quinta-feira, 9 de março de 2017

Trairi - 1928. Padre Holandês e a "Beata"


Facsimile de "O Ceará"
 O Padre Henrique Willebrord  Luitem tomou posse na Ig. de Nossa Senhora do Livramento em 25 de março de 1925, tendo como testemunhas os senhores Antônio Joaquim Barbosa e Raimundo Lopes. Permaneceu até 1932. Conforme o seu livro “Como nasceu Trairi”, Maria Pia de Sales, que nessa época tinha quinze anos, “foi um verdadeiro apóstolo para o bem”. Houve um período em que viajou para a sua terra, Holanda, trazendo uma lembrança que comoveu a comunidade: os quadros da Via Sacra. Por outro lado, a autora relata que o pároco vendeu a última joia doada pela portuguesa Maria Furtado para fins de mantimento da igreja:  um cordão de ouro puro, comprado por dona Luizinha de Souza, das artes da costura. Trazemos, contudo, uma matéria antiga, de 1928, do jornal do conceituado jornalista Alfeu Aboim, acusando o religioso de viver amasiado com uma mulher, e de comportamento intolerável, partindo de uma denúncia anônima. O denunciante mostra desenvoltura na escrita, mas ao mesmo tempo modo preconceituoso.

Jornal O Ceará, quinta-feira, 19 de abril de 1928

Um padre hollandez que escandaliza a população de Trahiry. Vive ostensivamente com uma beata! E Dom Manoel não sabe disso?

 “As presentes linhas são escritas e endereçadas ao “O Ceará” desta vila de Trahiry.

 O padre Henrique Willebroad, hollandez, ex frade, por infelicidade parocho desta freguezia, continua sugando, desapiedadamente, este pobre e sofrido povo.

 Alludido padre, supinamente brusco e intolerante, só trata a nós, brasileiros, com desdém, asperezas e grosserias as mais cínicas e revoltantes.

 Este reverendo vive aqui amasiado com uma certa mulher vinda de Aracoyaba. Maritalmente vive em companhia d’ella.

 Esta mulher, apesar de feia, não tem mais de trinta annos de idade. Está com o reverendo há tempos, isto é, aqui chegou há cerca de dois annos acompanhando o parocho.

 Declara o padre Henrique, à guisa de acobertar a sua manceba, que essa mulher é uma beata.

 Imagine! Em Aracoyaba tem padre e igreja, e se esta infeliz fosse beata deveria contentar-se em rezar e frequentar a Igreja de sua terra, e não andar acompanhando o hollandez por toda a parte. A referida amasia do reverendo occupa-se diariamente, e por occasião das missas, em tirar esmolas, abodegando nós outros até por comedoria, como: leite, ovos, etc, para o seu amigo vigário.

 Tal mulher é vista aqui, pela população, pelo nome comprido de “Julinha do padre Henrique”.

 Na matriz e capella do município se há registrados factos deprimentes e escandalosos provocados pelo parocho Henrique que, encontrando na igreja alguma mocinha pobre ou mal vestida, sendo feia, trata logo de expulsá-la do templo sem mais preambulos. Se porém, é sympatica e vem pintada ou de cabellos curtos, manda também que a retire, mas, de certo modo, apalpando-lhes os braços à guisa de explicar que o vestido está curto ou as mangas são condenadas pelo alfaiate episcopal.

 Aos dias de domingo, insiste constantemente nos conselhos e pedidos da tribuna sagrada (?) para que os rapazes (16 anos acima) cazem-se logo (cada casamento custa 15 $!)...o representante do clero cearense, em nome de Jesus Christo,  vem explorando a ingenuidade da população desta Villa de Trahiry".

                                                                                                            "Um catholico"


sexta-feira, 3 de março de 2017

Instituto do Ceará - 130 Anos e Desafios Eternos

“Fazer conhecida a História e a Geografia da Província e concorrer para a propagação das letras e ciências do Ceará”. 



Palacete Jeremias Arruda. Atual sede
Assim ficou registrado nos anais da ata da instalação do Instituto do Ceará, em 4 de abril de 1887. Nasceu do trabalho de doze intelectuais cearenses, destacando-se o primeiro presidente, nos 21 anos iniciais, Paulino Nogueira, notável personalidade cearense, que entre demais cargos acumulados citamos o de Presidente da Província (1878). Os demais foram: Barão de Studart, Antônio Bezerra de Menezes, Joakim Catunda, Antonio Augusto de Vasconcelos, Padre João Augusto da Frota, Júlio César da Fonseca, João Batista Perdigão de Oliveira, Juvenal Galeno, Virgílio Brígido, José Sombra e Virgílio Augusto de Morais.

