por Joaquim Magalhães e contava com 661 sócios. Tratava-se de uma sociedade criada em 1891 por um grupo de jovens comerciários. Diante de todo o luxo do prédio, localizado na rua Guilherme Rocha com General Sampaio (logradouros com nomes atuais), era a sua biblioteca, com 4.000 volumes, coordenada pelo bibliotecário João Aleixo de Sá, tendo como destaque o periódico do estabelecimento. Mais uma alternativa para consultas do cearense, que praticava fervorosamente a arte da leitura diante das poucas opções culturais. Uma cidade rica em tipografias, com vários jornais, grêmios literários, embora centralizados a uma parte da população, uma minoria que podia pagar pela informação, contrapondo-se à massa desprezada oriunda do interior, fugindo das secas e das pestes.





Salão da Biblioteca do Phenix Caixeiral, segunda sede. (Instituto do Ceará)




 Livrarias e seus cuidados


 
Livraria Edésio, na Pça do Ferreira. (A Noite 1932)
Com a chegada da primeira livraria, Oliveira, do português Joaquim José de Oliveira, e em seguida a de Manoel Antônio da Rocha Junior, no século XIX, a leitura tornou-se cada vez mais um hábito do cearense. Livros e revistas se avolumaram nas residências de intelectuais, professores, educadores, e nas grandes bibliotecas. Carecia, entretanto, de meios modernos de manutenção das obras, mas essa precariedade redundou na perda de muitos volumes, principalmente de antigos jornais. Diante de tantas denúncias e tentativas de investimentos da parte do poder público, previsões de tragédias acabaram se consolidando, como o incêndio de 1987. Na do Estado, Menezes Pimentel, devido às suas péssimas condições físicas, um curto circuito provocou um incêndio que consumiu boa parte da hemeroteca, destruindo os exemplares dos históricos Pedro II, Constituição, Cearense, A Gazeta do Norte, Libertador e A Razão, jornais antigos que fizeram parte do dia a dia do fortalezense.




Livraria O Arlindo (Amoreira). De gravata, o proprietário. (Unitário 1960)



 Bibliófilos:





Livraria Moraes, na rua Major Facundo. (A Noite 1939)
O Ceará contou com grandes bibliófilos, pessoas que guardavam parte dos seus proventos para comprar e admirar livros e revistas: Paulino Nogueira, Barão de Studart, Capistrano de Abreu, Antônio Sales, Djacir Menezes (que deixou mais de 50 mil volumes com a família e parte dela cedida à UECE), Mozart Soriano Aderaldo, Antônio Girão Barroso, Otacílio Colares, Artur Eduardo Benevides, Cruz Filho, Luiz Sucupira, Fran Martins, Eduardo Campos, Abelardo Montenegro, Raimundo Girão, Batista Aragão, Carlos Studart Filho, Pompeu Sobrinho, José Albano, entre vários amantes. E também os das grandes ações. O professor e escritor Moreira Campos, que começou a colecionar por volta de 1930, doou sua coleção para o Curso de Letras da UFC, a sua segunda morada, quando se mudou de uma casa no Benfica para um apartamento. Já na biblioteca de João Carlos Neves, telegrafista, havia  cerca de oitenta livros sobre Padre Cícero, também doados. Adísia Sá, como professora, doou a sua coleção para o Centro de Humanidades da UECE, onde lecionava. E Cid Carvalho conserva a grandiosidade da coleção do pai, Jáder de Carvalho. 


 Graciosidades feitas no Ceará passaram pelas mãos desses ilustres apreciadores: Revista Verdes Mares (do Grêmio Estudantil do Colégio Cearense), Educação Nova (do Governo Estadual), A Ideia (do Liceu do Ceará), Terra da Luz ( do Colégio Castelo Branco), A Jangada Cearense (da Confederação dos Pescadores do Ceará), O Estímulo (do Instituto São Luiz), Revista Contemporânea (de Waldery Uchoa), Folha Estudantil (do Centro Estudantil Cearense), Lar (da Escola Doméstica São Rafael), Via Lactea (do Colégio Santa Cecília), Revista da Academia Cearense de Letras e a requíssima Revista do Instituto do Ceará.


