sábado, 16 de julho de 2016

Dom Manoel - Vida de Fé e de Dor

 
D. Manoel

Manoel Gomes da Silva nasceu no dia 14 de março de 1874. Ordenou-se no Seminário Arquiepiscopal Primacial de sua terra, Salvador BA, em 15/11/1896. Lecionava onde fizera seus estudos religiosos e nas horas vagas dedicava-se ao Orfanato do Sagrado Coração de Jesus, dirigido pelas irmãs de caridade. Foi quando seu superior, Reverendíssimo Padre Manuel dos Santos Ferreira, sob insistência do Arcebispo da Bahia, o cearense Dom Jerônimo Tomé da Silva, comunicou a sua missão: Tornar-se Bispo Auxiliar de Dom Joaquim José Vieira, no Ceará, sendo ordenado pelo Papa Pio X em 11/4/1911.  A consagração episcopal ocorreu no dia 29 de outubro daquele ano pelo Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Miguel Valverde.
No dia 9 de fevereiro de 1912, Dom Manoel pisou em solo cearense. Não parou, tomou logo a iniciativa de se associar aos trabalhadores, criando, no dia 20 de junho daquele ano, em Fortaleza, o Círculo de Operários Católicos, cuja última sede foi no prédio do Teatro São José. Um passo para a subida na hierarquia católica.  Com a renúncia de Dom Joaquim, assumiu, no dia 8 de dezembro de 1912, como terceiro Bispo do Ceará. 


Sua casa a partir de 1943
(Correio do Ceará - Acervo Lucas)
Logo tratou de fazer um reordenamento administrativo, criando uma organização que fez surgir , através de bula papal de Bento XV, as diocese do Crato (1914) e, em 10 de novembro de 2015, a de Sobral, tornando-se nesse dia o primeiro Arcebispo Metropolitano de Fortaleza. Somente em 1938, fundou a diocese de Limoeiro do Norte, cujo primeiro bispo foi Dom Aureliano de Matos, por 27 anos, até o seu falecimento, em 1967. Nessa época o Ceará se encontrava em absoluta miséria. Dom Manoel ocupou-se em conseguir donativos, de porta em porta, na capital, durante a devastadora seca. O mesmo em 1919, quando percorreu o País atrás de donativos, o que lhe valeu o reconhecimento como "Bispo das Secas". Por contar com a ajuda paulista, orientou a mudança da "Rua da Assembléia" para Rua São Paulo.
1943 - Ponte Metálica (Praia de Iracema). Ao lado do Interventor Federal, Menezes Pimentel e de padres, retorna ao Ceará. (Foto Correio de Ceará - Acervo Lucas)
Em 1922 mudou o nome da Paróquia de Nossa Senhora do Livramento para Paróquia do Carmo, elevando-a à sede da Advocação Perpétua, ao mesmo tempo em que fundou doze paróquias no interior cearense. No mesmo ano, criou, com M. A. Andrade Furtado, o Jornal O Nordeste, que circulou por 45 anos. Dotado de excelentes redatores, o jornal da diocese de Fortaleza foi mantido graças ao sucesso das assinaturas, tanto na capital como no interior, tarefa executada pelo Monsenhor Antônio Tabosa Braga. 

Emocionado, sem esconder o choro, rezou a última missa, campal, da antiga Catedral da Sé, a saudosa Matriz de São José, de 2/04/1854, o padroeiro, em 11/09/1938. A partir de então começava a sua demolição para a construção da nova catedral. Criticado pela elite e pelos intelectuais, principalmente por ter negado feito igual em sua terra, entrou em depressão, preferindo o isolamento. O engenheiro francês George le Mounier ganhou a concorrência para a construção do templo. A obra demorou 40 anos para a conclusão, ou seja, poucos fiéis daquela época estavam vivos em 1978.

Em 28/05/1941, doente, renunciou, ficando o bispado com Monsenhor Otávio de Castro,  indicação sua,  uns dos fundadores do Colégio Cearense do Sagrado Coração (Marista), até a nomeação do mineiro Dom Antônio Almeida Lustosa para o seu lugar. Foi para a Bahia, retornando em 1943, passando a residir numa espaçosa casa na Av. do Imperador, onde hoje se localiza a sede do PSOL.
 A enfermidade começou em 1945. Cinco anos e meio depois, durante a extrema unção, Dom Almeida Lustosa dirigiu-se ao colega:
- Dom Manoel, diga comigo: "Meu Jesus, Misericórdia!".

 Após um leve sorriso, mas com esforço, disse: "Amém". 

 Poucos dias antes, durante um tratamento doloroso, numa autêntica expressão de humildade e fé, disse aos médicos:
 - Deixem-me sofrer. Eu mereço.

Naquele ano de 1950, às 7:30 horas do dia do seu aniversário de 76 anos, partiu.


Cripta da Catedral: D. Almeida Lustosa, gov. Faustino de Albu-
querque e Paulo Cabral, que naquele ano venceria as eleições 
para pref. de Fortaleza. (Correio do Ceará - Acervo Lucas)

Disse a matéria do destacado jornal Correio do Ceará daquele dia (os jornais saíam à tarde): " A morte de Dom Manuel da Silva Gomes, ocorrida nesta manhã,  é um acontecimento verdadeiramente lutuoso para o Ceará. Não apenas à família católica de nossa terra, mas toda a população do Estado sente, sinceramente, o desaparecimento do piedoso vigário de Cristo, cuja vida foi um modelo de virtudes. A consternação é geral, pois que geral era a estima de que se fizera merecedor o pranteado bispo católico. Nos dias angustiosos de sua enfermidade, já o coração do povo cearense se confrangia ante a perspectiva de desenlace. É grande a dor da família alencarina agora que se consumou o infausto acontecimento.  desde cedo, a residência do pranteado morto vem sendo visitada por milhares de pessoas, de todas as classes sociais, que ali vão ver, pela última vez, a figura estimada do virtuoso sacerdote".  


Antiga Sé, demolida. (Foto O Povo 1938 - Acervo Lucas)

 Na sua morada, na Av. do Imperador, encontravam-se Dom Almeida Lustosa, o seu secretário, Padre André Camurça; padres como José Mourão, José Gondim Hortêncio, Irmã Simas e outras de caridade, enfim religiosos em geral e suas secretárias aos prantos. O povo chorava e queria ver o corpo, que aguardava o momento de ser vestido com trajes sacerdotais, e, diante da romaria, foi preciso que se interditasse a rua. Seu corpo seguiu, acompanhado pela multidão, para o velório na Igreja do Rosário, e de lá enterrado na cripta da Catedral em construção. Aliás,o primeiro bispo enterrado no local, que fica num subterrâneo construído naquela época. No fatídico 14 de março de 1950, o governador Faustino de Albuquerque decretou ponto facultativo geral e suspensão das aulas nas escolas.
 Sem parentes no Ceará, pais falecidos, o religioso deixou um irmão no RS e uma irmã no RJ. Dom Manoel, porém, sentia-se integrado à família católica cearense.

 A Avenida Dom Manoel, divisa dos bairros Centro e Aldeota, em Fortaleza, homenageia o arcebispo. A via chegou a ter o nome de Dom Luís (Luís Antônio dos Santos), o primeiro bispo do Ceará, hoje nome de logradouro na Aldeota. Antes, porém, chamava-se Boulevard da Conceição, referindo-se à Igreja da Prainha.

Sepultamento. Multidão aguarda o corpo de Dom Manoel
(Correio do Ceará - Acervo Lucas)




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