sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Fortaleza E. C. - Gumercindo, As Cores da Charanga


Jogador de base do Leão (GN)

Ex-jogador, conselheiro e diretor-proprietário do Fortaleza Esporte Clube, Gumercindo fez de tudo pelo seu clube de coração, destacando-se nas contratações e ajudando na causa social, promovendo eventos na sede do clube ao lado do amigo Luiz Rolim Filho. Antônio Alberto Ramalho Rolim, nasceu no bairro do Benfica, em Fortaleza, onde fez estudos primários, logo partindo para os profissionais, no colégio Carlos de Carvalho, formando-se como contador na primeira escola do gênero da cidade, o Fênix Caixeiral, em 1959.


O Comerciante


Pick-up das tintas (GN)
  Cedo, 16 anos, foi trabalhar com seu pai, Gumercindo Maia Gondim, que, afeito à amizades com clientes e comerciantes,  logo lhe indicou, em 1949, como empregado da famosa loja criada pelo Sr. Adolfo Quixadá, primeiro representante cearense  das Tintas Ypiranga, a Quixadá Comercial Importadora, dirigida pelos filhos, tido como funcionário exemplar e talentoso, passando de vendedor à sub chefe de sessão. Contudo, após o falecimento do pai, deu continuidade aos negócios da família, ao lado da mãe, representando as Tintas Ypiranga, Globo S. A., Mineração Indústria e outras marcas . No mesmo endereço da sua fundação, em 1938: Rua Floriano Peixoto, 786. Dali surgia uma empresa que muito ajudou o Clube da Garotada: “O Gumercindo”.


O Jogador




Troféus no seu escritório (GN)
Havia um clube muito famoso e rival do Fortaleza, o Sport Club Maguary, campeão cearense em 1929, 1936 e bi-campeão 1943-44. Por ele, curiosamente de cores preta e branca,  o garoto Gumercindo torceu até a sua extinção, em 1946 (retornou no campeonato de 1972). Em seguida, jovem, Gumercindo, ao lado dos irmãos Moésio e Mozart Gomes, fundou o Prado Futebol Clube, que teve ainda Piolho, jogadores que acabaram se profissionalizando pelo Fortaleza, clube que passou a torcer definitivamente, após entrar nos aspirantes, em 1949. Ainda nesse quadro inferior, jogou pelo Ceará e em seguida, já jogador profissional, pelo América, que possuía dirigentes respeitáveis, como o Dr. José Mário Mamede e Canamari Ribeiro. Tentou vaga no seu clube de coração, mas no Fortaleza só conseguiu titularidade no profissional em alguns jogos. O que ganhava do futebol dava como incentivo aos jovens valores.

A Charanga



A charanga em 1965 (GN)

 Apaixonado, sem perder uma partida, com seus móveis e imóveis pintados em azul, vermelho e branco, passou para a diretoria. Procurando alternativas para atrair recursos financeiros, ousou no trabalho de marketeiro, atraindo sócios. As ações passaram a ser vendidas em três valores, de modo que os sócios-proprietários mantinham o clube na ausência de patrocinadores. Gumercindo incluiu entre eles a família. Já no social, animava os finais de semana sem jogos na Capital com festas no Pici, comandadas por Jackson de Carvalho e Luiz Rolim Filho. Nessa época já havia a sua charanga, fundada em 10 de maio de 1960, coincidindo com o dia do seu aniversário. O nome dela foi uma menção do Dr. Silvio Leite, que considerava Gumercindo o maior torcedor do Fortaleza. Numa tarde daquele ano, no estádio Presidente Vargas, o advogado saudou: “Essa é a Charanga do Gumercindo, nosso maior torcedor!”. Com certeza a maior do Estado, pois seu prestígio a fez participar dos desfiles de carnaval da cidade até o seu final, no início dos Anos 80.



Sem perder o pique, em 1979 (Tribuna do Ceará)


O Diretor


 Em 1965, com o Fortaleza bi-campeão, com um ataque avassalador (Birungueta, Facó, Croinha e Mozart) deu a dica de como ser campeão: “é, antes de tudo, o jogador ser tratado como ser humano. Precisa de uma cobertura total na sua vida particular e completo apoio de toda a diretoria do clube a que pertence para que na venha sofrer de complexo de inferioridade”. Reconheceu que sentiu o drama no ano de 1964, quando teve que intervir com dirigentes que fugiam a esse pensamento. Não mudou o foco, construindo uma vila para alojamento dos jogadores, a qual mantinha, e ali, nas horas vagas, procurava dialogar com os atletas.

