quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Fortaleza 1941 - No Chão o Quarteirão do Emygdio

A Ação que a História Condena



Joaquim Emygdio
Joaquim Emygdio de Castro e Silva destacou-se como um célebre e respeitado comerciante cearense. Pioneiro no setor fotográfico cearense ao lado de Ademar Albuquerque, foi proprietário da Fotografia Americana, representante da Kodak, cuja propriedade transferiu para Inácio Parente, seu ex colaborador que montou a Casa Parente. Mas foi no ponto coração da cidade onde instalou uma Loja de tecidos e de miudeza, que funcionou de 1883 a 1921, quando faleceu. Seus filhos deram continuidade, denominando a casa de Café Emygdio até a sua demolição, por imposição da prefeitura, no dia 4 de agosto de 1941. A pretensão do chefe da municipalidade, Raimundo Araripe, não foi adiante. Mas se o prédio não foi construído na Aldeota, conforme projeto anterior, nem na Praça do Ferreira, foram-se abaixo os prédios históricos da valorizada área norte do mais importante logradouro da cidade. Do que lemos nos deslumbramos com os sonhos de então, pessoas e imprensa alimentando a queda de um pedaço da história em nome da modernidade. Somente em 26 de agosto de 1939, naquele espaço, foi inaugurado o centro comercial Abrigo Central, que funcionou até 1966.




O Povo, 5 de agosto de 1941


O Prédio da Prefeitura será Construído à Praça do Ferreira - A História da Loja e do Café Emídio


 Vai desaparecer um aspecto dos mais populares de Fortaleza: o quarteirão situado entre o lado norte da Praça do Ferreira e a Travessa Pará. A Municipalidade vai demolir aqueles prédios centenários, de sua propriedade, para, em seu lugar, construir o Palácio da Prefeitura. O Povo foi parte na execução desse problema urbano porque, batendo-se contra a nova localização do novo edifício da Prefeitura no Bairro da Aldeiota, viu, mais uma vez, seus esforços coroados de êxito, quando o dr. Raimundo de Alencar Araripe abandonou aquela ideia e deliberou construir, à Praça do Ferreira, a sede municipal. O quarteirão mais central da cidade ser demolido. Bendita a picareta que lhe der o primeiro golpe e que ela possa despertar, nos homens que nos governam, energias para novas e mais várias demolições centrais.


A Velha Intendência



 Entre os prédios a serem abatidos figura o sobrado da antiga Intendência, onde também funcionaram, por longos anos, o Tribunal do Júri e a Sala de Audiências. Foi ali, naquele Tribunal, que se inaugurou a imagem de Cristo no Júri.


Opiniões Contrárias


Há quem julgue errônea a escolha. Há quem sugira que a sede municipal não deveria erguer-se em ponto tão comercial, porque não oferece a área térrea indispensável às várias seções da Prefeitura e ainda porque o local, com seus mil atrativos, poderá desviar a atenção funcional dos empregados burocráticos da municipalidade.


Uma Sugestão


 Não deixa de haver procedência nesses reparos, notadamente no que toca a diminuta superfície do terreno. Esse inconveniente poderia, no entanto, ser afastado se, gastando mais uns dois mil contos, a Prefeitura desapropriasse alguns prédios da rua Floriano Peixoto e Major Facundo, fazendo desaparecer a Travessa Pará e criando um pequeno largo ao norte do futuro edifício.


 O Café Emygdio



Uma das casas mais populares do quarteirão a ser demolido é, sem dúvida, a da esquina da Praça do Ferreira com a rua Major Facundo, onde até ontem funcionou o Café Emygdio, fundado em 1921. Sua história, porém, recua para 1893, e por isso O Povo achou oportuno marcar esta oportunidade com o registro de algo histórico sobre a casa comercial mais antiga do quarteirão que vai desaparecer, ou seja, a Loja Emygdio. Fomos ouvir os senhores José e Estevam Emygdio, gêmeos, proprietários do Café. “Foi com extrema saudade que ontem fechamos o café. Aquela casa tinha para nós um outro valor, além do valor comercial. Foi ali onde trabalhou, desde 1893, o nosso sempre lembrado pai, Joaquim Emygdio, com a loja de fazendas e miudezas que durou 28 anos, ou seja, até o fim da vida do fundador”.



Famosa esquina do Emygdio (Foto O Povo)


Essas primeiras palavras dos dois rapazes despertaram, na lembrança do redator do O Povo, a figura respeitável e circunspecta de Joaquim Emygdio de Castro na direção da sua loja, que era uma espécie de Livraria Garnier ou da atual Livraria José Olímpio, no Rio: um ponto de reunião da elite política e intelectual de Fortaleza. Foi ali que nós conhecemos os secretários de governo do Comendador Acioli e do coronel Franco Rabelo. Essa função da Loja Emygdio jamais perturbou os negócios internos porque Joaquim mantinha um severo equilíbrio em suas relações, sendo a casa neutra em política e filosofia. Ali reinava um ambiente de “bureau” diplomático, onde não podia haver choques, e onde as idiossincrasias ficavam amortecidas pela discreta atitude do “mestre de cerimônias”.


 Continuam os irmãos Emygdio: “Nosso pai foi um homem que mereceu um culto filial. O seu conceito nos acompanha, como incentivo, através das amizades que ele deixou no comércio e na sociedade. É raro o dia em que os mais velhos não nos dizem algo relativo a Joaquim Emygdio de Castro ou não nos repetem episódios de sua vida, como frases anunciadas. Tudo isso alimenta em nosso espírito o fervor com que seguimos a trilha que ele soube traçar-nos. Durante os 28 anos em que dirigiu a Loja Emygdio foi um mestre de caracteres. E é, com vaidosa alegria, que ainda hoje encontramos pessoas que com ele trabalharam, entre os quais os srs. Ludgero Garcia, Francisco Hildebrando, Deocleciano Freitas, José Jucá (Jucazinho), Antonio Carvalho Rocha, Luiz Carvalho Rocha, hoje figura de relevo. Júlio Rodrigues, atual diretor do Banco de Crédito Comercial, foi um dos últimos auxiliares e com ele trabalhou cinco anos. Segundo Júlio, deve a sua formação moral às lições que recebeu do nosso pai, testemunhando visitas de várias pessoas que iam pedir conselhos a ele, fiadas em seu crédito, sua experiência e no acerto de seus juízos. Sentimo-nos, portanto, orgulhosos do conceito que nosso pai desfrutou na sociedade em que viveu e na solidez das amizades sinceras que ele deixou e que nos ajudam a fazer esta justiça à sua memória. As palavras que José Júlio sempre nos reproduz fazem muito bem ao nosso espírito, porque elas procedem de um homem de bem, caráter íntegro e que soube valorizar a influência do nosso pai sobre os que com ele trabalharam”.


