Largo das Trincheiras
Jardim 7 de Setembro (Leitura para Todos) |
Pachecão e a Intendência Municipal
Em 1831 o sobrado
do José Pacheco foi adquirido para acomodar o legislativo, ou precisamente a
Municipalidade, também com poder administrativo, por 6:593$984, ou seja, mais
de seis contos de réis, em quatro prestações, conforme escritura de 24 de
janeiro de 1831, em cuja área surgiria a famosa Intendência Municipal, no
antigo Alto da Boa Vista (atua rua Floriano Peixoto), e o Abrigo Central. O prédio da Intendência manteve-se erguido até 1941, quando o
prefeito Raimundo Alencar Araripe mandou demolir o quarteirão na intenção de
construir a sede da prefeitura, que não saiu de uma bela maquete. Atualmente
estaria, como fins de localização, à frente do Edifício Sul América.
Sobrado do Comendador Machado à direita (Carioca) |
A Chegada do Boticário
Bondes animais. (Fon Fon) |
Na “sala de visita
da cidade”, de imediato demoliu o Beco do Cotovelo, nascendo dali a Praça D.
Pedro II, afinal tinha que agradar o monarca e aguardar alguma ajuda financeira
vinda pelos vapores do Atlântico. Foi o necessário para ocorrer uma vasta expansão
econômica naquela área, com o surgimento de lojas e de belos sobrados. Em
menção a Ferreira a chamavam de “Largo do Ferreira” ou “Largo do Boticário”.
Até que, em 12 de outubro de 1871, por indicação do vereador João Antônio do
Amaral Junior, a Câmara Municipal mudou o nome da Praça Municipal para Praça do
Ferreira, em homenagem a Antonio Rodrigues Ferreira. Era a época dos primeiros
bondes puxados a burro e mais adiante a cavalos, da firma Ferro-Carril, tendo
como ponto central aquele centro de encontros do cearense, na rua da Boa Vista
(antiga Alto), onde em 1875 surgiu o primeiro café da cidade, o Café Americano.
Esses bondes de burros, que seguiam em linhas de ferro, comportavam até 25
passageiros, e dali partiam a cada meia
hora, com boleeiro e condutor fardados, ao preço de 100 réis.
Segundo o
historiador Paulino Nogueira, “aquele homem feio, um pouco baixo, magro,
moreno, narigudo, cabelo quase à escovinha, trajava-se mal, inseparável de uma
luneta de ouro, que não tirava do olho direito”. Aquele homem trouxe para a sua
mesa o projeto urbanístico de Silva Paulet, em forma de xadrez, engavetado
desde a época do Governador Sampaio (1813). Mandou chamar o pernambucano Adolpho Herbster, engenheiro da província, que revolucionou a cidade com uma planta
detalhada, ajustando as ruas nos moldes da modernidade.
Os Quiosques
Café do Comércio. (Leitura para Todos) |
Na praça, por volta de 1896, os clubes elegantes, localizados
nas imediações, Clube Cearense e Clube Iracema, disputavam as melhores
alegorias durante os carnavais. Evidenciavam-se, assim, as discriminações, como
ocorria no Passeio Público: pretos e pobres nas laterais e os ricos no centro,
separados por gradis. Tempos após incorporam o “O Banco”, um assento público
restrito senhores da sociedade e intelectuais com suas vestimentas em linho
branco.
7 de Setembro
Cel. Guilherme Rocha. (O Malho) |
Em 1902, já na república, Nogueira Accioly comandava a
política cearense e o Partido Conservador ao estilo oligárquico, indicando como intendente de
Fortaleza o coronel Guilherme Rocha, seu antigo aliado e próspero comerciante,
enquanto Pedro Borges o governador. Processou-se na cidade o zelo com os bens,
embora os mesmos cada vez mais voltados aos ricos. Como a Marquez do Herval (José de Alencar), a
Praça dos Mártires foi reformada, tornando-se uma das belas do País, e a Praça
do Ferreira passou por uma mudança radical após proposta do vereador Casimiro
Montenegro, futuro intendente, de criação de um jardim que homenageasse a
Independência da República. E assim, na data histórica brasileira, foi
inaugurado o Jardim 7 de Setembro. A Praça do Ferreira, portanto, passou a ser
conhecida como Jardim ou Avenida 7 de Setembro, uma vez dividida em quatro.
Guilherme Rocha cercou a praça com gradis de ferro e no centro o jardim, em
formato de cruz, gradeado com um portão em cada face. Como iluminação, 38
lampiões internamente, enquanto fora 20 combustores auxiliares. O velho
logradouro decididamente estava reservado à classe social mais abastada.
Bondes elétricos
No dia 9 de outubro
de 1913 o prefeito Ildefonso Albano, também aliado do Comendador Accioly,
deposto após revolta popular no ano anterior, inaugurou o bonde elétrico. O
munícipe fez questão de pilotar o primeiro, em meio à curiosidade da multidão
que o acompanhou a partir da loja Crisântemo. Os bondes da Ceará Light & Power
permaneceram em atividade até 1945, passando os encargos para o governo e
prefeitura, que os extinguiram dois anos depois pressionados pelas empresas de
ônibus que cresciam junto com a população.
O Coreto
Uma nova reforma da
praça pôs fim aos quiosques. No dia 24 de maio de 1925 o prefeito Godofredo
Maciel, continuando a prioridade dos jardins, inaugurou, na Avenida 7 de
setembro, o coreto, onde a banda da
Polícia, a filarmônica, executou “allegros” e dobrados. Em sua volta, os
cinemas Polytheama, Majestic, e Moderno; a Casa Albano, o Emydgio, Foto
Ribeiro, entre tantos comércios apaixonantes, com o coreto atraindo multidões
que testemunharam comícios e discursos célebres como de Maurício Lacerda (pai
de Carlos Lacerda), Djacyr Menezes, Rachel de Queiroz, Dr. Morais Correia,
Demócrito Rocha e de Perboyre e Silva, eterno presidente da Associação Cearense
de Imprensa. Voltaria a ser chamada de
Praça do Ferreira.
1959. Centenário de morte do Boticário. Visita ao túmulo. (Tribuna do Ceará) |
Centenário do falecimento. 29 abril 1959. Programação em lembrança pelo falecimento do tenente-coronel Boticário Ferreira, tido como "a maior personalidade do Seculo XIX" (Tribuna do Ceará):
7:30: Missa na Ig. do Rosário, por Dom Almeida Lustosa.
9:00: Visita ao túmulo, Ginásio Municipal. (Cemitério S. João Batista)
12:00: Palestra do prefeito Cordeiro Neto. Pelas emissoras de rádio.
16:00: Sessão solene no Ginásio Municipal. Grêmio Joaquim Nogueira.
19:00: Palestra professora Geraldina Amaral, Waldery Uchoa e Mozart Soriano Aderaldo.
20:00: Retreta na Praça do Ferreira pela banda da Escola Preparatória de Fortaleza.
Obs: no seu testamente deixou os seus bens para o seu pai, caso estivesse vivo. Do contrário, para sua sobrinha.
Fontes: Jornais Cearense e Unitário. Artigos de Paulino Nogueira, Raymundo Menezes e de Gustavo Barroso.
1925. Com o coreto. (Fon Fon) |
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