Torcendo no Céu


 A partir de 1983, questão particular mudou a vida de Gumercindo, afastando-se do futebol. Faleceu em 1985, no dia do aniversário do seu amado Clube de Glória e Tradição, 18 de outubro, mais um ano de campeonato vencido pelo Leão.

Pesquisa: Jornal Gazeta de Notícias (GN)


Charanga do Gumercindo na geral do Castelão. (Foto Tribuna do Ceará)



Fortaleza E.C. - Croinha, o Artilheiro do Pici


Chegando ao Pici em 1965. (GN)

Edson José da Silva foi o grande ídolo do Fortaleza nos anos 60. Revelado profissionalmente pelo Maranhão Atlético Clube (MAC), foi contratado pelo presidente Otoni Diniz e estreou pelo clube cearense em 1965. Nascido em  21/08/1940 no Recife PE, a meninada curiava o seu aspecto físico, como a imagem de uma coroa na cabeça, pronunciada como “crôa”, pegando o apelido de “Croinha”. O garoto identificou-se cedo com a bola de futebol, encantando-se com as peladas, e logo estava jogando pelos times amadores da capital pernambucana, quando estreou pela segunda divisão pelo "Hiolanda".



Fome de Gol

 Artilheiro absoluto no Maranhão, de 61 a 64, com 184 gols, o segundo maior da história, o centroavante, que a princípio não chamou atenção, pelo jeito desengonçado, honrou a camisa tricolor, sendo artilheiro nos anos de 1966, 1967 e 1969, o que lhe valeu verdadeira idolatria da torcida, especialmente juntando-se a isso o vice-campeonato brasileiro (Taça Brasil de 1968) e o título do Norte e Nordeste de 1970. Mas na estreia contra o América, em 1965, não convenceu. Sentiu o peso da camisa e a força da galera apaixonada, valendo-lhe o título de “Bonde do Maranhão” do grande nome da imprensa esportiva da época, Paulino Rocha. Avisaram a ele que o radialista torcia pelo rival e devolveu, marcando os gols da final do primeiro turno: 3x1 sobre o Ceará. O brilhante comentarista foi humilde: “´É, foram zangar o homem, olha aí o que ele fez!”. Croinha dizia que tinha gosto especial de fazer gol no alvinegro, sendo dele o maior carrasco.

Fim Precoce



 1:78 metro, levou uma vida paralela como os jovens  atletas da época: boêmia, na qual se  gastava além da conta. Ainda assim tinha um grande preparo físico,pois corria bastante e com o oportunismo peculiar estava no local exato para mandar a bola ao gol. Passou seis meses novamente no Maranhão e retornou nos braços do torcedor, uma exigência do treinador, Carlos Castilho. Jogou pelo Fortaleza até 1972, quando passou a “crôa” de linha avançado para outra divindade tricolor, Beijoca. Croinha se sentia velho e encerrou a carreira, em 1973, pelo Tiradentes, marcando o seu último tento na vitória de 2x1 sobre o Guarany de Sobral, no dia 30 de junho de 1973, aos  33 anos, sem festas, sem despedidas.

Vigilante Municipal

Praça J. de Alencar: Croinha guarda

Em seguida, as dificuldades que a maioria dos jogadores humildes não escapa, notadamente a problemática financeira. Nos  anos 80, com 45 anos, trabalhava como guarda da prefeitura na Praça José de Alencar, ganhando pouco para o sustento da família. Com esposa e sete filhos, sendo seis mulheres, reforçava as finanças em volta de jogos em clubes de subúrbios, como o “Fortaleza”, do Mucuripe, afinal dizia que queria morrer jogando futebol.

 De tantas alegrias a um clube, na inocência comprou uma casa, que seria própria se a escritura não fosse falsa, vivendo para sempre de aluguel no bairro periférico de Bom Jardim, na capital cearense.  Dizia Croinha  que nunca havia ido atrás das pendências contratuais, pois se jogava com paixão, enquanto na geração seguinte, pelo “bicho”. Por isso, deixou de receber várias dívidas do clube, mas sempre reclamou da direção, que prendeu seu passe, retendo-o no Fortaleza.