Biblioteca Dolor Barreira



 
Dr. Dolor Barreira. Prof Emérito da UFC
Caso polêmico ocorreu em 1969. A famosa biblioteca do jurista, membro da Academia Cearense de Letras e do Instituto do Ceará, Dolor Barreira, falecido dois anos antes, seria doada, como era desejo do proprietário.  A família acabou entrando em choque com o secretário de Cultura municipal, Raimundo Girão, ex-prefeito de Fortaleza, que insinuou na imprensa que ela estaria fazendo “leilão” com o bem, uma vez haver indicações de que o referido estaria vendido. 


 Localizada na residência do Dr. Barreira, na Rua Major Facundo com a Av. Duque de Caixas, na área correspondente atualmente à agência da Caixa Econômica Federal, tinha como bibliotecária Maria Conceição de Sousa, que cuidava dos seus 40 mil volumes. Caso a prefeitura continuasse duvidando, seria provável um outro destino. Por muito pouco o rico acervo do professor, incluindo as estantes, não foi parar na UNESCO. Felizmente a biblioteca tornou-se municipal em 1971, localizando-se na Av. da Universidade, de onde se mudou para o atual endereço, do outro lado da mesma rua. 



Em 2007, as mesma foi agraciada com a doação de 5 mil volumes do famoso historiador e professor Geraldo Nobre, pela sua família. Das antigas livrarias como Ribeiro, Araújo, Gualter, Aequitas, Imperial, Humberto, Selecta, Hermínio Barroso, Renascença,  Alaor, Moraes, Comercial, surgiram os colecionadores particulares, daqueles que não se importam com o tempo quando se procura um bom livro, um bom livro mais outro livro e assim surge uma nova alternativa de consulta.



Carlyle Martins



 
Carlyle Martins e sua biblioteca (Tribuna do Ceará)
Muitos se trancam, outros liberam as suas prateleiras para os pesquisadores. Sobrinho do poeta Álvaro Martins, um dos fundadores da Padaria Espiritual, Carlyle Martins foi um desses apaixonados por leitura. Na sua eterna residência, na Av do Imperador, já próxima da parada final dos trens, o poeta e membro da Academia Cearense de Letras recebia, desde os idos de 1950, as visitas, orientando-as para a boa conservação das obras. Mostrava boa receptividade, mas também o cuidado com os seus 15 mil volumes de cunho literário, que segundo o próprio não venderia “por dinheiro algum”. Na época, o famoso jurista incentivava nomes que iniciavam nas artes e que lhe atraiam pela riqueza cultural: Eusélio de Oliveira, Sânzio de Azevedo, Horácio Dídimo, Esther Barroso, Henriques de Cêrro Azul. Dos poetas até então falecidos citava Antonio Sales e José de Albano, uma conclusão difícil diante de tantos nomes que abrilhantaram a literatura cearense.



 Tonny Ítalo



 
Biblioteca do Instituto Tonny Ítalo (Lucas Jr)

 Diante de tantas experiências de sucesso, a vontade de ajudar superou as dificuldades diversas. Chegaram à periferia de Fortaleza e à zona rural do Estado do Ceará as bibliotecas comunitárias, que trabalhavam limitadamente Diante disso, a Secult CE criou uma área de apoio a elas, promovendo discussões e ajudando com doações de livros e revistas, contribuindo com o seu fortalecimento. Particularmente, presenciamos o impacto das Bibliotecas Comunitárias e no momento comemoramos o secesso dessa parceria. A biblioteca Rodolpho Theophilo, do Instituto Tonny Ítalo, em Itaitinga, passa por um processo de crescimento a ponto de vê-se necessário sua expansão física. Como seu coordenador, notamos a satisfação das crianças carentes que a visitam, além das atenções dadas pelos adultos e estudantes. Foram duas doações em dois anos da Secretaria de Cultura do Ceará, que junto às de dezenas de colaboradores só têm dado alegrias à comunidade de Taveira, ensejando a esperança e a certeza de que com a educação evitaremos que a violência continue a desmoronar o sonho das famílias e da sociedade, por um mundo de inteligência. Que todas essas bibliotecas citadas sejam o palco de uma reviravolta cultural, a leitura como uma adoração universal, livros pequeninos ou ricos, o importante é que não nos abusemos de ler, de aprender, de nos guiar, livres, para uma vida de encantos.


