|
Açude Castanhão, o maior do País, nunca sangrou (foto DNOCS) |
Não é de admirar a preocupação das autoridades em conter o consumo exagerado de água no Ceará. Nossos estudos indicam queda e má distribuição das chuvas ao longo dos últimos anos. Desde 2008 os índices de armazenamento de suas bacias sofrem uma curva descendente, e vertiginosa a partir de 2011. Em maio de 2008 o Ceará contava com 83% da sua capacidade de armazenamento, caindo, em fevereiro de 2011, para 63%, chegando a 13% em abril de 2016, que teve um desvio negativo de 45,2% com relação à média histórica entre fevereiro e maio.. No que pese chuvas em janeiro de 2016, entenda-se que foram isoladas e seguidas de veranico no mês seguinte. A natureza foi castigada e responde duramente. Urge uma política de recuperação da sua vegetação e maior conscientização do seu uso, evitando aterramentos e construções nas proximidades de rios e açudes.
FUNCEME (Médias históricas do CE e médias registradas):
JAN: 98,7 mm - Registros: 2015: 28,4 mm - 2016: 192 mm
FEV: 118,6 mm - Registros: 2015: 97,0 mm - 2016: 52,8 mm
MAR: 203,4 mm - Registros: 2015: 181 mm - 2016: 130,4 mm
ABR: 188,0 mm - Registros: 2015: 116,4 mm - 2016: 100,7 mm
MAI: 90,6 mm - Registros: 2015: 37,7 mm - 2016: 48,3 mm
COGERH (Armazenamento das bacias hidrográficas no CE):
2016:
ABR (4): 12,77%
ABR (29): 13,4%
MAI (11): 13,7 %
JUN (13): 12,6 %
Balanço da estação chuvosa de 2016 (FUNCEME):
- 13 Junho 2016:
Em janeiro, Funceme apontou ano seco como cenário mais provável
O presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Eduardo Sávio Martins, iniciou a coletiva de imprensa desta manhã, 13 de junho de 2016, lamentando ter que comunicar a consolidação do quinto ano de seca no Ceará. Entre os meses de fevereiro e maio, as precipitações observadas foram de 329,3mm. A média para o período é de 600,7mm, ou seja, choveu 45,2% abaixo da média.
“O principal fator para mais este ano de baixas precipitações foi o El Niño. A Funceme já tratava isso como uma preocupação desde dezembro de 2014, devido às perspectivas de que o fenômeno se estabeleceria com intensidade. Foi o que aconteceu. Agora, já estamos monitorando um provável resfriamento das águas do Pacífico Equatorial, que dissiparia o El Niño e, talvez, configuraria uma La Niña. Ainda é cedo pra uma previsão, mas há possibilidade de um cenário mais positivo em 2017”, explicou Martins.
Durante a apresentação nesta manhã, na sede da Funceme, ele mostrou que as regiões mais afetadas com as poucas chuvas foram Jaguaribana, Sertão Central e Inhamuns. Na faixa litorânea as precipitações tiveram desvios negativos menores, conforme a tabela abaixo.
Além do El Niño no Pacífico, as condições do Oceano Atlântico não estiveram favoráveis na maior parte da quadra chuvosa, o que manteve a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) mais afastada do Ceará. Quando esse sistema atua pouco no Estado a qualidade do nosso principal período de precipitações fica comprometida.
Era o cenário mais provável
Em janeiro e em fevereiro de 2016, já ciente da intensidade do El Niño, a Funceme elaborou duas previsões climáticas que apontaram maior probabilidade de chuvas abaixo da média durante a quadra chuvosa.
No segundo semestre, conforme a característica climatológica do Ceará, quase não chove. Enquanto março e abril têm médias de 203,4mm e 188mm, em setembro e outubro, essas médias são de apenas 2,2mm e 3,9mm. “O Governo do Estado, através da Secretaria de Recursos Hídricos, tem priorizado a questão do abastecimento da população. Desde que lançamos o prognóstico de 2015 o esforço tem sido de se antecipar, garantindo as licitações para perfuração de poços”, destacou Martins.
2015:
FEV: 19,03 %
ABR: 20,37%
OUT (22): 14,8%
DEZ: 12,23% (menor desde 1998)
2014:
JAN: 31,1%
FEV: 29,95%
2011:
FEV (24): 62,01%
2008:
MAI (13): 83,23%
2004:
FEV: 79,8 %
2002:
DEZ: 34,9 %
|
Almanaque do Ceará 1934 |
CE - ANOS COM MAIORES SECAS:
1605/06: Historiador Raimundo Girão: “A primeira que a história
cearense registra”.
