sábado, 26 de novembro de 2016

Trairi - A Peste e o Antigo Cemitério

Vila em 1863


Trairi, a partir de 12 de novembro de 1863, pela Lei 1068, tornou-se Vila, sendo o primeiro presidente da Câmara o coronel Antônio Barroso de Souza, ou seja, quem administrava o município. Em 31 de outubro do ano seguinte a mesma foi extinta pela Lei 1110. No dia 27 de novembro de 1868, Pará-Curú tornou-se vila pela primeira vez, conforme a Lei 1235, e Trahiry a ela pertencente. Porém, com a Lei 1604, de 14 de agosto de 1874, passou a denominar-se Nossa Senhora do Livramento, sendo restabelecido Trahiry com a Lei 1669, de 19 de agosto de 1875.


 Foi nesse período da primeira administração, o mais longo do município, que Trairi enfrentou seus maiores desafios. Grande área, carência de meios de transporte, infraestrutura insignificante, parcos recursos financeiros, serviços públicos ineficientes e acima de tudo desigualdade social contribuíram para a crescente miséria da população.

O Ano da Devastação


  Embora a tragédia tenha chegado em Trairi no ano anterior,  1877 foi o primeiro e o mais devastador ano de uma seca que durou quase cinco anos. A velha epidemia voltava ao Ceará e Trairi não ficou de fora, perdendo o controle de uma doença que não poupava status, matando ricos e pobres. Chegou a Fortaleza a partir dos navios a vapor que vinham do Rio Grande do Norte, Estado que por sua vez contraiu a peste dos brancos que saíram da Europa, onde cerca de 25 mil soldados franceses dela pereceram: a varíola. O corpo coberto de feridas, úlceras com pus que se espalhavam pelo corpo.

 Ofícios expressando preocupação e até desespero foram assinados pela Comissão de Socorros ao governador da província, Caetano Estelita Cavalcanti Pessoa. Além da fome e da peste, a população crescia com os flagelados e doentes oriundos de vários povoados. Tudo que chegava, alimentos, remédios e dinheiro, era relatado, em resposta, pelo intendente ao governador, como o uso dos recurso, sempre salientando que, “apesar da gratidão”, não era suficiente para atender a demanda crescente, um povo que, para não morrer de fome, comia de calango a morcego.


As Autoridades


 A Comissão de Socorros era composta por:

 - Antônio Barroso de Souza: Presidente da CMT, segundo Maria Pia oprimeiro juiz de Trairi, vindo de Paracuru. Suas terras se localizavam no sul do Estrela.
 - Francisco da Rocha Campelo, juiz, e seu substituto Vicente Teixeira da Costa Sampaio.
 - Padre Francisco José da Silva Carvalho: Primeiro pároco de Nossa Senhora do Livramento.
- José Themístocles Teles de Carvalho: Coletor.


 Porto de Mundaú, de Olho nos Vapores


 Essa “ajuda”, cereais e dinheiro, era enviada pelo mar, no caso a Mundaú, através dos vapores “Maranhão” e “Costeiro”, da Companhia Maranhense, que em cada porto atracavam levando os socorros aos necessitados, sendo que no retorno do norte levavam as correspondências para Fortaleza. O encarregado de receber as mercadorias do governo era o Major José Joaquim Carneiro, que aguardava os navios sobre os morros daquela praia trairiense. De lá, seguia, a cavalo, pelas dunas, à sede, a mercê de surpresas, armado e atento, guiado por Deus.

 Numa comunicação, Coronel Barroso pediu permissão para que alguns flagelados seguissem para Parnaíba PI, sob alegação de que naquela praia havia assistência. Mas a maioria se dirigia para Fortaleza, cuja população, em 1877, era de 130 mil habitantes, dos quais 110 mil retirantes. Famílias orientadas a descer a ladeira da rua General Sampaio às praias do sentido norte (Formosa - hoje Leste Oeste, Pirambu) ou ao Morro Croatá (hoje garagem da  Estação, Oitão Preto), segundo as autoridades, para pegar ventilação, porém, abandonadas, morriam de fome ou da praga.


