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Rua Conde D'Eu. Primeira sede |
Os grandes jornais do País se postaram como mensageiros das
tragédias no Ceará. Nos séculos XIX e XX o Estado passou imagem negativa, uma
terra enraizada nos problemas climáticos e políticos. Caricaturistas do Rio de
Janeiro e de São Paulo traçavam o líder oligárquico Nogueira Accioly ao
fenômeno da seca que porventura inquietasse o Sudeste: “ O comendador trouxe a
seca do Ceará”. Essas informações chegam às redações através do seus
representantes, que eram muitos, de Fortaleza, com seus informativos apreciados
e disputados pelos leitores sedentos por notícias. Uma devoção que começou
oficialmente pelas mãos de um padre em
meio a um clima político tenso e por uma concorrência de grupos partidários.
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Primeiro número do Correio |
O historiador
Perdigão de Oliveira propôs que a imprensa cearense surgiu em 1817. O
presidente da Província, Manoel Inácio de Sampaio, teria criado uma gazeta,
fazendo-a circular por todo Ceará, informando sobre a Confederação do Equador, na
verdade uma revolução. Isso lhe custou uma discussão com Barão de Studart, que
manteve o jornal Diário do Governo do Ceará como o introdutor do jornalismo no
Ceará. Seu redator era Gonçalo Inácio de Loiola de Albuquerque e Melo, o Padre
Mororó, passando a operar a partir de 1 de abril de 1822 pelas máquinas dos tipógrafos Felipe Lana e Urbano Paz. O
destemido religioso, que foi um dos mártires fuzilados no Passeio Público por se
posicionar contra o autoritarismo de D. Pedro I, é um ícone da imprensa cearense.
Passados alguns anos surgiram os famosos jornais com
potencialidades comerciais, numa fase do jornalismo de cunho partidário, de
críticas aos adversários e fofocas. Por um lado os conservadores, Pedro II
(1840 - 1889) e Constituição (1863 - 1889), e do outro os liberais, O Cearense
(que tornou-se Cearense, 1848 - 1891), este, conforme João Brígido (do Unitário,
de 1908), introdutor no jornalismo científico no Ceará. Resumindo, uma imprensa
atrelada a ataques que, em suma, visavam a conquista da presidência da
Província, ou seja o poder.
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A. C. Mendes |
Contudo, foi com o
surgimento do Correio do Ceará que finalmente Fortaleza pode apreciar um jornal
fiel aos princípios do jornalismo, com noticiários e publicidade. Criado em 2 de
março de 1915, era um órgão ligado à Diocese de Fortaleza, mas independente.
Seu fundador, Álvaro da Cunha Mendes (A. C. Mendes, do Diário do Estado, 1914),
instruiu-se em São Paulo, na perspectiva de inovar a maneira de levar as
informações do dia a dia aos seus conterrâneos. Excêntrico, o fundador vestia-se finamente, embora gostasse do branco, a cor dos sapatos, meias, de tudo, inclusive da sua pele. E na questão higiênica cobrava de toda a equipe o devido asseio, muitas vezes em tom de deboche: "Aqui não é sujo como jornal do Rio!".
Eram redatores padres como
Silvano de Sousa, e dirigida pelo Padre Climério Chaves. Com a criação do O Nordeste (1922,) por Monsenhor
Tabosa para a Diocese, o Correio do Ceará tornou-se mais imparcial e fiel ao
jornalismo. Já as receitas não partiam da exclusividade das vendas dos jornais, pois o dono possuía rendas dos Estabelecimentos Gráficos A. C. Mendes.
