Os Primeiros Cinemas de Fortaleza
Av. 7 de Setembro, 12 (Cine Polytheama) |
Em 26 de agosto de 1908, a cidade se espantou com a chegada do Cine Di Maio, ou "Cinematographo Art Nouveau", do italiano Vittorio di Maio, na antiga rua da Municipalidade, ou Intendência, hoje Guilherme Rocha. Vittorio, que era considerado o "Pai do Cinematographo no País", por ironia do destino acabou falecendo dentro do próprio no dia 21 de abril de 1926. Já em 1909, chegou o Cine Rio Branco, de Henrique Mesiano, na rua Barão do Rio Branco (antiga Rua Formosa) e o Cassino Cearense (Júlio Pinto).
Dois grandes
capitalistas, Luiz Severiano Ribeiro e Alfredo Salgado, compraram o Cine Di
Maio, pois Vittorino falecera. Nascia o Cine Riche e o império das sétimas
artes do cearense de Baturité, Severiano Ribeiro.
Polytheama, do Homem de Trairi
José Rôla |
O Cine-Teatro Polytheama foi o primeiro a instalar-se no meio do quarteirão nobre do Centro, ao lado da Praça do Ferreira, na rua Major Facundo, antiga Rua da Palma. Na verdade, na Av. 7 de Setembro, 12. Para muitos, o cinema número um. De propriedade da firma “Rôla, Irmão & Cia” (José e Chico, também ex-caixeiro), de imediato conquistou a preferência popular, com seus bons serviços, conforto e sofisticação.
No Ceará, foi o primeiro a exibir filmes americanos, da famosa William Fox Corporation, assim como os suecos da Nordisk. Porém, numa ousada investida do concorrente, Luiz Severiano Ribeiro, foi fundado o magnífico e completo Cine Majestic, em 1917, ao seu lado, no prédio mais alto da cidade, onde também funcionou um hotel. Então veio a queda do Polytheama, que em 1922 passou para Luiz Severiano Ribeiro. E no local surgiu o magnífico Cine São Luiz.
A Luta do Empresário Popular
O primeiro grande
empreendedor do cinema cearense, José de Oliveira Rôla, o Zeca Rola, nasceu na Fazenda Retiro, em
Trairi, no dia 12 de maio de 1867. Filho de Manoel de Oliveira Rôla, descendente de portugueses, que era o proprietário da
Fazenda Taboca, na então Imperatriz (Itapipoca), próximo a São Bento (Amontada), quando menino e adolescente assistiu aos horrores das secas e pestes. Sua mãe, Dona Rita
Xavier de Souza (Dindinha), sexta filha do coronel português Francisco Xavier
de Souza, faleceu vítima de uma dessas moléstias. Com seus quatro
irmãos, passou a infância em Trairi, estudando com o Professor José Joaquim
Gouveia, que mais tarde tornara-se intendente interino (presidente da Câmara Municipal),
ou seja, prefeito.
Ao lado do bonde, o Art-Nouveau, de José Rôla (Arquivo Nirez) |
Confessou ao amigo Abelardo Montenegro ter sentido a morte do avô e da tia-avó materna, Semiramis de Oliveira Rola, e assim chamou o amigo e sua avó para morarem com ele. Dormiram no mesmo quarto, o mesmo se referindo ao trabalho no escritório, testemunhando a simplicidade e carinho do filho de Trairi.
Deu na Imprensa
"O sr. José d'Oliveira Rôla, sócio gerente da "Maison Art Nouveau", veio à redação convidarmos a assistirmos amanhã, às 8 horas do dia, à inauguração dos novos e vastos salões do conhecido estabelecimento, agradecido". (Jornal do Ceará, 7 de dezembro de 1907)
"Ante-ontem, domingo, teve lugar à inauguração da Maison-Art-Nouveau, presente grande número de pessoas, para cujo ato recebemos o convite do snr. José d'Oliveira Rôla, sócio gerente da mesma. Durante todo o dia, esteve repleta de visitantes, entre os quais cavalheiros e senhoras da melhor sociedade. Foi extraordinário o movimento da casa, que só se fechou às 12 horas da noite" (Jornal Unitário, 10 de dezembro de 1907)
José Rola construiu no porto o "Pavilhão Atlântico", um abrigo para os viajantes, mas tinha a sua particularidade. Deslocava-se para lá e contactava os comandantes, conseguindo contratar suas orquestras para garantir a animação nas noites no seu salão, notadamente aos domingos. Colocava os músicos nos bondes e saía pela cidade divulgando as atrações. Chegou a ponto de promover as primeiras corridas de bicicletas, e obviamente gerando apostas financeiras, na Praça do Ferreira. E como amante do jogo, criou a Casa Americana, naquela praça, onde havia bilhares, jogo do bicho e até a atração maior, que era a imagem de um velho de óculos, "que decifrava sonhos e preia o futuro".
José Rôla na Visão dos Historiadores
Família Rôla e Zeca |
Para o sociólogo Abelardo F. Montenegro, "possuía espírito progressista e inovador, rompendo com a rotina dos lustres, iluminando seus estabelecimentos com luz elétrica". Bem antes do Estado, inaugurou uma rede particular de esgotos, aproveitando um trecho da Praça do Ferreira..."inaugurou mobiliário de cores, quebrando a monocromia do preto"..."terminou com o predomínio dos quiosques, abrindo casas confortáveis para freguesia "A esse homem que, a golpes de esforços e inteligência, ascendeu de caixeiro a patrão e a quem Fortaleza deve muitas inovações, ainda não foram prestada a merecida homenagem".
"A esse incansável cearense muito de a cidade pelas suas constantes iniciativas, dotando-as de bares, tabacarias, garapeiras, cinemas e salas de bilhares". (Raimundo Girão).
"Homem simples e alegre, tinha a verve espirituosa comum aos cearenses, identificando-se com todas as manifestações festivas do nosso povo". (Ari Bezerra Leite, estudioso em cinema)
O nosso carinho à
família Rôla, tradicional por seus serviços em Trairi, Itapipoca e Fortaleza.
José Rola representa apenas um exemplo de devoção ao trabalho, amizade e
solidariedade. Sempre ajudando o próximo, independente de classes sociais. Assim
é esse povo. O povo de Nossa Senhora do Livramento.
Bibliografia:
“Fortaleza de Ontem e de Anteontem” - Edgar Alencar.
"Fortaleza, a Era do Cinema" - Ari Bezerra Leite (fotos de José Rola & família, e da Praça do Ferreira)
"Geografia Estética de Fortaleza" - Raimundo Girão
“Fortaleza de Ontem e de Anteontem” - Edgar Alencar.
"Fortaleza, a Era do Cinema" - Ari Bezerra Leite (fotos de José Rola & família, e da Praça do Ferreira)
"Geografia Estética de Fortaleza" - Raimundo Girão
O filme "Odette" (Dir. Giuseppe de Ligouro), com Francesca Bertini e Carlo Benetti, foi exibido no Polytheama em 1 de agosto de 1916. (Fortaleza, a Era do Cinema) |
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