 Dr. Rodolfo Teófilo Ajudou


 Na troca de ofícios, a ignorância sobre a doença, até mesmo da parte do chefe dos serviços médicos, Francisco Leão, pois se tratava como moléstia, peste, doença em decorrência da seca, febre e diarreias. Apenas a partir de 1878, quando os periódicos passaram a divulgar as vacinas do farmacêutico Rodolfo Teófilo, usou-se o nome da praga aterrorizante.  O próprio, com todo sacrifício chegou a enviar medicamentos e receitas ao município, sendo seu nome registrado em agradecimento.


 O Antigo Cemitério


 Com recursos enviados, que chegaram a um conto de réis, parte doada por comerciantes de Fortaleza, foram construídos, em 1877, os antigo cemitério e cadeia. Toda a mão de obra era composta por flagelados, que recebiam o mínimo para comer. Na verdade, como na capital (Cadeia Pública e Igreja Coração de Jesus), e em Quixadá (onde D. Pedro II exigiu mão-de-obra flagelada na construção do Cedro, o maior açude moderno da América Latina), o governo orientava obras como forma de remunerar os desassistidos, que mesmo doentes trabalhavam.  Os mais antigos contam ter pisado em ossos quando passavam pelo Pici, na sede. Ali, nas proximidades dos pés de sapotis e tamarindos, foram enterrados os nossos irmãos. Vítimas de sofrimento que esperamos jamais passar.



1877: Um dos ofícios trocados entre Trahiry e Fortaleza



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Trairi - José Rôla e a Praça do Ferreira

 Os Primeiros Cinemas de Fortaleza


 
Av. 7 de Setembro, 12
(Cine Polytheama)
Os primeiros filmes exibidos em Fortaleza, na fase muda do cinema, eram de origem francesa (Paris) e italiana (Roma e Torino). Usava-se bar, teatro e piano, cantores, afinal era de bom gosto, sendo o seu objetivo comercial atrair a classe social mais abastada.

Em 26 de agosto de 1908, a cidade se espantou com a chegada do Cine Di Maio, ou "Cinematographo Art Nouveau", do italiano Vittorio di Maio, na antiga rua da Municipalidade, ou Intendência, hoje Guilherme Rocha. Vittorio, que era considerado o "Pai do Cinematographo no País", por ironia do destino acabou falecendo dentro do próprio no dia 21 de abril de 1926. Já em 1909, chegou o Cine Rio Branco, de Henrique Mesiano, na rua Barão do Rio Branco (antiga Rua Formosa) e o Cassino Cearense (Júlio Pinto).

  Dois grandes capitalistas, Luiz Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado, compraram o Cine Di Maio, pois Vittorino falecera. Nascia o Cine Riche e o império das sétimas artes do cearense de Baturité, Severiano Ribeiro.



Polytheama, do Homem de Trairi


José Rôla 
Enfim, em 2 de julho de 1911, com "Pedra¨ (da Pathé-Frères) surgiu o quinto cine de Fortaleza, chegando à importante fase da história de uma família do meu Trairi.

O Cine-Teatro Polytheama foi o primeiro a instalar-se no meio do quarteirão nobre do Centro, ao lado da Praça do Ferreira, na rua Major Facundo, antiga Rua da Palma. Na verdade, na Av. 7 de Setembro, 12. Para muitos, o cinema número um. De propriedade da firma “Rôla, Irmão & Cia” (José e Chico, também ex-caixeiro), de imediato conquistou a preferência popular, com seus bons serviços, conforto e sofisticação.

 No Ceará, foi o primeiro a exibir filmes americanos, da famosa William Fox Corporation, assim como os suecos da Nordisk. Porém, numa ousada investida do concorrente, Luiz Severiano Ribeiro, foi fundado o magnífico e completo Cine Majestic, em 1917, ao seu lado, no prédio mais alto da cidade, onde também funcionou um hotel. Então veio a queda do Polytheama, que em 1922 passou para Luiz Severiano Ribeiro. E no local surgiu o magnífico Cine São Luiz.


