J. C. Alencar Araripe (Foto DN) |
No dia 11 de junho de
2010, o Ceará recebeu com pesar a notícia do falecimento do escritor,
jornalista e acadêmico cearense Jose Caminha Alencar Araripe, que se encontrava
internado no Hospital São Carlos, onde havia passado pela quarta cirurgia.
Familiares, amigos e colegas estiveram presentes no velório, na Academia
Cearense de Letras, da qual era membro, além da missa de corpo presente e o
enterro no cemitério Parque da Paz, em Fortaleza.
Embora mais conhecido
como jornalista e escritor, a atuação de J.C. Alencar Araripe deu-se em um
amplo leque de atividades culturais de política e pesquisa histórica e
sociológica. Foi um dos professores fundadores do curso de Comunicação Social
da Universidade Federal do Ceara, onde ocupou, também, o cargo de chefe de departamento,
entre outros.
Na política, foi vereador
e prefeito interino de Fortaleza. No jornalismo, J. C. Alencar Araripe percorreu
o caminho desde revisor e repórter até a alta direção do Jornal O Povo. Mais à
frente em sua carreira, foi colaborador do Diário do Nordeste. Também foi presidente
por 12 anos (de 1977 a 1986 e de 1992 a 1995) da Associação Cearense de Imprensa
(ACI) e membro do Instituto do Ceara.
Livro dedicado à sua tri-avó, a quem idolatrava |
Sua produção
jornalística é enorme, dedicada aos mais variados assuntos, em forma de ensaios,
artigos, reportagens e cr6nicas. Entre os prêmios recebidos, destaque para o
Esso de Jornalismo, em 1958. Escreveu vários livros, a exemplo de “Luzes no Túnel
da Memória”, “O Mundo em Três Dimensões”, “Alencar, o Padre Rebelde” (biografia
de Jose Martiniano Pereira de Alencar), “A Glória de um Pioneiro - a vida de Delmiro
Gouveia” e “Barbara e a Saga da Heroína”.
“Araripe foi uma
pessoa que fez história, devo muito a ele. Fui sua aluna na UFC, e foi através do seu
convite que entrei no jornal O Povo, em 1974", recorda a jornalista lzabel
Pinheiro, ex-chefe de reportagem do Diário do Nordeste e Vice-Presidente da
ACI (em 2010). Segundo ela, J.C era uma pessoa muito tratável e educada, presente para a
família e os amigos. A imprensa cearense deve muito a ele”.
A opinião é
compartilhada pela colega jornalista lvonete Maia (falecida em 2012), então presidente
da ACI: “Araripe foi um jornalista completo. Começou na revisão do jornal O Povo e la chegou à editoria geral. Nesse percurso, foi repórter premiado,
editorialista e articulista, publicando artigos no Diário do Nordeste. Foi
professor fundador do curso de Comunicação Social da UFC, onde fui aluna dele.
Realmente uma pessoa muito relevante para o jornalismo do Ceará, sempre zeloso
pelo conteúdo”, lembra.
Na lembrança do
filho, o médico Otaviano Alencar Araripe, a admiração permanece: “Papai foi um
dos que contribuiu para a fundação da Faculdade de Medicina, quando ainda nem
era federalizada. Ele aposentou-se exatamente na época em que eu estava
entrando no curso. Nesses dois últimos anos de doença nunca perdeu a lucidez,
apenas na fase final”, revela o filho.
Exu PE, Crato CE e Jardim CE (foto, mapio.net) foram o berço da família Pereira de Alencar |
Araripe nasceu no
município cearense de Jardim, no dia primeiro de maio de 1921. Veio a Fortaleza
terminar o ensino ginasial (hoje segunda parte do ensino fundamental). Trineto
da revolucionaria Barbara de Alencar, formou-se em Ciências Contábeis e
Atuariais; frequentou vários cursos de extensão.
