"O Luto Incerto" - Jornal Correio do Ceará, 17/11/1965
Texto: Helder Feitosa. Fotos: Vieira Queiroz
Esposas, as mais esperançosas |
Deu à praia de
Mundaú, próximo de Itapipoca, uma jangada de madeira que se supõe ser a “Lambreta”,
na qual Jerônimo e mais três companheiros usaram na fatídica viagem. A
informação partiu de pessoas residentes em Fortaleza que estiveram naquele local
em gozo de férias. Se verídico tal informe, então fora de cogitações as
hipóteses de sobrevivência do legendário pescador e dos demais colegas.
Afastam-se também as possibilidades da frágil embarcação ter sido abalroada por
um navio.
Mesmo assim, ainda se
constitui intricado o mistério sobre o que vem ocorrendo nos últimos meses nas
costas cearenses. Em menos de sessenta dias, sete jangadeiros foram tragados pelo
mar, motivando uma onda de receio e deixando atônitos os homens que arrancam o
ganha-pão no oceano.
Nada de Providências
A situação torna-se
mais grave quando se sabe que a menor providência não foi adotada para a
elucidação dos fatos. Pais de famílias deixam os lares em busca de trabalho no
mar, não retornam mais e o caso fica relegado numa incrível indiferença. Sendo assim, os parentes, impossibilitados de quaisquer
recursos, atravessam momentos angustiosos e vivem um drama comovedor, sem
saberem o que fazer, porque não existe um órgão governamental competente a quem
possa dirigir-se.
Pescador, Ofício Ingrato
É, realmente, um
ofício ingrato e de pescador. A água furiosa lhe atraiçoa e ninguém se
interessa pelo seu infortúnio. Entrementes, o que estaria acontecendo nos mares
cearenses? Eis a pergunta que paira no ar e cuja resposta tão cedo poderá
advir. Nada menos que sete viúvas de jangadeiros atravessam com filhos e
familiares um problema enigmático: estariam mortos os seus maridos ou eles
permanecem vivos encalhados em alguma praia? Trata-se de outra indagação
difícil de ser respondida. E quem poderia responder positivo ou negativo se
nada oficial existe para um pronunciamento nesse sentido?
Há poucos meses, um
avião caiu bem próximo à Praia do Futuro (Fortaleza) e, até hoje, o paradeiro
dos corpos do piloto e do geólogo que vinha a bordo estão envoltos de denso
mistério. O desastre não se passou despercebido completamente em virtude da
contribuição da Base Aérea e da nossa Marinha, que puseram em prática os deus
sistemas de busca e salvamento, o que ocorreu agora mesmo com o caso de Jerônimo.
Acontece, entretanto, que tais atitudes partiram de uma colaboração espontânea por
parte daqueles órgãos, os quais não são imbuídos para TAM mister.
Viúvas?
Para muitos é um fato
consumado. Os sete jangadeiros estariam motos. Porém, para as viúvas, as
esperanças não morreram e o dilema continua.
Para elas, os queridos partiram para pescar e estão chegando. Nenhuma
autoridade lhes forneceu atestado de óbito. Por isso, como a mulher de
Jerônimo, vão diariamente à praia e alimentam a ilusão de que seus maridos
ainda vivem. Algumas delas vestiram luto, outras, no entanto, rejeita esse
traje porque não sabem de nada. Somente o tempo é que se encarregará de
esclarecer. Mas quem fornecerá os atestados de óbito às viúvas dos jangadeiros?
Esposa com a foto de Jerônimo. Teria sido devorado pelo mar o legendário dragão? |
Beleza,Lucas Júnior. Esta triste realidade tem atravessado séculos com pescadores em nossas praias.
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