Rua Major Facundo e o Café Emygdio em 1923. (Foto Lopes)



Os dois Emygdio falavam com sensibilidade e O Povo não quis prolongar as evocações. Mas esta página fica, para registro desta mudança, no livro da cidade. Vai desaparecer o velho quarteirão central. As picaretas vão começar as demolições. Mas o historiador encontrará, mais tarde, estes apontamentos em que se recorda uma figura humana que, por um quarto de século, construiu um aspecto moral naquele local que desaparecerá. (Jornal O Povo)



quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Trairi CE - Padre Irineu Limaverde

 Breve Biografia



Nasceu na comunidade de Fábrica, no Crato, em 6 de janeiro de 1906, tendo como pais Antônio José Soares e Maria Limaverde Soares. Foi batizado a 4 de abril daquele ano pelo Pe. Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva. Estudou no Seminário São José, na sua cidade, e, no segundo ano, Teologia no Seminário da Prainha, em Fortaleza (1933), ordenando-se no dia 6 de dezembro de 1936 na capela de Santa Conceição, em Santa Fé, na Serra do Araripe, no Crato. No mesmo ano foi indicado e tomou posse como vigário de Areias (atual Tabuleiro do Norte) em 3 de janeiro de 1937. Um ano depois, em 16 de janeiro, assumiu a paróquia de Nossa Senhora de Boa Viagem, na qual não demorou, uma vez chamado para a Freguesia de Trairi, Nossa Senhora do Livramento, onde tomou posse em 6 de março de 1938. Em 31 de janeiro de 1943 assumiu em Aracoiaba e em 14 de fevereiro de 1946 a famosa São José do Ribamar, em Aquiraz.  No mesmo ano retornou a Trairi, onde permaneceu até 17 de fevereiro do 1952. Faleceu no Crato no dia 27 de abril de 1985, aos 79 anos.



 Pe. Limaverde conforme a Historiadora.


 Para a Professora Maria Pia de Salles, Pe. Irineu Limaverde Soares “desenvolveu um trabalho social muito bonito. Formado em Farmácia, ensinou remédios e salvou muitas vidas. Durante os partos preparou Joaninha Mota, a qual tornou-se nossa parteira durante muitos anos. Promoveu as construções das capelas do Gengibre, Estrela e Córrego dos Furtados, iniciando as obras da capela de São Pedro, em Flecheiras”. Na segunda passagem “continuou seu apostolado de fazer o bem aos pobres. Tinha especial cuidado com os agricultores pais de família, arranjando-lhes trabalho nos tempos difíceis. Na parte espiritual, impulsionou a Associação das Filhas de Maria, da qual era diretor, as Cruzadinhas e Catequistas”.  (História da Minha Terra - Gráfica LCR, 1999)




Ata da segunda posse.


Ata de Posse do Revmo Padre Irineu Limaverde na Paróquia de Trairi (segunda vez).


 Aos vinte de junho de mil novecentos e quarenta e seis, dia de Corpus Christi, pelas nove horas, a estação da missa  paroquial procede a leitura da Provisão do Exmo Sr. Arcebispo, D. Antônio de Almeida Lustosa, datada de dezesseis de maio de ano em curso, e assim tomei posse desta Freguesia de Trairi perante as testemunhas abaixo e crescido número de fiéis. E para constar, lavrei a presente ata que assino com as testemunhas.

                                                                               Trairi, 20 de junho de 1946

                                     

                                                                                      Pe. Irineu Limaverde

                                                                                    Antônio Joaquim Barbosa

                                                                                     Raimundo Arlindo Araújo





Pe. Irineu anuncia a visita de D. Almeida Lustosa em 1946.



No próximo mês de outubro, o Exmo Arcebispo D. Antônio de Almeida Lustosa fará a Visita Pastoral a esta Paróquia de Trairi. Espero que todos os paroquianos saibam dar a esta Visita a importância que ela tem. A Bondade Divina se serve sempre destas Visitas para derramar graças abundantes sobre todos os de boa vontade. Procure todos ouvir a palavra de Deus e receber os Santos Sacramentos. Evitem as diversões profanas, sobretudo nos dias da Visita.

 

Itinerário da Visita Pastoral:


 8 de outubro: Chegada em Curral Grande.
9 e 10 de outubro: Permanência em Curral Grande.
11 de outubro: Partida de Curral Grande.
11 de outubro: Chegada em Monte Alverne.
12 e 13 de outubro: Permanência em Monte Alverne.
14 de outubro: Partida de Monte Alverne.
14 de outubro: Chegada a Lagoinha.
15 e 16 de outubro: Permanência e Lagoinha.
17 de outubro: Partida de Lagoinha.
17 de outubro: Chegada a Trairi.
18, 19 e 20 de outubro: Permanência em Trairi.
21 de outubro: Partida de Trairi.
21 de outubro: Chegada a Lavagem.
22 e 23 de outubro: Permanência em Lavagem.
24 de outubro: Partida de Lavagem
24 de outubro: Chegada a Mundaú.
25 e 26: Permanência em Mundaú.
27 de Outubro: Partida de Mundaú.


                                                             Trairi, 23 de setembro de 1946
                                                             Pe. Irineu Limaverde (Vigário)



Nota do Blog: Curral Grande, de N. Sra da Conceição, entre Paraipaba e Paracuru, terra origem do Cel. Antônio Barroso de Souza, primeiro administrador de Trairi. Foi-se com as enchentes do Rio Curu. II: Monte Alverne, sucessora de Passagem do Tigre, a velha Paraipaba tomada pelas águas do Rio Curu. III: Lagoinha, atual praia de Lagoinha (Paraipaba), que pertenceu a Trairi.  IV: Lavagem, atual distrito de Canaan.




domingo, 8 de outubro de 2017

Instituto Tonny Ítalo. Outubro 2017. Pelas Crianças e Pela Vida

Ação Social, dentro da programação do mês, que inclui o Outubro Rosa e o Dia da Criança.