“Só a educação do povo poderá obstar completamente ao progresso da imoralidade que é a causa primordial dos gravíssimos males que vexam a nossa sociedade”. (Fausto Augusto de Aguiar, Presidente da Província do Ceará, 1844)


Fontes: jornais Pedro II, Cearense e Tribuna do Ceará; Almanaque do Ceará.

















sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Praça do Ferreira. Do Sobrado do Pachecão ao Coreto do Godofredo


Largo das Trincheiras



Jardim 7 de Setembro
(Leitura para Todos)
Naquele quadrilátero central da pequena Fortaleza de 1830, os tropeiros, comerciantes montados, oriundos de todas as bandas, Messejana, Arronches, Soure, Aquiraz, arriavam as suas mercadorias, fixando os animais cansados nos frades de pedra, em meio à fedentina da água parada, bichos criados soltos no areal e capinzal misturados, sob as sombras das castanholeiras, oitis, mongubeiras, cajueiros, ponto final da cansativa jornada, o Largo das Trincheiras, onde surgiu a Feira Nova da capital. No sentido diagonal, das Trincheiras à Boa Vista, uma viela de mocambos, casebres pintados a cal, chamada Beco do Cotovelo, que distinguia-se dos vizinhos mais abastados, donos desses arredores: o sobrado do Comendador Antonio Machado, construído por presos, de um lado e na outra ponta o de Francisco José Pacheco de Medeiros, o Pachecão; os sobrados de João Severiano Ribeiro e de Vicente Mendes, encontrando-se nas proximidades a pequena escola do Professor Joaquim Alves de Carvalho e o boteco dos Siqueira.

Pachecão e a Intendência Municipal


 Em 1831 o sobrado do José Pacheco foi adquirido para acomodar o legislativo, ou precisamente a Municipalidade, também com poder administrativo, por 6:593$984, ou seja, mais de seis contos de réis, em quatro prestações, conforme escritura de 24 de janeiro de 1831, em cuja área surgiria a famosa Intendência Municipal, no antigo Alto da Boa Vista (atua rua Floriano Peixoto), e o Abrigo Central. O prédio da Intendência manteve-se erguido até 1941, quando o prefeito Raimundo Alencar Araripe mandou demolir o quarteirão na intenção de construir a sede da prefeitura, que não saiu de uma bela maquete. Atualmente estaria, como fins de localização, à frente do Edifício Sul América.


Sobrado do Comendador Machado à direita (Carioca)
Nessa venda parece não ter se dado muito bem Pachecão, investindo com a renda em terras em Soure (Caucaia) e, segundo testemunhas, interferindo nos negócios particulares dos moradores daquela vila, sobretudo em questões de terras habitadas. Contudo, não teria progredido financeiramente como o seu velho vizinho. Já Machado foi denunciado pela família de Bernardo José Teixeira, seu cunhado, de apoderar-se de suas propriedades, inclusive da única botica da cidade. Resolvido a deixar o Brasil em 1822, indo de jangada para a Paraíba e de lá a vapor para Lisboa, o português não pode presenciar a armação que o irmão da sua digníssima Felliciana aprontara, produzindo documentos falsos de viuvez e de venda de imóveis, arrolando até Pachecão como testemunha de empréstimo junto a Manoel Caetano de Gouveia. Se por um lado a família de Bernardo Teixeira queixava-se da infeliz situação financeira, por outro Machado alugava bens para serviços do governo provincial. E o mais famoso dele, o sobrado, construído pelo coronel Conrado Jacob de Niemeyer em 1825, acabou vendido ao empresário Plácido de Carvalho, que ali construiu o Excelsior Hotel.