Matador do Bahia



Jornal Correio do Ceará: Croinha 1x0

 Disse ao jornal O Povo, em 1984: “Um dos momentos mais interessantes que passei foi contra o Bahia. Perdemos o primeiro jogo lá por 1x0. O Otoni Diniz quis vender o mando de campo, para novo confronto na Fonte Nova, mas o Gumercindo (conselheiro) pagou do próprio bolso toda a passagem de volta da delegação. Fizemos o segundo jogo e ganhamos pelo mesmo placar e fomos para a prorrogação. Perdíamos de 1x0 e a torcida já começava a sair, quando Mozart empatou. No final, entrei na área e fui derrubado. O juiz marcou pênalti. Eu bati e marquei o gol da vitória. Foi a minha maior emoção”. Exatamente no dia 9 de fevereiro de 1969, como mostra, anexo, o jornal Correio do Ceará, com o placar do tempo normal, pela Taça Brasil.

1969: Croinha marca e despacha o Bahia no PV lotado (Correio do Ceará)


O Time de Croinha


 O maior goleiro que enfrentou foi Pedrinho, campeão pelo América em 1966; seu maior marcador, Cícero, do Ceará (“ele colava em mim e era difícil encontrar espaço para finalizar”), mas seu maior lançador foi o meio-campista Joãozinho. Eis a sua seleção, cearense: Pedrinho (América), William (FEC), Zé Paulo (FEC), Renato (FEC) e Carneiro (FEC); Edmar (FAC), Coca-Cola (FAC) e Gildo (CE); Birungueta, Croinha e Mozart (trio arrasador do Fortaleza). Na sua opinião, seu gol mais bonito foi contra o América, em 1966: “Eles tinham um timão e defesa batia muito. Peguei uma bola na corrida, banhei o Pedrinho (goleiro), enquanto o Ribeiro (zagueiro) veio para me arrastar, mas apena s toquei de cabeça e o encobri.


“ Jogador é que nem prostituta, só tem valor quando está novo”. Croinha, 138 gols pelo Fortaleza, uma marca histórica.

No MAC, onde iniciou profissionalmente.


Pesquisas: JornaiGazeta de Notícia e O Povo.


Bi-campeão Cearense 1964-65. Croinha com a bola








quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Trairi - Encanto da Natureza Cearense

"Trairi Bela e Rica!" - Jornal Correio do Ceará, 7/12/1965

 Autor: Helder Feitosa. Fotos: Vieira Queiroz




1965: durante a última gestão de Zé Granjinha, a construção da ponte. Encantos mil.


Existe no Ceará uma pequena cidade praiana digna de ser vista pelos mais exigentes turistas internacionais. Trairi foi beneficiada pela providência com um privilégio todo especial. Se o sertão agreste é vítima da calamidade da seca, aquela pequena comuna tem a proteção valiosa da natureza, constituindo-se num recanto altamente pitoresco e possuidor de um solo fertíssimo.

 A paisagem encantadora que circunda o município trata-se de um espetáculo belo ainda não decantado pelos turistas porque é totalmente desconhecido pelos cearenses. Mas a fecunda terra não está recebendo o tratamento devido do homem, que a mantém inexplorada e relegada em incrível abandono. Trairi poderia ser não somente um polo de atração turística como também poderosa fonte de renda ao Estado.

 Os frutos que dela seriam colhidos, se bem cultivados, abasteceriam até mesmo Fortaleza. Acontece, entretanto, a cidade contemplada serve apenas para os moradores como “quadro belo e poético” necessário ao encantamento dos olhos. Ela é vista unicamente por esse lado. Ninguém ainda lembrou-se ou teve a iniciativa de vê-la pela face técnica.  Por outro lado, apesar dos pesares, e para que se tenha uma ideia das perspectivas das enormes vantagens do torrão trairiense, basta citar que se arranca dali uma média de 850 mil cocos anualmente como prova indiscutível do privilégio do solo daquela terra.

 Se o Egito é um dom do Nilo, é porque souberam aproveitar a valiosa oferta do milagroso rio. Se o mesmo ocorresse com o trairiense ou com o cearense de modo geral, usando o privilégio da terra fértil proporcionada pela natureza, a pequena cidade do Trairi seria hoje um dos mais prósperos municípios do Estado, bem como um verdadeiro ponto turístico.

Rio Trairi no final de 1965. 



terça-feira, 18 de outubro de 2016

Trairi - Mundaú 1965: O Sumiço de Pescadores

 "O Luto Incerto" - Jornal Correio do Ceará, 17/11/1965

 Texto: Helder Feitosa. Fotos: Vieira Queiroz


Esposas, as mais esperançosas 

Deu à praia de Mundaú, próximo de Itapipoca, uma jangada de madeira que se supõe ser a “Lambreta”, na qual Jerônimo e mais três companheiros usaram na fatídica viagem. A informação partiu de pessoas residentes em Fortaleza que estiveram naquele local em gozo de férias. Se verídico tal informe, então fora de cogitações as hipóteses de sobrevivência do legendário pescador e dos demais colegas. Afastam-se também as possibilidades da frágil embarcação ter sido abalroada por um navio.