 Sua primeira localização foi na sede da Biblioteca Pública, na atual rua Guilherme Rocha com General Bezerril (1887-88), onde funcionava, também, o Teatro da Concórdia. Em seguida passou para o prédio da Assembleia Provincial (atual Museu do Ceará), área térrea, mas como a mesma foi cedida à Faculdade de Direito, que iniciava sua história, mudou-se para um prédio alugado na rua Floriano Peixoto, porém voltou a prédio público, no caso às dependências da prefeitura e da Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca. Nessa época, as reuniões ocorriam no sobrado de Barão de Studart (rua Barão do Rio Branco), quando de sua gestão (1929 - 1938), a terceira do Instituto. Então, o interventor federal Carneiro de Mendonça cedeu salas do Arquivo Público e do Museu Histórico, continuando as reuniões na casa do Barão.


Praça Caio Prado, onde dividiu espaço com o Arquivo Público
Com a transferência da Faculdade de Direito para a Praça Clóvis Beviláqua, o Instituto retornou ao prédio do legislativo (1939). Depois voltou ao Arquivo Público, na Praça Caio Prado, em frente à Sé (1951) até a sua demolição, onde surgiria o Fórum Clóvis Beviláqua. Em 1957 se instalou, junto com o Museu Histórico, no antigo e belo imóvel onde funcionou o Grupo Escolar Rodolfo Teófilo, hoje a FEAAC, na Av. da Universidade. Em 1966, contudo, o reitor da UFC, Antônio Martins Filho, incorporou o prédio, e assim ocorreu a última mudança do Instituto do Ceará. Desde então se encontra no Palacete Jeremias Arruda, imóvel construído em 1921, onde residiu o proprietário, posteriormente vendido ao empresário João Gentil , localizado na Praça do Carmo. Nele funcionou a Chefatura da Polícia, anexo da Prefeitura de Fortaleza, Ginásio Municipal e consequentemente anexo da UFC.

  Nesse templo de riqueza arquitetônica, tombado pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, destaca-se, além da rica biblioteca, com 39 mil títulos e mais de 60 mil documentos manuscritos, a sua hemeroteca (revistas e jornais antigos), que possui invejável acervo de quadros e demais objetos de arte, tudo imortalizado em sua Revista, com certeza a maior fonte de informação sobre a História do Ceará.

1939. Instalado na antiga Assembléia Provincial
(hoje Museu do Ceará)

 No que pese a ajuda dos governos Federal e Estadual, porém, o Instituto do Ceará atravessou várias crises financeiras, como nos anos 1990, estando comprometido inclusive o memorial Barão de Studart, inaugurado naquela época, 1987. Após os protestos da imprensa, somados ao clamor dos defensores da preservação da cultura cearense, foram ampliadas verbas públicas, que, ao lado dos aportes dos seus quarenta sócios, fortaleceram o seu mantimento, embora insuficientes. No início da gestão do Prof. Ednilo Soarez (2013), por exemplo, o déficit mensal era de R$ 5 mil.



Dr. Lúcio e sua Digníssima, Beatriz Alcântara ( Foto O Povo)
Em 4 de março de 2017, exatamente no aniversário de 130 anos, Dr. Lúcio Alcântara assume o Instituto Histórico e Antropológico do Ceará em meio a desafios. Acumulando a presidência do Instituto do Câncer, fundado por seu pai, Dr. Waldemar Alcântara, o médico acredita ser fundamental a aproximação com a Academia Cearense de Letras, da qual também é membro, além de quaisquer entidades culturais do Estado. E é fato que dará continuidade às edições da Revista do Instituto do Ceará, o maior patrimônio gráfico do Estado, que existe deste 1887, sendo a mesma parabenizada pela sua impecável originalidade, priorizando a escrita e as abundâncias dos fatos
relacionados. À nova diretoria os nossos cumprimentos e felicitações de apoio pela causa maior, a cultura cearense.





1954: Jornal Unitário destaca o Ginásio Municipal antes da transferência do Instituto do Ceará




1939. No Palácio Senador Alencar: Assembléia