sábado, 11 de fevereiro de 2017

Trairi - 1878 A Dor do Flagelo

Comissão de Socorros da Villa de Trahiry, 6 de agosto de 1878

Ilmo Exmo. Sr.



Acusamos a V. Exa o recebimento dos gêneros ultimamente enviados a esta comissão e aproveitamos a oportunidade para pedir de novo a V. Exa para que se digne a ordenar nova remessa de gêneros, bem como de auxílios para distribuir com a pobreza que acha-se completamente só, tornando-se de grande necessidade algum dinheiro para provermos as despesas oriundas das circunstâncias de casos surgidos.

 A falta de uma ambulância tem dado lugar a que alguns indigentes tenham perecidos e por isso nos restou este pedido.


 A agricultura é o único sonho do povo, pois que há dois anos vem acabrunhada pelos horrores da seca, e continuamos debaixo da mais forte pressão e sem um meio de solução, por isso lembramos a V. Exa a necessidade de ser iniciada a tempo a abertura de roçados e este serviço só poderá sustentar-se com o apoio da Comissão. Por não terem recursos, os infelizes lavradores pedem a V. Exa autorização no sentido de permitir tal serviço com o apoio da Comissão, enviando recursos.

 Tornando-se necessárias as ferramentas para o trabalho do fabrico de tijolos, com uso de pedras, cortar-se-ão madeiras no reparo da igreja matriz, cadeia pública e de duas fontes que se tornarão de muita necessidade, pedimos a V. Exa que se digne a ordenar para que seja remetida a esta Comissão 50 enxadas, 10 machados, 10 foices, 10 alavancas e 10 pás de ferro.

 Tendo-se desenvolvido nesta Vila pobres de mau caráter e inchações, resolvemos alugar uma casa para servir de enfermaria para os indigentes. Não havendo camas para os mesmos, pedimos a V. Exa autorização para se mandar fazer acomodações a fim de não ficarem expostos à umidade da Terra, sendo que nesse caso os medicamentos não terão efeitos.

 Até que seja sem efeito a ambulância, a Comissão resolveu contratar o negociante Joaquim Thomaz da Cunha o fornecimento de medicamentos para o tratamento dos indigentes  e a dieta se for necessário para a alimentação dos mesmos. Aqui tudo pedimos a aprovação de V. Exa.

               Deus Guarde a V. Exa.

Ilmo Exmo Dr. José Júlio de Albuquerque Barros. Presidente da Província


 Joaquim Moreira Braga
 Pedro Leopoldo de Araújo Feitosa - vigário
 Raymundo Vieira de Sousa
 Antônio Paes de Barros.





Nota do Blog:


 Entendemos como “pobres de mau caráter” o aspecto de doentes abatidos e não de má índole.

 José Júlio de Albuquerque Barros é o nome praça da Ig. de Coração de Jesus, em Fortaleza. Homenagem ao ex-presidente da Província.

 Joaquim Moreira Braga, filho do coronel Joaquim Moreira de Souza. Foi expulso de casa após bater na amante do pai, e em seguida prosperou financeiramente. O nome "Braga" era apelido do pai, fazendeiro, e assim foi introduzido na família.

 O texto cita Joaquim Thomaz da Cunha (Marinheiro Cunha) como comerciante, o que convenhamos ser possuidor de farmácia.

 Padre Pedro Leopoldo, o segundo vigário de N. Sra. do Livramento, não tardou em Trairi. Tornou-se Monsenhor e visitou a vila adiante.






Nenhum comentário:

Postar um comentário