A Luta do Empresário Popular


 O primeiro grande empreendedor do cinema cearense, José de Oliveira Rôla, o Zeca Rola, nasceu na Fazenda Retiro, em Trairi, no dia 12 de maio de 1867. Filho de Manoel de Oliveira Rôla, descendente de portugueses, que era o proprietário da Fazenda Taboca, na então Imperatriz (Itapipoca), próximo a São Bento (Amontada), quando menino e adolescente assistiu aos horrores das secas e pestes. Sua mãe, Dona Rita Xavier de Souza (Dindinha), sexta filha do coronel português Francisco Xavier de Souza, faleceu vítima de uma dessas moléstias. Com seus quatro irmãos, passou a infância em Trairi, estudando com o Professor José Joaquim Gouveia, que mais tarde tornara-se intendente interino (presidente da Câmara Municipal), ou seja, prefeito.


Ao lado do bonde, o Art-Nouveau, de José Rôla (Arquivo Nirez)



Ao chegar jovem na capital, empregou-se como caixeiro (auxiliar de tudo no comércio) na loja de louças de Joaquim Felício de Oliveira Lima, localizada também na rua Major Facundo. Pouco depois, em 1907, montou, em sociedade com o genro, Augusto Fiúza Pequeno, a sua primeira loja, Maison Art-Nouveau, bar-café-confeitaria requintado e autêntico, na esquina da rua Major Facundo com Guilherme Rocha (ou Rua da Palma com Municipal), prédio onde viria a funcionar, nos fundos, o Cine Di Maio, ou, para ser mais moderno, no Ed. Granito, onde tornou-se famosa a Tok Discos. Antes, ali, funcionava a Casa Almeida, a qual José Rola era sócio, e que em vista do Art-Nouveau, transferiu-se para adiante, Guilherme Rocha com Barão do Rio Branco. A Maison sobreviveu mais tempo que o maior concorrente, Riche (1926), mas acabou destruída por um incêndio por volta de 1930, quando encontrava-se arrendada.

 Confessou ao amigo Abelardo Montenegro ter sentido a morte do avô e da tia-avó materna, Semiramis de Oliveira Rola, e assim chamou o amigo e sua avó para morarem com ele. Dormiram no mesmo quarto, o mesmo se referindo ao trabalho no escritório, testemunhando a simplicidade e carinho do filho de Trairi.


Deu na Imprensa


 "O sr. José d'Oliveira Rôla, sócio gerente da "Maison Art Nouveau", veio à redação convidarmos a assistirmos amanhã, às 8 horas do dia, à inauguração dos novos e vastos salões do conhecido estabelecimento, agradecido". (Jornal do Ceará, 7 de dezembro de 1907)

 "Ante-ontem, domingo, teve lugar à inauguração da Maison-Art-Nouveau, presente grande número de pessoas, para cujo ato recebemos o convite do snr. José d'Oliveira Rôla, sócio gerente da mesma. Durante todo o dia, esteve repleta de visitantes, entre os quais cavalheiros e senhoras da melhor sociedade. Foi extraordinário o movimento da casa, que só se fechou às 12 horas da noite" (Jornal Unitário, 10 de dezembro de 1907)

 José Rola construiu no porto o "Pavilhão Atlântico", um abrigo para os viajantes, mas tinha a sua particularidade. Deslocava-se para lá e contactava os comandantes, conseguindo contratar suas orquestras para garantir a animação nas noites no seu salão, notadamente aos domingos. Colocava os músicos nos bondes e saía pela cidade divulgando as atrações. Chegou a ponto de promover as primeiras corridas de bicicletas, e obviamente gerando apostas financeiras, na Praça do Ferreira. E como amante do jogo, criou a Casa Americana, naquela praça, onde havia bilhares, jogo do bicho e até a atração maior, que era a imagem de um velho de óculos, "que decifrava sonhos e preia o futuro".

 José Rôla na Visão dos Historiadores



Família Rôla e Zeca
Conforme o pesquisador Edgar Alencar, José Rôla “era um homem de espírito, inteligente, inquieto, incansável, falante, com alma e tino de empresário, muito inclinado ao viver popular e estava sempre tomando iniciativas que agradavam o povo. Foi um grande animador da Praça do Ferreira, promovendo festas sociais e esportivas na Avenida Sete de Setembro (dentro da praça havia o logradouro com essa denominação, na qual se localizava). Foi o introdutor dos Brocoiós, caldo de cana naquela praça, além de leiloeiro acatado e respeitado. Sujeito a conjecturas que sempre afetaram o comércio na época, sofreu consequências, o que jamais contribuíram para que deixasse de ser uma figura popular e querida”.