 Mesmo assim, ainda se constitui intricado o mistério sobre o que vem ocorrendo nos últimos meses nas costas cearenses. Em menos de sessenta dias, sete jangadeiros foram tragados pelo mar, motivando uma onda de receio e deixando atônitos os homens que arrancam o ganha-pão no oceano.

Nada de Providências


 A situação torna-se mais grave quando se sabe que a menor providência não foi adotada para a elucidação dos fatos. Pais de famílias deixam os lares em busca de trabalho no mar, não retornam mais e o caso fica relegado numa incrível  indiferença. Sendo assim,  os parentes, impossibilitados de quaisquer recursos, atravessam momentos angustiosos e vivem um drama comovedor, sem saberem o que fazer, porque não existe um órgão governamental competente a quem possa dirigir-se.

 Pescador, Ofício Ingrato


 É, realmente, um ofício ingrato e de pescador. A água furiosa lhe atraiçoa e ninguém se interessa pelo seu infortúnio. Entrementes, o que estaria acontecendo nos mares cearenses? Eis a pergunta que paira no ar e cuja resposta tão cedo poderá advir. Nada menos que sete viúvas de jangadeiros atravessam com filhos e familiares um problema enigmático: estariam mortos os seus maridos ou eles permanecem vivos encalhados em alguma praia? Trata-se de outra indagação difícil de ser respondida. E quem poderia responder positivo ou negativo se nada oficial existe para um pronunciamento nesse sentido?

 Há poucos meses, um avião caiu bem próximo à Praia do Futuro (Fortaleza) e, até hoje, o paradeiro dos corpos do piloto e do geólogo que vinha a bordo estão envoltos de denso mistério. O desastre não se passou despercebido completamente em virtude da contribuição da Base Aérea e da nossa Marinha, que puseram em prática os deus sistemas de busca e salvamento, o que ocorreu agora mesmo com o caso de Jerônimo. Acontece, entretanto, que tais atitudes partiram de uma colaboração espontânea por parte daqueles órgãos, os quais não são imbuídos para TAM mister.

Viúvas?


 Para muitos é um fato consumado. Os sete jangadeiros estariam motos. Porém, para as viúvas, as esperanças não morreram e o dilema continua.  Para elas, os queridos partiram para pescar e estão chegando. Nenhuma autoridade lhes forneceu atestado de óbito. Por isso, como a mulher de Jerônimo, vão diariamente à praia e alimentam a ilusão de que seus maridos ainda vivem. Algumas delas vestiram luto, outras, no entanto, rejeita esse traje porque não sabem de nada. Somente o tempo é que se encarregará de esclarecer. Mas quem fornecerá os atestados de óbito às viúvas dos jangadeiros?

Esposa com a foto de Jerônimo. Teria sido devorado pelo mar o legendário dragão?




sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Trairi Eleições 2016 - Resultado para Prefeito - Por Distritos

Trairi

Total de eleitores:  43.009

Comparecimento: 82,16%
Abstenções: 17,86
Votos nulos: 1,4%
Votos brancos : 1,85%
Votos válidos: 78,91%

Candidatos a prefeito


- MARCOS PRADO - PSDB (Eleito):

Total de votos: 17. 127
Porcentagem de votos válidos: 51,56%
Porcentagem de votos do total: 39,82%

- GUSTAVO AGUIAR – PDT:

Total de votos: 13.010
Porcentagem de votos válidos: 39,16%
Porcentagem de votos do total: 30,24%

- NARA PORTO - PSD:

Total de votos: 3.083
Porcentagem de votos válidos: 9,28%
Porcentagem de votos do total: 7,16%

Votos válidos por Distritos:

Sede:

Gustavo Aguiar: 48,8%
Marcos Prado: 43%
Nara Porto: 8,2%

Mundaú:

Marcos Prado: 70,18%
Gustavo Aguiar: 21,35%
Nara Porto: 8,47%

Canaan:

Marcos Prado: 48%
Gustavo Aguiar: 40%
Nara Porto: 12%

Gualdrapas:

Marcos Prado: 55,8%
Gustavo Aguiar: 41,9%
Nara Porto: 2,3%

Córrego Fundo:

Marcos Prado: 47,9%
Gustavo Aguiar: 47,8 %
Nara Porto: 4,3%

Votação nas praias (Mundaú, Emboaca, Flecheiras e Guajiru):

Marcos Prado: 62,5%
Gustavo Aguiar: 29%
Nara Porto: 8,5%

Votação por Localidades (Pela ordem dos três candidatos):


                         Marcos Prado - Gustavo Aguiar  -  Nara Porto

Água Boa                    -           214 - 76 -  8
Água Boa dos Sales  -              84 - 44 -  8
Alagadiço de Cima   -            397 - 295 - 60
Algodoim                    -           168 - 167 - 9
Almercegas               -            130 -  69 -  82
Angelim                     -            246 - 47 - 24
Assentamento Batalha -        92 - 76 -  4
Bacumixá                         -      270 - 123 - 126
Bacumixá de Baixo        -        90 - 63 - 64
Barrinha do Norte         -      136 - 113 - 19
Batalha                            -      397 - 156 - 15
Cajazeiras                        -     149 -  72 - 4
Campestre                      -      371 - 183 - 22
Cana Brava                     -      122 - 268 - 48
Canaan                            -     1028 - 949 - 259
Caraúbas                        -       114 -  44 - 16
Carnaúba Torta             -       408 - 383 - 64
Centro                             -     1956 - 2314 - 431
Chão Duro                     -       116 -  79 - 50
Clemente                       -       255 -  70 - 37
Córrego da Ramada     -         85 -  97 - 33
Córrego dos Furtados  -       239  212 - 39
Córrego dos Pires         -         67 – 25 - 2
Córrego Fundo              -       344 - 491 - 18
Curimãs                          -         38 - 23 - 59
Emboaca -             176 - 280 - 27
Estrela -                 150 -  70 - 23
Fazenda Velha  -    61 -  17 - 24
Flecheiras -            937 - 554 - 99
Genipapeiro -         65 -  47 - 8
Guajiru -                331 -  99 - 92
Gualdrapas -         636 - 622 - 29
Gualdr. Bonfim -  126 - 66 - 3
Gurguri -                163 - 86 - 11
Ilha -                       140 - 165 - 15
Jandaíra -                44 -  26 - 34
Lagoas Novas -     261 -  99 - 55
Manguinhos -        30 - 87 -  4
Marrecas -            159 - 179 - 12
Miranda Ipu -       115 -  30 - 7
Mirandinha -        137 -  42 - 3
Mundaú -            1627 - 495 - 196
Mundo Novo -     151 -  80 - 20
Munguba -           266 - 223 - 43
Muribeca -           182 - 121 - 106
Olho Dágua -        97 -  23 - 10
Pe. Anchieta -     360 - 155 - 13
Palmeiras -           68 -  57 - 2
Panan -                199 - 102 - 23
Passa Lição -         94 –-100 - 23
Peixinhos -          204 - 233 - 22
Porteiras -           123 -  23 - 6
Purão -                 355 - 442 - 63
Quebra Braço -   120 - 119 - 7
Riachão -               121 -  56 - 3
Riacho do Meio  -  54 -  76 - 20
Salgado Nicolau -  54 -  78 - 25
Serrinha -              860 - 877 - 124
Serrote -                 60 -  67 - 42
Tamanduá -          131 -  51 - 15
Tigipió -                 217 - 136 - 95
Timbauba -           140 -  50 - 52
Ubaia -                    27 -  13 - 51
Urubu -                 128 -  12 - 44
Várzea Mundaú -  31 -  88 - 34
Vieira -                   113 - 231 - 44
Volta Córrego -    136 -  89 - 12
Zé Aires -               162 -  84 - 5

        




domingo, 9 de outubro de 2016

Praça do Ferreira - As Justificativas para a Derrubada da Coluna da Hora

                                                      O Fatídico Dia


Raimundo Girão discursa a favor da remoção.
Prefeito José Walter na outra ponta.
(Foto Correio do Ceará)
 6 de julho de 1967. Frequentadores da Praça do Ferreira, coração de Fortaleza, assistem a movimentação de autoridades e operários em torno do seu marco. Parecia inacreditável, mas o que os jornais alardeavam estava se concretizando. O abandono, a sujeira e o descaso nos últimos anos vitimava o monumento orgulho do fortalezense. Para nova reforma do logradouro, a Coluna da Hora seria removida. Numa solenidade que contou com discursos e palmas, às nove horas ela, que desde o dia anterior fora cercada por madeira, era demolida. Um dos oradores, elogiando a decisão do prefeito José Walter, afirmava que a coluna já não fazia sentido prático, “motivo pelo qual, sem valor funcional, já não se justificava; se fosse prefeito agora concluiria pela mesma providência, pois o marco do provincianismo cearense, fora de moda, não tem valor histórico, cumpriu a sua tarefa funcional, acompanhando, às vezes atrasada, outras adiantadas, o compasso da cidade”. Poderia ter sido expressão de um bajulador político, um assessor, mas era a voz da pessoa que, há 34 anos, a inaugurara, do ex-prefeito Dr. Raimundo Girão