A Chegada do Boticário



Bondes animais. (Fon Fon)
Em 1825 chegava ao Ceará Antonio Rodrigues Ferreira, farmacólogo, de Niterói, aos 24 anos, desertor, como o pai, do Exercito Real, de passagem por Recife, onde conseguiu licença para receitar. Liberal convicto, moço, acabou preso após a dissolução da Constituinte, em 1823, aquartelando-se no Palácio do Catete , no Rio de janeiro. Mas acabou libertado por um general amigo. Em Pernambuco conheceu, onde estava hospedado, o negociante Manoel Caetano de Gouveia, que o convidou para ser seu caixeiro em Fortaleza. Começava ali uma reviravolta na vida do boticário e um pedaço da história de Fortaleza. Casado desde 1827 com a aracatiense Francisca Áurea de Macedo, com quem não teve filhos, chamava atenção o seu comportamento humilde, não se apegando a bens materiais. Logo abriu a Farmácia Ferreira, que o povo chamava de Botica do Ferreira (futura Farmácia Galeno), não distinguindo sua clientela por questões sociais, muitas vezes visitando o cliente-paciente em casa. Essa prática incomum, numa sociedade elitizada, fechada com a monarquia, e de ideias e comportamentos europeus, acabou levando-o à vida pública. Após a morte da esposa, em 1842, estreou na Câmara Municipal logo como vice-presidente, uma vez chefe do Partido Conservador, também conhecido como Carcará ou Caranguejo. No ano seguinte seria presidente, o que lhe valeu o cargo de comandante da administração da cidade por doze anos consecutivos, o maior período de mandato de um prefeito de Fortaleza, permanecendo na vida pública até a sua morte, em 29 de abril de 1859.

 Na “sala de visita da cidade”, de imediato demoliu o Beco do Cotovelo, nascendo dali a Praça D. Pedro II, afinal tinha que agradar o monarca e aguardar alguma ajuda financeira vinda pelos vapores do Atlântico. Foi o necessário para ocorrer uma vasta expansão econômica naquela área, com o surgimento de lojas e de belos sobrados. Em menção a Ferreira a chamavam de “Largo do Ferreira” ou “Largo do Boticário”. Até que, em 12 de outubro de 1871, por indicação do vereador João Antônio do Amaral Junior, a Câmara Municipal mudou o nome da Praça Municipal para Praça do Ferreira, em homenagem a Antonio Rodrigues Ferreira. Era a época dos primeiros bondes puxados a burro e mais adiante a cavalos, da firma Ferro-Carril, tendo como ponto central aquele centro de encontros do cearense, na rua da Boa Vista (antiga Alto), onde em 1875 surgiu o primeiro café da cidade, o Café Americano. Esses bondes de burros, que seguiam em linhas de ferro, comportavam até 25 passageiros, e dali partiam a cada  meia hora, com boleeiro e condutor fardados, ao preço de 100 réis.

 Segundo o historiador Paulino Nogueira, “aquele homem feio, um pouco baixo, magro, moreno, narigudo, cabelo quase à escovinha, trajava-se mal, inseparável de uma luneta de ouro, que não tirava do olho direito”. Aquele homem trouxe para a sua mesa o projeto urbanístico de Silva Paulet, em forma de xadrez, engavetado desde a época do Governador Sampaio (1813). Mandou chamar o  pernambucano Adolpho Herbster, engenheiro da província, que revolucionou a cidade com uma planta detalhada, ajustando as ruas nos moldes da modernidade.


 Os Quiosques



Café do Comércio. (Leitura para Todos)
Durante o apogeu vivenciado durante a gestão do Boticário, quiosques de madeira e zinco foram criados nos cantos da praça.  O Java (1884), de Manuel "Côco” Pereira, de madeira, ficava em frente à Intendência Municipal (norte); Completavam o Iracema (sudoeste), restaurante, e o do Comércio (noroeste), este ampliado, em forma de chalé, após o ajardinamento em 1902. Então surgiu o último, em 1891, o Elegante (sudeste), este, assim como o Comércio, construídos pelo negociante pedro Ribeiro Filho, conforme plantas aprovadas pela câmara.. Do lado oposto à Câmara, entre o Iracema e o Café Elegante, um chafariz de ferro fundido, de origem francesa, com quatro torneiras. Ao centro um grande catavento. Oito tanques passaram a fornecer água para os canteiros, um avanço para uma população em volta de tanta miséria oriunda das secas. Aliás, durante a estiagem de 1877 a 1879 construiu-se um cacimbão utilizando pedras vindas de Portugal, utilizadas para fincar os mastros dos veleiros. Exatamente aquele da fonte da atual praça.Com exceção do Java, os cafés possuíam vários sócios, passando por seguidas transferências, inclusive o Elegante chegou a se chamar Café Chique quando propriedade de Arnauld Cavalcante Rocha.

Na praça, por volta de 1896, os clubes elegantes, localizados nas imediações, Clube Cearense e Clube Iracema, disputavam as melhores alegorias durante os carnavais. Evidenciavam-se, assim, as discriminações, como ocorria no Passeio Público: pretos e pobres nas laterais e os ricos no centro, separados por gradis. Tempos após incorporam o “O Banco”, um assento público restrito senhores da sociedade e intelectuais com suas vestimentas em linho branco.