 Para o sociólogo Abelardo F. Montenegro, "possuía espírito progressista e inovador, rompendo com a rotina dos lustres, iluminando seus estabelecimentos com luz elétrica". Bem antes do Estado, inaugurou uma rede particular de esgotos, aproveitando um trecho da Praça do Ferreira..."inaugurou mobiliário de cores, quebrando a monocromia do preto"..."terminou com o predomínio dos quiosques, abrindo casas confortáveis para freguesia "A esse homem que, a golpes de esforços e inteligência, ascendeu de caixeiro a patrão e a quem Fortaleza deve muitas inovações, ainda não foram prestada a merecida homenagem".

 "A esse incansável cearense muito de a cidade pelas suas constantes iniciativas, dotando-as de bares, tabacarias, garapeiras, cinemas e salas de bilhares". (Raimundo Girão).

 "Homem simples e alegre, tinha a verve espirituosa comum aos cearenses, identificando-se com todas as manifestações festivas do nosso povo". (Ari Bezerra Leite, estudioso em cinema)

 O nosso carinho à família Rôla, tradicional por seus serviços em Trairi, Itapipoca e Fortaleza. José Rola representa apenas um exemplo de devoção ao trabalho, amizade e solidariedade. Sempre ajudando o próximo, independente de classes sociais. Assim é esse povo. O povo de Nossa Senhora do Livramento.

Bibliografia:

“Fortaleza de Ontem e de Anteontem” -  Edgar Alencar.

"Fortaleza, a Era do Cinema" - Ari Bezerra Leite (fotos de José Rola & família, e da Praça do Ferreira)

"Geografia Estética de Fortaleza" - Raimundo Girão


O filme "Odette" (Dir. Giuseppe de Ligouro), com Francesca Bertini e Carlo Benetti, foi
exibido no Polytheama em 1 de agosto de 1916. (Fortaleza, a Era do Cinema)



sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Futebol Cearense - José Silveira, o Homem que Trouxe o 'Balão" da Suíça

Futebol do Ceará nasceu na Suíça - Jornal Correio do Ceará, 18/02/1963

Amor ao esporte abriu caminho ao profissionalismo - Por Teixeira Cruz




José Silveira. Levou o futebol ao Ceará em 1902
(Foto e matéria Correio do Ceará)


O chamado Esporte - Rei, que leva hoje incalculáveis multidões aos estádios, onde são ovacionados os ídolos do esporte campeão do mundo, o “rush” de um Saulzinho, as fintas desconcertantes de um Garrincha, os piques monumentais de Pelé, esse futebol que faz com que todo o subúrbio esqueça a crucial crise que nos atinge, que faz esquecer os s sucessivo aumentos do pão, do arroz e do feijão, o futebol – paixão do brasileiro, que faz conhecido o Brasil no exterior, segundo alguns, a única cousa séria deste país, tem uma longa história em uma terra. Nesta reportagem, procuraremos contribuir para subsidiar a história do futebol  cearense.


Como foi introduzido o futebol na nossa terra


 José Silveira, jovem cearense, sequioso de saber e de conhecer outras terras, outros costumes, partiu aos 15 anos, em 1899, para a Europa, indo parar na suíça Alemã, no Cantão de Sgallen, onde ingressou no Instituto Internacional Dr. Schmidt, que abrigava jovens  de todas as nacionalidades. Então, fez parte da equipe futebolística do Instituto, que era o Rosemberg Futebol Clube, onde atuava de center-half (meia, geralmente o camisa 5). Esse esquadrão era considerado o segundo da suíça, sendo batido apenas pela equipe do Grassopers (Gafanhotos) Futebol Clube, de Zurique. José Silveira foi o único cearense a atuar em gramados de Londres e Liverpool, defendendo os quadros suíços.


O Regresso à Taba  


Regressando a Fortaleza, em 1902, José Silveira trouxe a tiracolo dois “balões” de futebol, um livrinho de regras e sua indumentária de jogador de “association”. Mas tão logo chegou, viu-se às voltas com o problema dos jogadores, pois aqui ninguém jogava nem de leve futebol. Foi então que lembrou-se dos ingleses aqui residentes (é raro o inglês que não bata a sua bolinha). Entrou em contato com Nottingharn, sócio da firma Leite Barbosa, foi ao Cabo submarino e requisitou o apoio, para a empreitada pioneira, dos engenheiros dali, Mister Furlay, senior e Philips. No Gasômetro, integrou-se com os também engenheiros ingleses, Milly, Moise, Ferraby e Corlay, além de Mister Bleasby, das obras do Cais do Porto.  