Cercada por madeira no dia anterior.
(Foto Gazeta de Notícia)
 A Coluna da Hora, de treze metros de altura, em estilo Art Dèco, e projetada pelo engenheiro José Gonçalves Justa, a cargo da construtora Clovis Janja, foi inaugurada no dia 31 de dezembro de 1933, virada da noite para 1934, pelo jovem prefeito Raimundo Girão (33 anos), que anunciara, com certa antecedência, o horário do festejo, na praça do povo cearense, ainda com o Jardim 7 de Setembro. Com todas as poupas, não poderia ter escolhido noite mais encantadora. Fato tão relevante que foi transmitido ao vivo aos lares fortalezenses pelas ondas da Ceará Rádio Clube. Custou, porém, a derrubada do coreto, de 1920, em cuja área surgiu um pequeno jardim. Após a chegada da Banda de Música do Corpo da Segurança Pública, começava, a partir da 20 horas, a animação para a população que lotava o logradouro. O prefeito, já estudioso sobre o Ceará, fez uso da palavra às 23 horas, discorrendo sobre a história da praça, dos antigos gestores e, obviamente, da sua administração. No primeiro segundo do novo ano o “Relógio da Cidade” deu a primeira badalada. Iniciava a mais rica fase do maior símbolo de Fortaleza.

                            Como era a Coluna da Hora (Nirez - O Povo)


1936 - Foto Salles (Arquivo Nirez)
 Conforme repassado pela firma, conta Nirez os detalhes da sua magnitude de então: Com porta de ferro, trata-se de uma “coluna em concreto armado, marca “Portland”, de traço 1 : 2 : 4 foi contraventada com seis contraventamentos. Os claros foram preenchidos com alvenaria de tijolo simples e argamassas de cal ao traço de 1 : 2,1/2, com uma parte de cimento. Fundação em radier de concreto ao traço 1 : 3:  6, sendo nela chumbados os ferros das colunas de modo a formar um só conjunto. A escadaria exterior (calçada), revestida de marmorite polida (mármore artificial) de cor em conjunto  com a coluna, é de alvenaria de tijolos forrados com argamassa de cal com traço 1 : 2,1/2 e uma parte de cimento, bem como as quatro pilastras que a circundam. A escada interior, de grampos de ferro, chumbados na coluna, sendo o seu revestimento feito de pó de pedra , rico em mica e tratado a ácido, perfeitamente alisado e seguindo todos os contornos. 

A Praça como José Walter recebeu (Foto O Povo - Arquivo Nirez)
O centro da escadaria, base da coluna, em elevação, é, exceto uma faixa de 0,30 m, correspondente a um degrau,de mosaicos de três cores. Os vidros assentados são raiados duplos repousando em caixilhos de chumbo. O relógio foi adquirido na América do Norte, por intermédio da firma Byington & Cia,é de fabricação da Zeth Thomaz Clock Co., de Nova York. É uma máquina eletromecânica que funciona com a energia da Ceará Light, tendo corda contínua que e renova constantemente por meio de dois motores. Tem dispositivo para garantir o funcionamento da energia elétrica por doze horas. Possui mostradores nas quatro faces, de vitrolite branca com algarismos gravados a esmalte em baixo relevo, sendo em algarismos  arábicos em duas faces e nas outras duas, algarismos romanos. O relógio custou, montado, funcionando, a quantia de 1.625,00 dólares”.

O Passado de Saudade (Por Nirez - O Povo)


 A praça existe com esse nome desde 1871, após a destruição do Beco do Cotovelo pelo chefe municipal Boticário Ferreira. Antes era um terreno cheio de cajueiros ao redor de areias, cercado de casinhas e, desde 1825, os sobrados do Comendador Machado (hoje Hotel Excelsior) e do Pacheco, que virou sede da Municipalidade (daí o nome da rua Guilherme Rocha ter sido rua Municipal, ou da Municipalidade). Ela foi denominada de Feira Nova, Largo das Trincheiras, D. Pedro II, da Municipalidade, mantendo-se do Ferreira nos dias atuais.

