quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Narcélio Limaverde - 65 Anos de Rádio



Amor ao Rádio


Anos 1960. TV Ceará e o 
patrocínio da loja A Cruzeiro.
(Diários Associados)
“E Limaverde carregava na emoção quando descrevia os bondes lentos passando nas ruas calmas; um automóvel aqui e ali, as carroças, as charretes; os cabriolés conduzindo moças bonitas em passeio ou a caminho do colégio; as ruas de calçamento tosco ou mesmo de areia fina e solta; as casas fora do alinhamento e as calçadas em planos variados. E povoava as ruas, becos e vielas com poucas pessoas cruzando sem pressa; o silêncio quebrado pelos pregões de vendedores, como bem descrevia os vendedores de tapioca do Mucuripe”. Assim observou o memorialista Marciano Lopes a respeito de um certo Limaverde. Um locutor de rádio que buscava no passado o romantismo e carinho pela sua terra. 



 

De um microfone aos lares de milhares de cearenses, (José) Limaverde encantava as noites das segundas feiras, nos idos de 1940/50, pela PRE 9, a saudosa Ceará Rádio Clube, extinta. Tratava-se da adaptação da obra de Raymundo de Menezes, “Coisas que o Tempo Levou”, para a comunicação auditiva, uma audiência incontestável, compartilhada por outro programa, “A Hora da Saudade”, com o mesmo apresentador. Limaverde, um bancário do respeitado Frota & Gentil, um dos fundadores da Escola Dramática de Fortaleza, consagrada pela peça “O Mártir de Gólgota”, anualmente no Theatro José de Alencar, na qual o próprio interpretava Pôncio Pilatos.



Com os pais e a irmã, Reine (Foto Marciano Lopes)





O melhor de 1965

Dos três filhos com Dona Leda, Reine, Narcélio e Paulo, os dois homens se dedicaram ao mesmo ofício do pai. Porém, Narcélio encarnou uma paixão que orgulha a classe, afinal mantém a tarefa diária, um apaixonado pelo rádio. No dia 1 de fevereiro de 1954, na PRE 9 do seu pai, o futuro renomado locutor estreava. Muito jovem, passou no teste e trabalhou ao lado de Augusto Borges no programa “Segurança Marginal”. 65 anos de rádio, em várias emissoras, e em vida superados apenas por Augusto Borges, que parou no ano passado com o fim da Ceará Rádio Clube. Mas paralelo a isso, a labuta incluia a TV (Canal 2 e Canal 10) e jornais, destacando-se na Tribuna do Ceará com a coluna Dia a Dia, assim como funcionário da Teleceará. Um trabalhador.

Narcélio Limaverde encerrou a longa carreira na Rádio Assembleia 96.7 FM de segunda à sexta feira pela manhã. Para os saudosistas, entretanto, a audiência comove, pois remete, com a coluna “Fortaleza Antiga”, aos passos do pai, o velho e paciente Limaverde, às lembranças da mansidão da cidade que amamos. E isso é História. 



1974. Em sua coluna, na Tribuna do Ceará, agradece o nome do pai a principal via da Barra do CE



 O comunicador insiste, com toda a razão, nas memórias do Pega Pinto do Mundico, botequim na Praça do Ferreira, mudando-se forçadamente para outros dois endereços; e das lojas que marcaram o seu tempo: A Cearense, Flama, Casas Novas, Broadway, Loja das Variedades, Casa Vilar, Zuca Accioly, Rianil, Ótica Simão, Casa Parente, Duas Américas, Lojas 4400, Sapataria Grã Fina, Casa das Máquinas e Ótica Sansão. Lembranças do Abrigo Central (e das brigas entre Bodinho e Pedão da Bananada), da Rotisserie, do Bar da Brahma e do Majestic; das padarias Lisbonense, Moderna, Estrela e Palmeira; das farmácias Galeno, Osvaldo Cruz e Pasteur; dos restaurantes Popular e Central; dos bons tempos dos cinemas, principalmente do Cine Centro, na Av. Tristão Gonçalves com Duque de Caxias, o mais próximo da sua casa. Narcélio carrega isso na memória, conhecendo cada proprietário. Sem esquecer do carnavais e as peripécias do Zé Tatá.




1973. Rádio Verdes Mares com Nazareno Albuquerque e Mardônio Sampaio. (Tribuna do Ceará)




 Da antiga Rua do Imperador, residindo numa modesta casa de duas portas, onde não podia faltar um bom aparelho de rádio, para a Aldeota. O tempo é traiçoeiro, a modernidade atropela a simplicidade. Só forças (e um microfone, um rádio e um bom locutor) para encará-lo. Sei que se pudesse voltaria no tempo. Tomando “bãe de chuva” nos jacarés da Imperador à hora do pobre num cinema qualquer. Viver já valeu à pena. Mas vale mais comemorar estes 65 anos. Parabéns. 


No dia 26 de janeiro de 2022, aos 90 anos, após 68 anos de atuação radiofônica, Narcélio Limaverde não resistiu ao tratamento de pneumonia no Hospital Otoclínica. Deixou a esposa, Helenira Leite Limaverde, quatro filhos, sete netos e duas bisnetas. Descanse em paz ao lado dos seus pais e dos colegas.                                                                               

Por J. Lucas Jr.




Fonte: Coisas que o Tempo Levou - A Era do Rádio no Ceará - 1994 (Marciano Lopes)





 
!958. Casamento com Dona Helenira Leite Limaverde (Studio Gondim)






Reine Limaverde, irmã, com 6 anos. (O Povo)


1941. Concurso para locutor. Exigências. (O Nordeste)