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Cônego Climério Chaves |
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1960. Jornal na rua Senador Pompeu |
Nos anos 1920,
Fortaleza contava com alguns jornais combativos como Correio do Ceará, O Ceará (de
J. Matos Ibiapina), O Nordeste (dirigido por Andrade Furtado), Gazeta de
Notícias (de Antônio Drummond) e O Povo (de Demócrito Rocha). Dentro dessa
linha, A. C. Mendes fez várias denúncias, mas uma delas tornou-se foco de
atenção dos cearenses, digno de debates acalorados. Após publicar relatos sobre
desvios de verbas da Inspetoria Federal de Obras Contra Secas (IFOCS),
envolvendo personalidades como Pompeu Sobrinho, acabou preso no dia 27 de julho
de 1926, durante o governo de Artur Bernardes. O STF o impôs uma pena de seis
meses, das quais a metade foi cumprida, mais pagamento de multa de dois mil
réis, em vista às apelações jurídicas e populares. Parecia que toda a cidade o
acompanhou desde a sede do jornal, na Rua Conde D’Eu, 183, ao então quartel do
23° BC, na Av. Alberto Nepomuceno. A multidão lembrava a inauguração da estatua
de D. Pedro II, em 1913, quando todo o largo da Sé foi tomado por curiosos.
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1926. Prisão de A. C. Mendes (Arquivo Nirez. Gentileza Fortaleza Nobre) |
No estilo austero, era o mais popular, fruto de um trabalho empresarial definido, da redação à oficina com código de disciplina e política salarial, respeitando a ordem previdencial e consequentemente os direitos e deveres dos empregados. E para tal, Álvaro Mendes e H. Firmeza muitas vezes faziam concursos para atrair bons profissionais
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Primeira edição pelos
Diários, em 1937 |
O Correio do Ceará
acabou vendido aos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, em 1937, logo
após a criação de um concorrente, O Estado, de José Martins Rodrigues. Muita
expectativa por se tratar de um ano eleitoral, marcado pelo Estado Novo, que
culminou com um regime ditatorial a partir de novembro. Nem por isso a redação
do jornal se recolheu. Com a direção de João Calmon e circulando de segunda à
sexta-feira à tarde (às 15 horas em ponto) e sábado pela manhã, manteve as suas editorias independentes,
com grandes colunistas, valorização do esporte e da cultura cearense. Durante
o Estado Novo, nos anos 40, combateu o regime autoritário, porém, durante a
ditadura de 1964, sob direção de Eduardo Campos, apoiou o regime militar.
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H. Firmeza, "Príncipe dos Jornalistas
do Ceará". Revisava todo o jornal |
Os Diários Associados
passavam a contar com três jornais: Correio do Ceará, Unitário e Gazeta de Notícias, sucessos em retorno financeiro, numa época de paixão pela leitura e pela
comunicação. Então vieram a aquisição da Ceará Rádio Clube, e, em 1960, a
revolucionária TV Ceará, Canal 2. Destaques da imprensa, que militaram
naquele jornal, Hermenegildo Firmeza (H. Firmeza), João Calmon, Eduardo Campos, Antônio Moreira de Albuquerque, Antônio Carlos
Campos de Oliveira, Blanchard Girão, Fernando Sátiro, Felizardo Montalverne, Geraldo Oliveira
(fotógrafo), Vieira Queiroz (fotógrafo), J. Ciro Saraiva, Teixeira Cruz, Boaneges Facó, Antonio Soares e Silva, Raimundo Guilherme, Nery Camello, Luiz Bezerra, Hildebrando Espínola, Colombo Sá, Pádua Campos, Teobaldo Landim, Luciano Diógenes,
Milano Lopes, Juarez Timóteo, Roberto Vasconcelos, Adauto Gondim, José Olívio (gráfico), Francisco Soares de Medeiros, Severino Palácio e Geraldo Nobre, este um dos
maiores amantes do jornal. Contava que, ainda jovem, aguardava o vizinho ler o
Correio para pedir emprestado, às segundas feiras, quando o mesmo
saía com o
resumo da semana anterior.
Em 1965, em comemoração ao seu centenário, saiu com quatro
edições especiais, sendo que a Associação Cearense de Imprensa promoveu o Curso
Livre de Jornalismo. Em 1980 o jornal passaria a Venelouis Xavier Pereira, tendo Colombo Sá seu editor. Não duraria mais que dois anos, porém com magistral número de
19.962 edições.
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1960. Jornal se antecipa ao rompimento de parede do Orós |
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Fotos e consulta: Correio do Ceará