Cristo nos saúda.


8 de outubro de 2017. Enquanto escrevemos estas linhas direcionadas à vida, lemos a notícia da execução de quatro jovens, incluindo um menor de 14 anos, dentro de uma residência, em Fortaleza. Um contraste com o que presenciamos em Itaitinga, em mais uma Ação Social do Instituto Tonny Ítalo. Numa manhã mágica, a alegria, socialização entre a criançada, distribuição de risos, contentamento nas faces das criaturas em quem apostamos o nosso futuro. À tarde, porém, a ganância e o ódio, diante da estúpida disputa entre facções criminosas, levam não apenas os sonhos de meninos como destroem famílias, fecham caminhos, lares, e nos faz interrogar, atônitos, sobre a ferida que nos incomoda: o medo.


Voluntários da Fé, Esperança e da Alegria





InsTI, Mulheres no Fisco e Voluntários da Alegria juntos.

A novidade foi a parceria com a associação estreante Voluntários da Alegria, que ao longo de um mês trabalhou de maneira harmônica com a comunidade do entorno do InsTI, resultando numa primorosa tarefa de serviço coletivo e solidária. Em número considerável, envolveu-se no projeto, contactando as famílias carentes e arregimentando apoios, o que robusteceu a quantidade de brindes e atividades de apoio. Dela surgiu o incremento do parque de diversões, pula-pulas, carrinho de pipoca e algodão doce (Brink Eventu´s), além da concorrida piscina de bolinhas (Laurin’s Buffet, coordenado pelo jovem Natanael). As crianças mais uma vez mostraram organização pela paciência nas filas e a certeza que na sua vez a alegria redobraria.


Tamires Lucas e seu algodão doce.
Notamos esse contentamento logo que conhecemos o casal fundador da associação, Luciano e Leny Costa. Otimistas, em todos os momentos, dias e noites, nos informavam os andamentos da organização, discutindo as divisões de tarefas, fato que nos aliviou as tensões, já que o InsTI foi surpreendido pela ausência de um forte apoiador. Teve papel primordial no trabalho braçal da remoção do mato nas laterais do sítio, primeiramente com a presença quase diária do Irmão Cleudo, e já na semana da Ação das Crianças a ajuda inestimável dos amigos Marcão, Airton, Lucas, Kleison, Cleudo, Renato, Marcelo, Nem e Luciano, lembrando que o último vestiu-se até de Homem Aranha para conclamar os vizinhos para o ato, estando conosco, com mulher e filho, decorando os ambientes, até três horas deste dia de domingo. A todos dos Voluntários da Alegria a nossa gratidão, na certeza de que foi o primeiro de vários eventos ao nosso lado: Sayara, Renato, Silvia, Francisca, Eliúde, Leide, Priscila, Desirée, Mônica, Nicole, Pedro, Taty e Geisyane.


 Os Espaços do InsTI





A amiga Zélia e o casal Ednard e Ivete Lima tomaram frente com a prática religiosa Reiki. Foi mais uma novidade do Espaço Holístico, que atrai cada vez mais pessoas. A diretora (Ivete) fez-se voz ao microfone para informar que esse exemplo de religiosidade e espiritualidade, com mais de cinco mil anos, baseia-se na busca da energia vital para o tratamento do ser como um todo. Interessante o local reservado à meditação, recuado e fechado, captando energias diante da concentração e fé em busca da cura espiritual, mental, emocional e do corpo. Foi o último dos espaços InsTI a concluir os trabalhos.

 No Espaço Justo, os advogados Letice Barreto e Thiago Portela, ambos com especialidades em Direito Penal e Administrativo, respectivamente, atenderam a vários pais e acompanhantes. Após conversas demoradas, notava-se nos semblantes dos “clientes” a alegria da boa orientação assistida.




Glaucinha e João Rodrigues. Espaço Vida.



Os irmãos João Rodrigues e Gláucia Maria, apoiados por Mário Fellipe, Sammy e equipe dos Voluntários da Alegria tiveram um trabalhão. Fila extensa de miúdos querendo ter a cara pintada como um coelho, gato, um animal qualquer, afinal eles sentem que a arte está na curiosidade de se sentir como outro ser, porque o humano não é nada diante de um mundo de sonhos e fantasias,  nascem com a noção de que todos são iguais e tudo é admirável.


Espaço Saúde
Outra que teve um trabalhão foi a Gardênia, da Cafaz, no Espaço Saúde. Atenção e consciência ao medir os seus índices de saúde. Por lá passou a Coordenação Mulheres do Fisco, que usa como símbolo o laço que remete à luta mundial pela prevenção ao câncer de mama, fazendo orientações em torno do assunto, e seguida falando em rodas de conversas com as mulheres. Mulheres no Fisco, com Gláucia Lima, Zenilse Rebouças, Glauba Rocha, Darcy Lima, Alexandrina Mota, Sulling Lima, entre muitas companheiras, chamais abandonaram a luta pelas mulheres em todos os sentidos, e isso vem de bem antes do advento do Instituto Tonny Ítalo.


 
Espaço Holístico


Cenas de Teatro




Tia Vera. Fantástica.


Os shows encantaram o público. A professora Vera Camelo foi a primeira a se apresentar, com os seu companheiro violão, juntando-se ao público com a sua arte criativa cada vez mais profissional. Recentemente lançou um livro-cd em parceria com a nossa presidenta Gláucia Lima, mas para esta participação incorporou-se ao teatro e simplesmente fez a criançada participar. Após Tia Vera, os rapazes do Palhaços Urbanos, que também encenaram de forma profissional. Surgido em 5 de setembro de 2014, veio da Academia do Riso, ou seja, do teatro, da iniciação à palhaçaria. Fruto de encontros evangélicos, é formado por Samuel “Xilito”, Daniel “Murici Espoca Bucho” e Nick, ou melhor, “Nico Coxinha”. Todos adoraram.



Palhaços Urbanos.