Primeiros Bate - Bolas


 Convidou, então, Zé Silveira, os cearenses Marcondes Ferraz, Júlio Sá, Prisco Cruz, J. Queiroz e J. Henrique para comporem o time do Ceará Futebol Clube, de cearenses, e o segundo time de ingleses, que venceram por 2x1, cuja partida foi realizada defronte ao antigo Gasômetro, tendo a realização publicada no jornal “A República”, em maio de 1903. Os ingleses contaram com os jogadores citados e mais alguns que na época estavam a bordo ao largo, pois ainda não contavam com coisas contável.

 Para presenciar esse primeiro “match”, foi boa a afluência de pessoas. No entanto, disse-nos Zé Silveira: “o povo naqueles recuados anos foi desfavorável ao futebol. Os velhos verberaram contra,e  as senhoritas repararam em ver os homens com as canelas de fora, um desplante, mas depois,com a continuação, foram se acostumando e hoje éo que se vê: o povo só falta enlouquecer nos estádios”.
 O Ceará Futebol Clube existiu durante quase dois anos. Em 1905 desapareceu o futebol no Ceará para reaparecer em 1908, com a chegada de vários cearenses que também residiram na suíça. Essa turma, tendo à frente o jovem João Gentil, fundou o Stella Futebol Clube – o mesmo nome do time em que jogavam na suíça,contando com os seguintes elementos: Pedro Albano, Adriano Deodato Martins, José Raymundo Costa, Oscar Loureiro, José silveira, João Gentil, Capitão Atualpa, Menescal e Paulo Menescal. Jogavam no segundo plano do Passeio Público e treinavam onde hoje é a Praça da Lagoinha.


1915 e 1918: Ceará e Fortaleza.


Aproveitando elementos do time do Ceará Futebol Clube, o atual Sporting Clube foi organizado em 1915 pelo Dr. Sílvio Gentil Lima. Outro grupo de desportistas reorganizou o primitivo time do Stella Futebol Clube com outro nome, o do Fortaleza Esporte Clube, em 1918. Assim nasceram o tradicional “Vovô de nossas canchas” e o popular “Tricolor de Aço”.



O Stella Futebol Clube, time cearense homônimo ao suíço em que os cearenses jogavam, deu origem ao Fortaleza E. C. José Silveira é o n° 6. (Foto Aba Film)


Quem é José Silveira


 José Silveira, introdutor do futebol no Ceará, nasceu em Fortaleza em 1884. Fez estudos primários na capital cearense e o curso de madureza na suíça Alemã. Regressando à sua terra natal, ingressou na Faculdade de Direito. Em 1909, conquistou o seu pergaminho de doutor em Direito.
 Foi professor durante quase cinquenta anos, incluindo no velho Liceu e na Escola Normal. Poliglota, falando e escrevendo cinco línguas: francês, inglês, alemão, espanhol e italiano, traduzindo esses idiomas desde 1906.
Com oitenta anos bem vividos, aposentado na cadeira de espanhol do Liceu, o velho professor, ainda rijo e lúcido, diz: ”sou um veterano no magistério, e dediquei a minha vida ao nobre ofício de ensinar, mas faço questão de frisar: nunca pedi um emprego ou posição, e devido ao meu retraimento, sempre fui um esquecido”.



Nota do Blog :


José Agnelo da Silveira. Fortaleza, 29/09/1884 - 18/07/1968. Pais: José Maria Silveira e Maria da Glória Carneiro Silveira, portugueses.


Deputado estadual e prefeito de Trairi CE na década de 1920.


Tradutor Público do Estado do Ceará. Chegou a traduzir norueguês, sueco, árabe, russo e holandês, além das cinco línguas citadas, as quais falava fluentemente.