7 de Setembro


Cel. Guilherme Rocha. (O Malho)
Em 1902, já na república, Nogueira Accioly comandava a política cearense e o Partido Conservador ao estilo  oligárquico, indicando como intendente de Fortaleza o coronel Guilherme Rocha, seu antigo aliado e próspero comerciante, enquanto Pedro Borges o governador. Processou-se na cidade o zelo com os bens, embora os mesmos cada vez mais voltados aos ricos. Como a Marquez do Herval (José de Alencar), a Praça dos Mártires foi reformada, tornando-se uma das belas do País, e a Praça do Ferreira passou por uma mudança radical após proposta do vereador Casimiro Montenegro, futuro intendente, de criação de um jardim que homenageasse a Independência da República. E assim, na data histórica brasileira, foi inaugurado o Jardim 7 de Setembro. A Praça do Ferreira, portanto, passou a ser conhecida como Jardim ou Avenida 7 de Setembro, uma vez dividida em quatro. Guilherme Rocha cercou a praça com gradis de ferro e no centro o jardim, em formato de cruz, gradeado com um portão em cada face. Como iluminação, 38 lampiões internamente, enquanto fora 20 combustores auxiliares. O velho logradouro decididamente estava reservado à classe social mais abastada.


Bondes elétricos


 No dia 9 de outubro de 1913 o prefeito Ildefonso Albano, também aliado do Comendador Accioly, deposto após revolta popular no ano anterior, inaugurou o bonde elétrico. O munícipe fez questão de pilotar o primeiro, em meio à curiosidade da multidão que o acompanhou a partir da loja Crisântemo.  Os bondes da Ceará Light & Power permaneceram em atividade até 1945, passando os encargos para o governo e prefeitura, que os extinguiram dois anos depois pressionados pelas empresas de ônibus que cresciam junto com a população.




O Coreto


 Uma nova reforma da praça pôs fim aos quiosques. No dia 24 de maio de 1925 o prefeito Godofredo Maciel, continuando a prioridade dos jardins, inaugurou, na Avenida 7 de setembro,  o coreto, onde a banda da Polícia, a filarmônica, executou “allegros” e dobrados. Em sua volta, os cinemas Polytheama, Majestic, e Moderno; a Casa Albano, o Emydgio, Foto Ribeiro, entre tantos comércios apaixonantes, com o coreto atraindo multidões que testemunharam comícios e discursos célebres como de Maurício Lacerda (pai de Carlos Lacerda), Djacyr Menezes, Rachel de Queiroz, Dr. Morais Correia, Demócrito Rocha e de Perboyre e Silva, eterno presidente da Associação Cearense de Imprensa.  Voltaria a ser chamada de Praça do Ferreira.



1959. Centenário de morte do Boticário. Visita ao túmulo. (Tribuna do Ceará)


Centenário do falecimento. 29 abril 1959. Programação em lembrança pelo falecimento do tenente-coronel Boticário Ferreira, tido como "a maior personalidade do Seculo XIX" (Tribuna do Ceará):


7:30: Missa na Ig. do Rosário, por Dom Almeida Lustosa.
9:00: Visita ao túmulo, Ginásio Municipal. (Cemitério S. João Batista)
12:00: Palestra do prefeito Cordeiro Neto. Pelas emissoras de rádio.
16:00: Sessão solene no Ginásio Municipal. Grêmio Joaquim Nogueira.
19:00: Palestra professora Geraldina Amaral, Waldery Uchoa e Mozart Soriano Aderaldo.
20:00: Retreta na Praça do Ferreira pela banda da Escola Preparatória de Fortaleza.
Obs: no seu testamente deixou os seus bens para o seu pai, caso estivesse vivo. Do contrário, para sua sobrinha.



 Fontes: Jornais Cearense e Unitário. Artigos de Paulino Nogueira, Raymundo Menezes e de Gustavo Barroso.





1925. Com o coreto. (Fon Fon)


 
1922. Como Av. 7 de Setembro. (A Illustração Brazileira)



Sobrado do Comendador Machado. Construção 1825. Demolição: 1927. 



Comendador Machado - Foto Instituto do Ceará