Cenas pela Vida


  Assim foi mais uma Ação Social do InsTI. Sua sede nunca esteve tão rica em presenças humanas e em luz. As dificuldades financeiras não são limites para se estabelecer a causa do bem. Vendo-se tamanha harmonia entre os colaboradores entende-se que os contratempos são perfeitamente controlados, desde que não se afaste da fé. E assim, nesta manhã lembramos das tardes solitárias no Sítio Recreação, do silêncio cortado pelos gritos dos saguis. Neste dia o grito foi de alegria, grito de encanto, de felicidades e até, para alguns, de um sonho, por estar dentro de um pula-pula, de estar vendo palhaços, de estar com boca suja de comida, um grito que supera a dor da morte, da violência, porque Deus está conosco em todos os momentos. E Ele continuará nos iluminando, para juntos evitarmos a perdição maior, a falta de amor.

                                                                                     Texto e Fotos: J. Lucas Jr




  




quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Parque da Liberdade - A Praça Que Veio do Sertão


 Uma Fortaleza Menina




O amor em forma de educação (O Estado)



 Uma pequena cidade de 35 mil habitantes, lá nos tempos distantes da metade do século XIX, que crescia às margens de um riacho. Sem infraestrutura, com um comércio em torno de uma praça de areia e de duas igrejas. Assim era Fortaleza por volta de 1850, com o córrego do Pajeú descendo do “Oiteiro” (Outeiro, Aldeota) com suas curvas, a Praça Municipal (do Ferreira) e as Igrejas do Rosário e de São José (Sé). Muita criação animal para alimentar o povo, praticamente sem fiscalização, mas para tal precisava de água doce, que não fosse do corrente que passava límpido nos quintais das casinhas, por isso a necessidade de uma lagoa “mais distante”.

 No final da Rua do Cajueiro, atual General Bezerril, pelo lado sul da cidade de então, havia currais e chiqueiros onde os animais se alojavam, debaixo de cajueiros, antes do abatimento,  e ali mesmo o seu comércio, em meio ao matagal. Uma dessas árvores era tão majestosa que emprestava o nome à rua. Sob ela trabalhava o marchante Fagundes, que morava ao seu lado. Conta-se que, passando por ali, a cavalo, o capitão-mor Luiz da Motta Feo e Torres, caiu seu chapéu, e exigiu que Fagundes o entregasse. O açougueiro sequer o respondeu. Como vingança, o governador tentou por duas vezes derrubar o cajueiro, traído pela solidariedade recebida pelo outro. Colegas de corte e demais comerciantes se armaram para defender a árvore. E assim o cajueiro manteve-se imponente.

Certa vez, ocorreu que, como animal tem sentimento, um garrote tratou de fugir na noite que antecedia à sua morte, embrenhando-se na mata. Somente muitas horas depois foi recapturado, o que lhe valeu, pelo menos, o nome do logradouro: Lagoa do Garrote. Nascia o "bairro" Alagoa do Garrote. 

Lagoa do Garrote - A Rainha do Nosso Parque



Gov. Liberato Barroso, prefeito Cassimiro Montenegro,
Dr. João Guilherme Studart, entre outros. (O Malho, 1915)
 O crescimento populacional de Fortaleza associava-se mais às secas, que levavam para a sua periferia os flagelados, povo sem instrução, letras e noção de destino, mas disposto a trabalhar para garantir um pouco de sustento. Todos careciam do líquido precioso, ainda que sem tratamento específico, daí a necessidade de criação de poços para o consumo, como chafarizes, servindo como alternativa às ausências e competitividade frente à excelência da Cacimba do Povo, de Jacarecanga, a do Beco do Cacimbão (que ainda se encontra na Praça do Ferreira) e o da bica, ambos no lado velho da cidade, prestativos para todas as necessidades. Foi quando, em 1848, providenciaram um cacimbão no Largo do Palácio (da Luz), isso bem depois do “Açude do Garrote”, construído por José Martiniano de Alencar quando presidente da província (1834 - 1837). Segundo Artur Eduardo Benevides, que foi Príncipe dos Poetas, a cidade contava com um rio tributário desaparecido por conta dos aterros. Nascia na Praça Clóvis Beviláqua, cortava as ruas a partir da Senador Pompeu até desembocar no Garrote. Ja a outra vazão vinha do velho Marajaik (Pajeú) a partir do Outeiro (Aldeota).

 Porém, já naquele ano a nossa lagoa, usada também para banhos do povo, muitas vezes sem roupas, já não era tão acolhida, estando suja e imprópria ao consumo humano. O presidente Fausto Augusto de Aguiar fez a solicitação de construção de um cacimbão no Garrote, então “de água pantanosa”, a qual abastecia a cidade, e outro no Campo da Pólvora (Praça dos Mártires) por 88$280 réis. Os jornais liberais, de oposição, não perdoavam, fazendo cobranças, como lemos em O Cearense de 20 abril 1848: “Lamentamos que continue a população desta cidade a servir-se da lagoa pantanosa do Garrote, e se não tenham podido ainda realizar as ordens do presidente sobre o melhoramento das cacimbas. A lagoa que bebe o povo não é objeto de pouca monta, como alguém pensa, as febres gástricas estão continuando, e podem ser atribuídas à má qualidade da água. Portanto, é mister cuidar seriamente disso”. Providenciou-se 60$000 réis a Luiz de França Tavares para os cinco serventes que construíram as duas cacimbas no Garrote.



Como Parque da Independência em 1935 (Foto Manoel Guilherme)


 Mesmo diante dos perigos de contaminação, por décadas as feiras de porco, carneiro, peru e hortaliças se estabeleceram no local. Mas diante das denúncias de infestação de doenças causadas pela poluição da lagoa, no início de 1861 o Dr. Joaquim Antônio Alves Ribeiro foi contratado pela província, constatando que nas águas verdes claras e fedorentas existiam matérias estranhas “levadas pelos ventos”, e pelo microscópio verificou-se quantidade enorme de corpúsculos vivos e mortos que povoavam aquele ambiente. Temperatura elevada de 25°C. O jornal O Cearense recomendou à municipalidade “a remoção de mananciais, rasgando o sangradouro até o nível fundo, jogando cal vivo e enxugando para matar as espécies de animais microscópicos que ali se desenvolveram”.



