Comissão de Socorros da Villa de Trahiry, 6 de agosto de 1878
Ilmo Exmo. Sr.
A falta de uma
ambulância tem dado lugar a que alguns indigentes tenham perecidos e por isso
nos restou este pedido.
A agricultura é o
único sonho do povo, pois que há dois anos vem acabrunhada pelos horrores da
seca, e continuamos debaixo da mais forte pressão e sem um meio de solução, por
isso lembramos a V. Exa a necessidade de ser iniciada a tempo a abertura de
roçados e este serviço só poderá sustentar-se com o apoio da Comissão. Por não
terem recursos, os infelizes lavradores pedem a V. Exa autorização no sentido
de permitir tal serviço com o apoio da Comissão, enviando recursos.
Tornando-se
necessárias as ferramentas para o trabalho do fabrico de tijolos, com uso de
pedras, cortar-se-ão madeiras no reparo da igreja matriz, cadeia pública e de
duas fontes que se tornarão de muita necessidade, pedimos a V. Exa que se digne
a ordenar para que seja remetida a esta Comissão 50 enxadas, 10 machados, 10
foices, 10 alavancas e 10 pás de ferro.
Tendo-se desenvolvido
nesta Vila pobres de mau caráter e inchações, resolvemos alugar uma casa para
servir de enfermaria para os indigentes. Não havendo camas para os mesmos,
pedimos a V. Exa autorização para se mandar fazer acomodações a fim de não
ficarem expostos à umidade da Terra, sendo que nesse caso os medicamentos não
terão efeitos.
Até que seja sem
efeito a ambulância, a Comissão resolveu contratar o negociante Joaquim Thomaz
da Cunha o fornecimento de medicamentos para o tratamento dos indigentes e a dieta se for necessário para a
alimentação dos mesmos. Aqui tudo pedimos a aprovação de V. Exa.
Deus
Guarde a V. Exa.
Ilmo Exmo Dr. José Júlio de Albuquerque Barros. Presidente da Província
Joaquim Moreira Braga
Pedro Leopoldo de Araújo Feitosa - vigário
Raymundo Vieira de Sousa
Antônio Paes de Barros.
Nota do Blog:
Entendemos como “pobres de mau caráter” o aspecto de doentes abatidos e não de má índole.
José Júlio de Albuquerque Barros é o nome praça da
Ig. de Coração de Jesus, em Fortaleza. Homenagem ao ex-presidente da Província.
Joaquim Moreira Braga, filho do coronel Joaquim Moreira de Souza. Foi expulso de casa após bater na amante do pai, e em seguida prosperou financeiramente. O nome "Braga" era apelido do pai, fazendeiro, e assim foi introduzido na família.
O texto cita Joaquim Thomaz da Cunha (Marinheiro Cunha) como comerciante, o que convenhamos ser possuidor de farmácia.
Padre Pedro Leopoldo, o segundo vigário de N. Sra. do Livramento, não tardou em Trairi. Tornou-se Monsenhor e visitou a vila adiante.
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