Além do Esso, ganhou
os prêmios de literatura Cidade Fortaleza (1965), assim como o Capistrano de
Abreu, UFC (1966). Entre as obras mais importantes de J. C. Alencar Araripe
está “Alencar, o Padre Rebelde”, livro no mínimo emblemático sabre Jose
Martiniano de Alencar (1794-1860). A biografia foi reeditada várias vezes e
conta a trajet6ria de um dos homens mais importantes do Século XIX do País.
J.C. foi estudioso sobre seu bisavô, José Martiniano (Padre Alencar) |
J. C. Alencar Araripe
era um apaixonado pela figura de José Martiniano. Não somente por raízes
familiares, mas também pela rica e tumultuada vida do “Padre Rebelde”. A vida
de Martiniano, pai do escritor Jose de Alencar, foi das mais movimentadas,
principalmente no campo político. O surto revolucionário de 1817 (Revolução de
Pernambuco, luta pela República) o levou a prisão por vários anos. A sua
administração, como presidente da Província, sempre mereceu louvores e
aplausos. Teve atuação como deputado nas Cortes de Lisboa. Voltou ao Brasil
após a independência, envolvendo-se na Confederação do Equador. A mão dura do
Império caiu como ferro sabre os confederados. Martiniano de Alencar conseguiu
escapar.
Sobre o livro, disse
J. C.: “Tive a preocupação de colocar diante do leitor os fatos que se
desenvolveram, como o martírio emocionante de Tristão, a debandada sem resistência
dos que antes arrotavam valentia, os fuzilamentos no Campo da Pólvora (Praça
dos Mártires, Passeio Público) dos implicados na Confederação do Equador, como Pe.
Alencar escapou da repressão dos imperialistas, transcrevi depoimentos que
ajudaram a clarear o entendimento da tragédia que se abateu sabre o Ceara. A escapada
de Martiniano de Alencar, e o que o levou da Chapada do Araripe a capital do
Império, o Rio de Janeiro, pelo interior bravio, e um episódio que qualifico de
rocambolesco, pelas peripécias vivenciadas e pela determinação com que procurou
subsistir em ambiente tão hostil pela natureza e pela ação do homem” (Diário do
Nordeste, abril de 1996).
Primeiro à esquerda, J. C. recepciona, no O Povo, os historiadores Gustavo Barroso e Raimundo Girão, além do seu primo, Dr. Valdir Liebmann (Foto O Povo Anos 50) |
José Martiniano Pereira de
Alencar voltou ao cenário político logo que se viu livre das acusações de
implicado na revolução de 1824 (Confederação do Equador, por um Nordeste independente do Império). Seu retorno foi
triunfante. João Brígido (notável e polêmico jornalista, fundador do Jornal
Unitário) externou a opinião que Martiniano de Alencar “lançou os fundamentos
do progresso moral e material do Ceara, ensaiando, com grande intuição no futuro,
quantos melhoramentos a Província veio a considerar indispensável a sua
civilização. O livro “Alencar, o Padre Rebelde”, é um de grande importância
para se conhecer, além de Martiniano de Alencar, o Ceará durante o Império”.
Fonte e texto editado: Academia Cearense de Letras.
A história do Ceará é rica em seu desfecho. Sua origem, seu povo, as razões, a fé. O clero teve uma função primorosa com a formação religiosa de seu povo. Ademais, até a fome, a seca,os escravos, os abolicionistas,os retirantes tiveram seu papel de protagonista em nossa História. Em "LUZIA-HOMEM", romance regionalista do filho Domingos Olympio retrata bem a história de Sobral, a estrada de ferro, a religiosidade e a seca do povo cearense.
ResponderExcluirAssim o fez Rachel de Queiroz em "O QUINZE" e na obra do imortal Fran Martins: "Manipueira" - conto de Padre Cícero e Juazeiro do Norte e "Poço dos Paus" na construção o que seria o maior açude com a morte de muitos retirantes.