1938. Linda imagem de J. A. Vieira

 Em maio de 1861, parecer do Dr. Ribeiro assim respondeu à pergunta do presidente da província, Manuel Antônio Pinto Duarte de Azevedo: “As águas estagnadas do açude do “Pageú” podem prejudicar o estado sanitário da capital incontestavelmente. O estado atualmente arruinado das suas águas é prejudicial à salubridade pública. Os exames cuidadosamente feitos indicam que convém fazer nesta conjuntura para não privar o publico da utilidade que o açude presta, e torná-lo de maneira que suas águas estagnadas não sejam prejudicadas por meio de suas emanações à salubridade pública. Aproveito a oportunidade para também dizer o meu pensamento relativamente à existência da Lagoa do Garrote porque as suas águas se acham ainda e piores condições do que as do açude, e como tenho estudado ambas localidades, julgo mui conveniente unir a este parecer as minhas ideias relativas ao estado atual, visto que as águas estagnadas da dita lagoa também influem sobre a salubridade pública, e por isto também precisam de remédio”.

  8 de julho de 1862. Ofício da Câmara ao Exmo Presidente: “A Lagoa do Garrote está sendo hoje lugar de despejo de imundícies, de sorte que a água exala um fétido extraordinário, que não pode deixar de resultar em grande mal para esta cidade na quadra presente. Portanto, pede esta câmara a V. Exc. para que tomando este negócio em consideração, dê suas providências para que seja desinfetado aquele lugar, aterrando-se ou esgotando-se a dita lagoa”.  Conclui-se que tanto o Pajeú como a Lagoa do Garrote estavam contaminadas, estando as suas águas não recomendadas para o consumo. Porém, nada de respostas das autoridades.

  Em 1 de agosto de 1865 foi regulamentado o serviço de limpeza do centro histórico, aos cuidados do fiscal Joaquim de Macedo Maciel, estando aquele logradouro agendado para as sextas feiras. Naquela época, do seu lado sul, existia um terreno mais valorizado que o da lagoa, onde se erguia a Capela de Nossa Senhora das Dores, para a qual a Assembleia Provincial aprovou a doação de 1:000$000 (um conto de réis), inaugurada dois anos após. Na Praça da Liberdade, exatamente no mesmo local em que surgiu, em 25 de março de 1886, a Igreja do Coração de Jesus.

 José Júlio de Albuquerque Barros, presidente da província, mandou arborizar a praça, assim como a Figueira de Melo, a Boulevard Duque de Caxias e a Conde D’Eu em 1880, ano em que , naquele largo, construiu-se um prédio para guardar equipamentos militares aos cuidados do alferes Berlamino Accioly de Vasconcelos.


  Parque da Liberdade pelas Mãos de Trabalhadores Famintos


 O paulista Caio Prado assumiu o governo cearense (1888 - 1889) decidido a valorizar a Lagoa do Garrote, tornando-a um centro de lazer para os fortalezenses. Em termos financeiros deveria se preocupar com os fornecedores e com algumas desapropriações, afinal mão de obra barata não faltava. Tratava-se de mais uma época de seca, a nona apenas naquele século de um total de onze. Não foi tão cruel quanto a de 1877 - 1881, o que não impediu uma nova “invasão” da capital por retirantes, seja a pé, seja sobre animais ou nos vagões da Estrada de Ferro Baturité (EFB). Muitos, infelizmente, não chegaram ao destino. Numa atitude mais política que humana, as autoridades indicaram cem desses flagelados para dar início aos serviços. O crítico O Cearense protestou, pedindo mais trabalhadores em obras públicas tendo em vista a gravidade social, com pessoas morrendo de fome, em detrimento dos enormes gastos. Caio Prado duplicou esse número, porém, em julho de 1889, atrasou os pagamentos de modo que em agosto um operário morreu por falta de alimentação. Os liberais encamparam, então, uma série de denúncias contra o presidente. Passaram a chamar a obra de Largo dos Escândalos.


Cartão Aba Film (1937)
Veio o período republicano e tomou posse o primeiro governante da era, o tenente-coronel Luís Antônio Ferraz, ao qual os liberais esperavam em vão se aliar. Coronel Ferraz acabou inaugurando o Parque da Liberdade, outrora Lagoa do Garrote, que a partir de 16 de abril projetou-se como Largo da Liberdade, no dia 13 de maio de 1890. Homenageava a data de libertação dos escravos no Brasil (1888). O responsável pelas obras foi o engenheiro militar Dr. Romualdo de Barros, diretor de Obras de Socorro de Fortaleza. Ele construiu no lago tanques para armazenar água enviada de uma cacimba; edificou um coreto, assentos de bancos de madeira e, ao longo das alamedas, combustores para iluminação, aproveitando a pequena ilha para edificar um templo dedicado a Cupido, Deus do Amor, simbolizado da imagem de uma criança com asa, munida de arco e flecha.

Às 9 horas, ao som da banda do Corpo de Segurança Pública, o inédito parque, um magnífico lugar voltado para diversões decorado com bandeiras, com balanços e trapézios, foi entregue diante de uma multidão. À tardinha, das 17 horas às 19 horas, novamente a banda de música, agora para dançantes.





Postal dos Anos 1920






1890: o primeiro café 
 Na ocasião, o industrial José Borges Gurjão presenteou o complexo com um canindé e uma arara para a coleção de aves ali existentes, como um pavão de bela linhagem, dando origem ao único zoológico da cidade. Já o Comendador Francisco Coelho foi um dos indenizados por ceder terreno para a extensão do parque, que só seria concluído em 1902, com a construção do muro. Iniciava-se uma reurbanização do Centro, ao mesmo tempo em que em julho era inaugurado ao lado da lagoa o Café Cascata. Pertencente ao engenheiro Romualdo de Barros, contava com a atração de uma pequena orquestra, entre 17 e 20 horas, além de passeio de escaler e exercícios diversos, destacando-se o tiro-a-alvo. Obras de ajustes continuaram, como retiradas de casebres, e mais uma vez trabalhadores sofrendo com atrasos salariais.




As Bandas nas Praças


.Fortaleza contava com dois belos espaços para entretenimentos: a Praça dos Mártires e a Praça da Liberdade. Em  31 ago 1890, no Largo da Liberdade, a banda de música do Corpo de Segurança Pública tocou as seguintes peças:

I - Marcha: Progresso da República.
II - Dobrados.
III - Fantasia da Ópera Trovador.
IV - Sinfonia da Ópera O Guarani.
V - Aliser, a Grande Valsa.
VI - Valsa Gato Preto.
VII - Variação da Ópera Sonâmbula, no clarinete.
VIII - Polka.