Professor do Colégio Colombo, antigo Colégio Nogueira.
Professor da Escola Fênix Caixeiral.
Professor do Ginásio São Luiz.
Professor do Liceu do Ceará.
Professor da Escola Normal D. Pedro II, posteriormente Colégio Estadual Justiniano de Serpa.
Professor da Escola Doméstica de Fortaleza.
Professor do Ginásio Fortaleza.
Professor do Ginásio Americano.
Professor do Colégio Juvenal de Carvalho.
Professor do Ginásio Santa Maria.


O Gasômetro, de hidrogênio, que iluminava  Fortaleza, mantido pela Ceará Gás Company Limited (Inglaterra), foi inaugurado em 1867. Localizava-se no lado norte, terceiro plano do Passeio Público, descida para a praia, num terreno cedido pela Santa Casa. Seus funcionários, ingleses, jogavam futebol antes da empreitada no Ceará. Entende-se que as primeiras partidas de futebol foram realizadas em espaço limitado.


Em 2 de junho de 1914, surgiu o Rio Branco F. C., durante reunião na residência de Luís Esteves Junior, na rua Tristão Gonçalves, 6. No ano seguinte, na data comemorativa ao primeiro aniversário, uma assembléia alterou o nome para Ceará Sporting Club, à frente o Dr. Sílvio Gentil Lima. Portanto, não confundir com o primeiro time cearense, Ceará Futebol Clube.






quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Trairi - O Município nos Anos 1900

Trahiry - Almanach dos Municípios - 1908


Rio das Trahyras, de Trahyra peixe d’este nome y água - José de Alencar, Iracema.
A villa é marginada ao sul pelo rio Thahiry. Existem no município as povoações de Mundahú, Lavagem e Belém.
Na sede há duas ruas chamadas Dr. Accioly e Cel. João Cordeiro, e praças da Matriz, Dr. Campello e Cel. Barroso.
Os únicos edifícios dignos são a Matriz e a Cadeia.
As feiras do Trahiry realisam-se aos domingos com uma concorrencia de duzentas pessoas mais ou menos, contando-se: carne a 600 réis; peixe 500 réis; farinha 80 réis (litro); milho 140 réis (dito); feijão 200 réis (dito); rapadura 100 réis (uma), aguardente 2#500 réi (canada).

O commercio é representado pelas seguintes firmas: Fortunato Barroso Cordeiro, Antero de Oliveira Rôla, Aristides Galdino da Silva, Canuto Camerino  Mariseira e Bernardino José Rodrigues, estes dois últimos  no Mundahú.


Almanach dos Municípios 1908. Os dados são anteriores ao ano citado.



Sítios com engenhos de ferro: Estrella, de Luiza Ferreira dos Santos Xavier; Conceição, de Apolinário Dias de Senna; Manguinho, de João Barbosa de Amorim;  Barrinha, de José Fernandes Braga; Criancó, de Fortunato Barroso Cordeiro; Criancó, de João Alves da Silva; Bom, de Manoel Simplício Damasceno; Mundo Novo, de Vicente Ferreira Néry; Mundo Novo, de Maria de Sousa Souto; Lavagem, de Francisco Ferreira da Cunha; Gangorra e Palmané, de Raymundo Ferreira da Cunha, Gangorra e Lavagem: Raymundo Ferreira dos Santos.




Câmara Municipal – Intendente, Francisco Ribeiro da Cunha; Presidente, Cel.  Anastácio Tabosa Braga; vereadores: José Joaquim de Gouveia, Anacleto de Castro Jatahy, José Thomaz de Paula, Luiz de Souza Machado; Raymundo Nonnato da Paixão, Manoel Pereira da Costa e José Fernandes Braga.

A agencia do correio está a cargo de D. Francisca Xavier Pereira. Recebe malas as quintas-feiras.
A principal fonte de riqueza do municipio consiste em peixes, gados e lavoura, constando esta em milho,arrox, feijão,farinha,algodão e canna.

Na villa do Trahiry nasceu o poeta Álvaro Martins, auctor dos “Pescadores  da Tahyba” e de outras producções de incontestavel merecimento litterario.