1930. Velho coreto: célebre discurso do Dr. Morais Correia durante a campanha
que levou Fernandes Távora ao Governo Provisório, e a queda do prefeito
Cesar Cals ( Foto O Povo)

 Pelo lado da rua Major Facundo (antiga Palma), encontrávamos a Casa Almeida, o prédio do Majestic, Farmácia Pasteur, escritórios do Luiz Severiano Ribeiro, o Polytheama, o Menescal e, na esquina, a Pernambucana (anteriormente era a Agência de Loterias Nacional e, mais antigo, o Maison Art-Nouveau, de 1907).  Antes da Pernambucana funcionaram o Maison-Richie e o Restaurante Chic, e após, a Broadway, a Rouvanil, Tok Discos e hoje uma loja de bijuteria. Com poucas exceções, os bondes faziam ponto na praça.

1967: Pai João se despede da Coluna da Hora
(Gazeta de Notícias)
 O Jardim 7 de Setembro (ou Avenida 7 de Setembro) foi inaugurado em 1902, a primeira urbanização da praça, pelo intendente Guilherme Rocha, embelezado com pés de benjamins, cercado de grades e colunas, sendo que nas pontas passaram a existir os cafés, Java (nordeste), Restaurante Iracema (sudoeste), Elegante (sudeste) e do Comércio (norte), que perduraram por dezoito anos, quando, em 1920, Godofredo Maciel fez nova reforma, retirando os quiosques e colocando mosaicos por toda a sua extensão, surgindo o coreto, que em 1923 foi reformado e coberto. Entretanto, em 1914, dois anos após a fuga do Comendador Nogueira Accioly, vitimado pela insurreição popular (sendo a sua casa e empresas incendiadas), a mesma passou por nova intervenção, para colocação dos cabos subterrâneos, pelo prefeito Raimundo de Alencar Araripe. Os carros de aluguel que ficavam nos dois lados, sempre com os bancos de duas faces ao lado; os guardas elegantemente vestidos de túnicas de cores caqui, fivelas enormes nos grossos cintos e de capacetes perderam o serviço.

                                    Prefeito José Walter Justifica



A praça entregue por José Walter (Arquivo Nirez)
Conforme o próprio José Walter, a Coluna da Hora foi erguida sobre uma cacimba, e por conta disso a mesma estava cedendo, levando perigo aos transeuntes, além de afetar os relógios, fato que o relojoeiro Muratori se queixava da impossibilidade de os quatro funcionarem com a mesma hora. Fatos que justificaram o superintendente da SUMOV, Lauro Vinhas Lopes, a conveniência da retirada da coluna. “A praça que recebi estava acabada, quase nada restava a não ser o miolo, onde existia a Coluna da Hora. Nas laterais da Major Facundo e Floriano Peixoto havia espaço para carros, eram três pistas, onde se localizavam nada menos que nove postos de taxi. Os carros de aluguel faziam até manobras por cima da praça. Ali mesmo fui atropelado uma vez”, disse o ex-prefeito nos anos 80.

 Na época, 1967, afirmava anúncio nos jornais: “O fortalezense reconhece que o passado tem que ceder às exigências do presente e às perspectivas do futuro”. Com um plano originado de estudos de alunos da Escola de Arquitetura do Ceará, a frente o Dr. José Liberal de Castro, era intenção interditar o transito na área, que seria aumentada ao inserir a ela a extensão pertencente ao extinto Abrigo Central (inaugurado em 15/11/1949 pela gestão de Acrísio Moreira da Rocha, no antigo quarteirão, demolido em 1946, onde existia a Intendência Municipal, e em 1966 retirado por Murilo Borges) e os estacionamentos nas laterais (ruas Floriano Peixoto e Major Facundo): “temos certeza que o povo desta capital receberá com agrado a oportuna transformação porque o fortalezense de hoje já vê o progresso e o embelezamento de sua cidade com olhos de quem descortina horizontes mais largos para a sua terra”.

                   Murilo Borges Tentou Mas Faltou dinheiro 


 O projeto de demolição vinha da administração anterior, general Murilo Borges, inclusive com apresentação de maquete onde se via uma fonte luminosa, com a assinatura do engenheiro Marrocos Aragão. O que inviabilizou a sua realização foi a falta de recursos financeiros. José Walter, porém, resolver arriscar.