Da mesma forma o 11° Batalhão de Infantaria, que, presente em outras ocasiões, brindou com “Valsa da Esperança”, “Valsa Paula Castro”, “Ermelinda Polka” e “Fantasia Moisés”.

O Povo Coçando a Cabeça


 No dia 31 de outubro de 1890, a Secretaria do Conselho de Intendência Municipal publicou polêmica resolução com mudanças radicais, como nomes de praças, entre as quais a Dr. José Júlio no lugar da Praça da Liberdade (Coração de Jesus). José Júlio Albuquerque, sobralense, antigo interventor federal. A Praça do Mercado, antiga Carolina (atual Waldemar Falcão) passou a José de Alencar; Marquez do Herval a do Patrocínio (atual José de Alencar), e a gloriosa Praça do Ferreira no lugar de Praça Municipal, outrora Pedro II, entre outras. Mas o interessante foi a alternativa encontrada para driblar as constantes alterações nos nomes dos logradouros. Conforme o Artigo 1°: “Fica suprimida a denominação existente das ruas da cidade e substituída por numeração pela forma assim denominada: da Rua Formosa (Br. Do Rio Branco) para o nascente todas as ruas serão ímpares, e para o poente pares”. Desse modo, a Rua Formosa passou a se chamar N° 1, a Major Facundo N° 3 e a Rua da Boa Vista (Floriano Peixoto) N° 5, assim como a Senador Pompeu N° 2 e General Sampaio/Visconde de Cahuype (Av. da Universidade) N° 4. Não vingou por muito tempo.


 Parque da Independência



Parque da Independência (Verdes Mares, 1932)

 Durante o governo de Justiniano de Serpa e do intendente (prefeito) Ildefonso Albano, em 7 de setembro de 1922, lembrando o centenário da independência, o Parque da Liberdade passou a se chamar Parque da Independência. O logradouro passou por remodelação, surgindo um novo aspecto do muro, do piso e do portão principal, onde foi fixada na entrada, sobre o mesmo, a imagem de bronze do índio se libertando, quebrando a corrente. Nos dias atuais o mesmo encontra-se rachado e sem um braço, infelizmente.



Festa da criançada em 1939 (Unitário)
 1934. O interventor federal Carneiro de Mendonça fez o projeto da Cidade da Criança, tendo o seu sucessor, Meneses Pimentel, professor de carreira, dotado verbas que a viabilizaram, sendo a sua instalação em 1936. Assim, no dia 26 de maio de 1937, o intendente Raymundo de Alencar Araripe e o interventor Meneses Pimentel, durante as comemorações pelos dois anos das suas administrações, inauguraram a Cidade da Criança, denominação criticada pelos saudosistas. Como novidades, quatro modernas construções, abrigando uma inovadora escola para crianças de 3 a 13 anos, iniciando com 150 alunos.

 Num pavilhão remodelado surgiram a biblioteca e a cantina, enquanto em outro os banheiros com chuvisco. No terceiro pavilhão ficou o Jardim de Infância, onde se ensinava canto, balé, penetrando no desenvolvimento das artes. Ao lado deles os parques de diversões com balanços e deslizadores. Lembrando também as inovações charmosas, como a Gruta dos Amores e a Gruta do Cupido. Aos cuidados da diretora Zilda Martins Rodrigues, educadora renomada, escritora, e esposa do advogado e jornalista José Martins Rodrigues, fundador do jornal O Estado. As professoras, como Isaura Araújo, Francisca Pedreira, Erzila Mendonça, Elizabeth Osório e Diva Moura, no entanto, já reclamavam do pequeno espaço dos prédios e de carências de materiais.

 No ano seguinte, Raymundo Alencar criou, segundo o Decreto 367 de 28 de janeiro, o Serviço de Educação Infantil, à frente o secretário Hugo Catunda, outra diretora, Alba Frota e de sua auxiliar Ailza Ferreira Costa, fortalecendo o ensino pedagógico com orientação sociológica e elevando a idade dos alunos até 15 anos. No Parque de Brinquedos, no complexo do Parque Recreio, foram adicionados olas, gangorras e deslizadores, além de serviço de vigilância a cargo de três mulheres. Em 1939 já contava com 409 alunos e expandia os jardins, dispondo de sala de projeções, ao passo que em 1940 foi inaugurado o restaurante. O período da tarde era voltado para práticas de lazer: futebol, voleibol, patinação, ping-pong e ciclismo, por exemplo, aos cuidados de outra equipe pedagoga. Curiosamente, raro na época, tratava-se de um esforço para levar às crianças não apenas o ensino escolar avançado, mas a convivência de seres de origem social pobre à mesma relação de convivência com as das melhores escolas particulares.



Aulas de balé na escolinha. (O Estado, 1949)


A Volta do Parque da Liberdade


 Em 1948, entretanto, a Lei 84, publicada em 22 de outubro, durante a gestão municipal de Acrísio Moreira da Rocha, restaurou-se a denominação Parque da Liberdade. Contudo, não tratou a contento da sua preservação. Somente na gestão municipal de Cordeiro Neto ocorreu o saneamento do lago e algumas melhorias. Anexou-se na Ilha do Cupido (ou dos Amores) uma imensa cruz de madeira, ajardinamento e a construção de um auditório para apresentações artísticas e visuais. O prefeito o reinaugurou no dia 20 de dezembro de 1961.


Cezar Telles, o restaurador, de quem sentimos falta. (Tribuna do Ceará, 1977)


 Numa realização aplaudida durante administração do prefeito Evandro Ayres de Moura, em 1977, ocorreu a restauração das imagens  comandada pelo escultor Augusto Cezar Telles Marinho. Diante dos sacrifícios, como subir uma escada de onze metros cedida pelo Corpo de Bombeiros, o artista honrou o seu talento, dando à imagem do índio a sua característica de origem, que embora verde foi decido pelo restaurador mudar para marrom. Assim o fez com o cupido, feito de mármore, com o arco e as asas; a criança Inocência, a mãe e o casal de crianças, fundidas em bronze, nas suas cores naturais, vindas de Milão, Itália.