Análise dos nomes citados:


Lavagem: Atual Canaan, distrito de Trairi.
Belém: Antiga Natividade, hoje Cemoaba, distrito de Tururu CE. Origem da família Barbosa.
Accioly: Antônio Pinto Nogueira Accioly. Presidente da Província e do Partido Republicano Conservador no Ceará (1896 – 1912)
Cel. João Cordeiro: Comerciante, líder do movimento abolicionista no Ceará (Sociedade Cearense Libertadora), deputado, senador, chegando a governar a província.
Dr. Campello: Francisco da Rocha Campello, Juiz. Destacou-se na luta por ajuda aos flagelados da seca de 1877-1879.
Cel. Barroso: Antônio Barroso de Souza, primeiro juiz de Trairi. Foi intendente e presidente do Conselho de Intendência na época da grande seca de 1877-1879. Suas terras situavam-se na parte sul do Estrela.
Fortunado Barroso Cordeiro: Vereador, sobrinho do coronel Antônio Barroso de Souza. A rua “de baixo” denominou-se seu nome, primeiro morador do prédio onde se instalou, futuramente, o Fórum.
Antero de Oliveira Rôla: Comerciante, vereador e neto de Manoel de Oliveira Rôla, proprietário da fazenda Taboca, em Imperatriz (Itapipoca).
Aristides Galdino da Silva: Conhecido como Seu Mirista, comerciante, filho do português Francisco Galdino da Silva, o Chico Viturino.
Canuto Camerino  Mariseira: Vereador, comerciante de carnes e peixes.
Bernardino José Rodrigues: Comerciante descendente de Bernardo Soares de Almeida (Mundaú). O Rodrigues vem da família da avó, Joana, de Cascavel CE.
Luiza Ferreira dos Santos Xavier: Esposa de Francisco Ferreira da Cunha, filho do farmacêutico Joaquim Thomaz da Cunha (Marinheiro Cunha).
Apolinário Dias de Senna: Patriarca dos Dias (Neco) e Sena (Vara), que povoaram a vila de Guajerú.
João Barbosa de Amorim: Vereador, filho do português Manoel Barbosa de Amorim.
José Fernandes Braga: Vereador, filho do Intendente Anastácio Braga.
João Alves da Silva: Genro de Joaquim Thomaz da Cunha, rico comerciante e boêmio. Casou-se duas vezes.
Manoel Simplício Damasceno: Fazendeiro de origem de Passagem do Tigre (Paraipaba).
Vicente Ferreira Néry: Patriarca da família Neri.
Maria de Sousa Souto:  Herdeira dos primeiros povoadores do Mundo Novo.
Francisco Ferreira da Cunha: Gangorra. Vereador, de Canaan.
Raymundo Ferreira da Cunha: Coronel da Guarda Nacional e vereador.
Raymundo Ferreira dos Santos: De Canaan, acreditamos tratar-se do anterior.
Francisco Ribeiro da Cunha: Intendente, teve que abandonar o cargo de vereador para não acumular duas funções.
Cel.  Anastácio Tabosa Braga: Presidente da Comissão de Intendência (Câmara de Vereadores). Não confundir com Anastácio Alves Braga, fazendeiro e política de Itapipoca, assassinado à balas.
José Joaquim de Gouveia: Um dos primeiros professores (para homens de Trairi) e Presidente da Comissão de Intendência (Câmara de Vereadores).
Anacleto de Castro Jatahy: Vereador da região das Lages/Gualdrapas. Industrial que comandava a fábrica de beneficiamento de algodão daquela comunidade.
José Thomaz de Paula: Vereador.
Luiz de Souza Machado:  Tio Lulu, do Genipapeiro. Vereador, casado com Modesta Tolentino Chaves, filha de Nicolau Tolentino Chaves. Juntando as famílias, Machado e Chaves, eram donas das terras que iam do Córrego da Onça ao Genipapeiro.
Raymundo Nonato da Paixão: Vereador e comerciante do Mundaú.
Manoel Pereira da Costa: Vereador, da família dos três irmãos que chegaram de Portugal: José Francisco (Tio Cazuza), Isaías e Manoel Pereira. De Murimbeca.
Francisca Xavier Pereira: Famosa costureira, filha de Manoel Francisco Pereira com a segunda esposa, Florisminda. Sua sobrinha, Madrinha Morena, a substituiu nos Correios.
Álvaro Martins: Poeta e jornalista, membro-fundador dos grêmios literários Padaria Espiritual e Centro Literário. Suas quadras de rimas são consideradas das mais perfeitas, segundo os críticos.