José Walter: "Meu Sucessor Não Concluiu a Reforma"


 O prefeito sempre se valeu da premissa de que, embora entregando o cargo em 1971, a praça não foi concluída, nem o seu sucessor, Vicente Fialho, deu prosseguimento, pois faltaram a fonte luminosa, o acabamento dos canteiros com lajes e o monumento ao Boticário Ferreira, serviços prejudicados pela descoberta de um forte lençol freático, conforme o urbanista responsável, Hélio Modesto (José Walter ao jornal O Povo, em 1984).

Eduardo Campos (Pres. da ACL e superintendente dos Diários
Associados) simboliza a destruição da coluna.
(Foto Correio do Ceará)
 O debate ficou entre os técnicos e os políticos, deixando o povo de lado. O ex-prefeito defendia a causa de uma equipe conceituada, que discutiu e ousou, pois o próprio chefe do executivo foi voto vencido quando os arquitetos sugeriram a retirada dos veículos ao redor da praça. Fortaleza crescia e o movimento na praça também, e assim um lugar com jardins não resistiria, num mesmo plano, com o agito de uma grande cidade. Era necessário um ambiente espaçoso para pedestres, com enormes bancos, lugares para grupos variados, e uma galeria de artes interna (Antônio Bandeira), ao mesmo tempo em que a parte mais elevada, próxima ao Cine São Luiz, voltar-se-ia para exposições.

                                       O Polêmico Raimundo Girão


 Raimundo Girão, nascido em 1900 em Banabuiú, pertencente, na época, à Morada Nova CE, criou-se num tempo de muita instabilidade, usufruindo da liberdade que todos os garotos idolatravam, como banhar-se nas águas do rio Jaguaribe, chamadas de “Rinaré” pelos índios jaguaribaras, e essa lembrança levou, entre muitas, para a capital onde foi estudar.

Raimundo Girão e o jornalista Dário Macedo
(Tribuna do Ceará - 1972)
 Em Fortaleza, na Faculdade de Direito do Ceará teve como professores Thomaz Pompeu de Sousa Brasil, Leiria de Andrade, Moraes Correia, Menezes Pimentel, Antônio Augusto de Vasconcelos, Andrade Furtado, e outros grandes educadores.

 Conceituado advogado e admirado pelas autoridades, após a renúncia da candidatura de Matos Peixoto, seu ex-professor, acabou indicado interinamente para a prefeitura em meio, segundo ele, à “vitória da revolução” (Getúlio Vargas) contra o presidente Washington Luís. Mas na hora do voto, quando adotara estilo político conservador, durante as eleições de 1954, perdeu para Acrísio Moreira da Rocha, que foi para o segundo mandato. Culpou traições dentro do seu partido, a UDN. Durante a ditadura militar, foi secretário de Urbanismo do General Cordeiro Neto, tendo como uma das obras a demolição de parte do Palácio da Luz (1960) para prolongar a rua Guilherme Rocha por alguns metros. Consultado, deu o aval para a queda da Coluna da Hora ainda na gestão do general Murilo Borges.

 "Os que têm o poder nas mãos não se interessam pela Cultura"


 Segundo o pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo (Filho), Nirez, a praça erguida na administração de José Walter “foi imposta na época da repressão, sem a consulta ao povo, porque era proibido. Uma praça sem alma, toda de cimento, sem arte, sem bancos de madeira, sem iluminação e com esconderijos para guerrilhas”. “Derrubar a Coluna da Hora sem consulta popular foi um ato insensato que pode ser comparado à derrubada do Pão de Açúcar”. “O que devia ser feito era uma reforma , mas o que foi feito foi a destruição de anos de tradição, a substituição de uma praça por um projeto  que nada tem a ver com Fortaleza, de nada funcional, sem diagonais, que nada se identifica com a nossa cultura”. “Nos apegamos às construções dos homens públicos. Mas os que têm o poder nas mãos não se interessam pela cultura”.

 Em 1991, o prefeito Juraci Magalhães entregou a atual praça, Marco Histórico e Patrimonial de Fortaleza (2001) com o monumento ao Boticário Ferreira e a volta da Coluna da Hora. Mas aquela do relojoeiro  Muratori se foi.  Resta-nos as lembranças.

Da nossa praça, esta triste lembrança. Adeus! (Foto: Manuel Lima - Gazeta de Notícias)

Pesquisas: Jornais O Povo e Tribuna do Ceará;  Gazeta de Notícias e Correio do Ceará (Diários Associados).