Após a desativação da escola, funcionou no local a Fundação da Criança e da Família Cidadã (FUNCI), ligada à prefeitura, e atualmente comporta parte da Guarda Municipal. Em 2019, depois de bom período de obras, incluindo derrubada de parte do muro, concluiu-se uma nova drenagem. Aguardamos maior valorização daquele símbolo de Fortaleza, que ostenta, numa área de 26.717 metros quadrados. Ali reluz o carinho e a paixão do cearense, das vítimas das secas aos mais abastados. Carece, e urge, de exploração e de direitos voltados à sociedade.

                                                                                                         (J. Lucas Jr)


 Fontes: Jornais O Cearense, O Povo, O Estado e Tribuna do Ceará.



1938 com a velha Ig. do Coração de Jesus (Foto M. Guilherme)





Parque da Liberdade e Igreja do Sagrado Coração de Jesus, do livro "The State of Ceará" (Chicago 1893)


















































































































































quinta-feira, 8 de junho de 2017

Trairi CE - 1912 - Fiéis Pedem a Permanência de Pe. Romualdo


 
Pe. José Romualdo
Temos aqui a comprovação da paixão e fidelidade do meu povo à tradição religiosa católica. Um abaixo-assinado solicitando, em 1912, a permanência do vigário José Romualdo de Sousa na paróquia de Nossa Senhora do Livramento. Conforme a carta, a razão seria o trabalho social do religioso e o apego dos fiéis a ele ao ponto de a mesma evidenciar uma súplica, diante da dor e a desolação que traria a sua ausência. Vemos então o papel da Igreja na valorização da vida de um povo isolado, vivendo da agricultura e pesca de subsistência, com raro acesso ao estudo e à assistência social. A prática cristã, com a presença de um padre que confortasse as dificuldades, incorporando-se à coletividade, representava o alimento fortificante para a felicidade.



 Padre Romualdo inovava. Ia além da tarefa comum de um religioso, ensinando e trabalhando. Sublime mestre de obras, construiu com suas mãos os dois corredores do templo, ensinou teologia e música, levando alegria e entretenimento às comunidades. Sua obra fazia questão de anotar, e seu trabalho chegava ao conhecimento do bispo, como bem diz o texto: “Vossa Excelência sabe mais do que nós”. Dom Joaquim ouviu o povo e o querido vigário permaneceu mais três anos, cumprindo e concluindo “o que se achava no meio do caminho”. Em Trairi permaneceu de 8 de janeiro de 1904 a fevereiro de 1915. Infelizmente não foi possível segurá-lo. Dom Manoel o enviou para Soure, onde continuou a sua obra, a maior que se tem notícias, ali permanecendo por 33 anos, até o fim da vida. Sua estátua, em Caucaia, portanto, é uma prova do carinho dos fiéis.



Solicitação ao Bispo



 Nota-se a força de uma sociedade patriarcal, com a ausência das mulheres nos destinos das comunidades. Sequer direito a tal encaminhamento tiveram. Dos citados abaixo, embora constando seus nomes, muitos da lista não assinaram, por serem analfabetos das letras, mas ricos em conhecimentos da vida. Meu avô paterno, Joaquim Lucas Teixeira, presidente da Associação São Vicente de Paulo, tinha certos conhecimentos de escrita, mas não sei se trata-se da sua assinatura, assim como no caso dos meus tios-avôs maternos Machado de Souza, os Lulu do Jenipapeiro, todos praticantes fiéis, devotos fervorosos de Nossa Senhora do Livramento. 




Abaixo- Assinado

Eis a solicitação:


V. Exa e V. Revma, Sr. Bispo do Ceará.


 Nós, abaixo assinados, em nome de toda a Freguesia de Trahiry, entre sentimentos e necessidades, viemos à presença de Vossa Excelência suplicar humildemente a graça conservar o nosso virtuoso vigário, Pe. José Romualdo de Souza, nesta Freguesia, pois nos chegou a triste notícia da sua designação para a Freguesia de Soure. Ela deixou todo o povo em pranto, numa desolação sem consolo. Jamais podemos consentir essa separação, de grande prejuízo, um enlance fatal. Não acreditamos que V. Exa, bondoso que é, estimado por esse povo, descarregue sobre nós tão pesado golpe.

 V. Exa bem sabe o quanto ele tem feito em benefício desta terra, sabe também ele ter iniciado os trabalhos da Matriz que se acham em meio do caminho e não é possível ficar tudo assim depois de tantos sacrifícios e fadigas. Bem sabemos que virá outro substituto, porém talvez não terá a mesma prática administrativa dele, que é perfeitamente conhecedor mais do que outro da prática de construção, como V. Exa sabe mais do que nós. Nas mãos de V. Exa está não deixar pesar sobre nós a realidade cujo pensamento nos esmaga de dor.


 Certos de que um bondoso não poderá contestar tantos filhos, que o adoram eternamente, reconhecidos e gratos, nos asseguramos com toda a consideração e estima, esperamos ser atendidos por um gesto para o bem da própria religião.

     

                                                  Trahiry, 10 de agosto de 1912.


 Raymundo Nonato Ribeiro
 Francisco Januário da Silva
 João da Motta Leitão
 José Moreira Simões Granja
 Manoel Teixeira da Costa
 Fortunato Barroso
 Francisco Januário Simão
 Antônio Francisco Pereira
 João da Motta Filho
 Luiz Gonzaga do Nascimento
 Júlio Monteiro de Santiago
 Joaquim Barbosa Sobrinho
 Lourenço Barbosa Chaves
 Francisco Simão Rodrigues
 Francisco Vieira do Nascimento
 Silvano Tercio Barroso
 Raimundo Vieira do Nascimento
 Manoel Tolentino Chaves
 Antônio Tomé Reis
Francisco Rodrigues da Cunha
 Raimundo Lopes dos Santos
 Januário Rodrigues dos Santos
 Francisco Tolentino Chaves
 Francisco Tolentino Chaves Filho
 Manoel Barrozo de Oliveira
 Teodózio Augusto de Oliveira
 José Joaquim de Gouveia
 João Tolentino Chaves
 José Ayres Pinto
 Manoel Rodrigues dos Santos
 César Rodrigues dos Santos
 Galdino Lopes de Castro
 Raymundo Rodrigues dos Santos
 Firmino de Paiva Dias
 Raimundo José da Silva
 Alexandre Barboza Primo
 Antônio Monteiro de Santiago
 João Monteiro de Santiago
 Amâncio Monteiro de Santiago
 Aristides Galdino da Silva
 Manoel Furtado Teixeira
 Joaquim de Souza Machado
 Joaquim Lucas Teixeira
 José Francisco Pereira
 Raymundo Simões Granja
 Hermano Gordiano
Francisco de Castro Moura
 Francisco de Castro Filho
 Firmino José de Menezes
 Manoel Rodrigues da Costa
 Raimundo de Araújo Costa
 João Januário da Silva
 José Batista Ribeiro
 José Joaquim Bernardo
 Paulino Fernandes Braga
 Vicente Ferreira da Silva
 João Baptista Ribeiro
 Francisco Fernandes Braga
 Venâncio Rodrigues de Mello



Igreja de Nossa Senhora do Livramento (IBGE)


Fonte: Arquidiocese de Fortaleza.
 




domingo, 7 de maio de 2017

Belchior - Liberdade e Humanidade

Almanach Lucas Destaca Belchior


1988: "Não sou preso a nada, mas posso virar a mesa amanhã (DN)



26 de abril de 1981 . Fez o show de reinauguração do calçadão da Av. Beira Mar no anfiteatro Flávio Ponte, que era inaugurado pelo Grupo O Povo. Conforme publicação do O Povo, um show de três horas ao lado da banda Coração. (Foto O Povo)


Filantrópico


SP: apoio aos irmãos
do Ceará ( O Povo)
4 de setembro de 1983. De São Paulo, onde residia, anuncia engajamento na campanha de ajuda aos flagelados da seca no seu Estado, fazendo questão de ressaltar que não se tratava de ação assistencialista, embora fosse o foco do governo. Através da União de Nordestinos de SP, fez rápidas apresentações pela metrópole paulista, de modo que, em dezembro, entregou um cheque de CR$ 4,5 milhões à então primeira dama, Miriam Mota, à frente da Missão Asa Branca. Ele, que a convite do executivo estadual, cantou em jantar dos lojistas cearenses, tendo papel relevante na arrecadação total de CR$ 370 milhões até então. Portanto, financeiramente Belchior nada nos deve, partiu com créditos do seu trabalho e ajudas humanitárias. (Fotos O Povo)



Cheque nas mãos da primeira dama. (O Povo)


16 de fevereiro de 1985. 


`"Não curto esse lance de sucesso" (TC)
Em entrevista ao Caderno TC Dimensão, do Jornal Tribuna do Ceará, confirma ser uma pessoa que gosta de conversar, “viver a vida a cada instante”, mas acima de tudo da liberdade. Fala de uma Fortaleza bonita e provinciana, que recebeu uma cultura nova, inclusive referente à música. Se diz feliz em ter sido parceiro de todos os músicos locais, condenando a prática de “derrubar” o concorrente. “Não curto esse lance de sucesso e troco qualquer possibilidade nesse sentido. O fundamental é criar, inventar, ser um homem feliz. Nunca tive o sucesso como objetivo primário, muito pelo contrário. Acho que esse é um fator mais para o acidental. De qualquer maneira, a minha expectativa inicial era de que a minha música maior receptividade apenas junto a uma elite musical, mesmo porque as atitudes que assumi quando ainda morava aqui, como abandonar a família e ir trabalhar na televisão, fiz numa boa, com certo charme, inaugurando um estilo que passou para o meu trabalho. Gosto muito desse "finesse" do fazer, do sentir, e isso surpreende quem só conhece uma faceta do meu sucesso ”.

10 Anos de Carreira


28 de junho de 1985 . Recebe a concessão do título de Cidadão Honorário de Fortaleza pela Câmara Municipal de Fortaleza, conforme projeto do vereador Emanuel Teles. Naquele ano, o cantor participou de um evento no Hotel Samburá (Av. Beira Mar), organizado pelos amigos Cláudio Pereira e José Tarcísio, em comemoração aos “dez anos de carreira”, afinal, conforme o próprio, o sucesso de “Alucinação” (1975) foi a concretização do seu nome na música nacional. Não só fez um show no hotel, que inaugurava o bar “Velas e Ventos”, como conversou com a plateia. Alem desse, tocou em sua Sobral, pela data alusiva, e igualmente no ginásio Meton Vieira Vasconcelos (Náutico Atlético Cearense), em Fortaleza.


1985. Com Cláudio Pereira e José Tarcísio: 10 anos de sucesso.


 Disse ao O Povo do dia 28 de maio de 1985: “Se tivesse que apresentar um saldo destes dez anos de musical por parte de cearenses, eu diria que modernizamos a música nordestina e criamos uma música popular cearense, de caráter nacional. E alem de contribuirmos para o panorama nacional com uma música moderna, estabelecemos um fio evolutivo para a moderna música cearense dentro de um espírito de modernidade, de contemporaneidade, extrapolando qualquer limite regionalista. Na verdade, estamos fazendo uma música extremamente contemporânea na verdadeira acepção da palavra geral, universal. A briga, hoje, é para saber quem é mais ou menos moderno, mais ou menos participante do cenário musical. Isso justifica o fato de, nestes dez anos, as gravações de mais de cem discos, quase duas mil canções interpretadas e quatro milhões de discos copiados”

 “Posso virar a mesa amanhã”


 
1981. Com o seu povo na B. Mar ( O Povo)
Em 1988, lançando “Elogio à Loucura”, disse ao Diário do Nordeste: “No começo, a gente, que saiu do Ceará, tinha uma visão de grupo forte, era fundamental. Toda cidade que avança ao futuro precisa ter uma visão clara de todas as artes, mantendo raízes, mas sem ufanismos. Sou a favor da civilização e da cultura contra a barbárie. Estamos em pleno fim de século, mas ainda se toma atitude de caráter arcaico, medieval. No mundo musical, eu me proponho a fazer uma obra que tenha o sentido atual, algo parecido com a literatura de performance. Isso é um caminho em que a minha música conduza o meu discurso. É claro a minha formação cultural sirva para isso. Sou favorável ao individualismo, mas não sou preso a nada, convivo com qualquer pessoa de pensamento ou cultura, por isso vejo que, só no Brasil, não se respeita seus artistas, como estão fazendo com Cazuza. Se você observar meus discos, minhas canções, vai ver que sou o único do grupo que fez canções com todos os cearenses. É isso que faço hoje, mas posso virar a mesa amanhã”. (Diário do Nordeste)

 Fontes: Jornais O Povo, Tribuna do Ceará e Diário do Nordeste.