1612/14
1645
1652
1670/71
1690/93
1721/27: Primeira grande seca com registros oficiais.
1736/37: Índios escravizados e assassinados.
1744/45: A fome avança no sertão.
1777/78: Começa a enfraquecer as charqueadas.
1790/93: Arruinou as charqueadas do CE. Raimundo Girão:
“...matando os rebanhos quase inteiramente, liquidou em definitivo o comércio
das carnes, cujos mercados compradores passaram a ser abastecidos por Parnaíba
(PI), e depois e até hoje - 1962 - pelo charque do RS”.
1814
1824/25: Seca cruel.
1844-45: Historiador Gustavo Barroso: “Peste e fome”. Criado órgão
oficial de pesquisas, Comissão Científica.
1877/81: Jornalista Dórian Sampaio: “...famílias inteiras morriam
de fome, além de surto de bexiga. Província arruinada”.
1915: Com a devastação, flagelados interioranos foram a pé para
Fortaleza.
1931/32
1942
1951/53
1958: Seca a maioria dos rios e açudes.
1970 - Três composições da RVC (Rede Viação Cearense) tomadas de
assalto, por flagelados, entre Piquet Carneiro e Acopiara. Delas levaram
dezenas de sacas de alimentos.
1976
1979/83: O noticioso da TV Globo, Fantástico, mostrou a devastação
no Ceará.
1987/88
1991/94
1998/2000
2012/15
CURIOSIDADE:
|
Açude do Cedro (Arquivo Pararâmio) |
O açude do CEDRO (Quixadá CE), cujas obras foram iniciadas durante
o Império e inaugurado na República, em 1906, em Quixadá, por ter sido
construído ao lado de nascente de rios, só sangrou seis vezes:
1924 - 1925 - 1974 - 1975 - 1986 (3 de maio) e 1989.
O açude ORÓS (Orós CE), o
segundo maior, tendo as obras iniciadas no Governo JK (1958) ante à grande seca
do período, e inaugurado em 1965, sangrou em:
24/02/1966
1974
1985
05/02/2004
12/04/2008
24/04/2009 - 1,9 bi metros
cúbicos.
27/04/2011
01/04/2013
|
Açude do Orós durante cheia (Foto DNOCS) |
CE - ANOS COM MELHORES CHUVAS:
1789: Rio Jaguaribe invade Aracati. Alguns pesquisadores falam em
32 anos de "invernos" seguidos nesse século, complementados por
terrível seca que praticamente acabou com as charqueadas.
1924
1963/64
1973/74
1986
1996
2004
2008
2009
2011
CEARÁ - MAIORES CHUVAS:
|
Groaíras CE: cheia do seu rio (correio do Ceará, 14/03/1974) |
Dom Quintino (Crato) - 290,0 mm - 16/02/2004 (Fonte Funceme).
Obs: Jornal do Cariri, publicado no dia seguinte, apontou 130 mm
no Crato e 176 mm em Juazeiro do Norte. Enviamos o jornal via anexo (internet)
e estamos aguardando o posicionamento da Funceme.
*Tucunduba (Caucaia) - 280 mm - 22/03/2015 (Fonte Funceme. Ano de
seca)
Fortaleza - 24/04/1997 - 270,6 mm (Fonte Funceme, de 3h às 13h.
Ano de seca)
*Tucunduba (Caucaia/Maranguape) - 13/04/2015 - 270,0 mm (Fonte
Funceme. Ano de seca)
*Essas chuvas em Tucunduba, numa serra habitada e sem ocorrências
de alagamentos e desastres ambientais, nós questionamos. Foram cerca de 650 mm
em três ocasiões.
|
Fev de 2004: Jornal do Cariri
não confirma a maior chuva da história |
Eusébio - 07/03/2004 - 253,0 mm
Cágado (S. Gonçalo do Amarante) - 07/04/2016 - 252,0 mm (Fonte
Funceme. Ano de seca)
Fortaleza - 29/01/2004 - 250,0 mm (Fonte Funceme)
Fortaleza - 06/05/1949 - 250, 0 mm (Fonte Serviço de Meteorologia.
Não entra nos dados da Funceme))
Fortaleza - 11/02/1978 - 250,0 mm (Fonte Jornal O Povo)
Paraipaba - 07/04/2016 - 233,0 mm (Fonte Funceme. Ano de seca)
Quixelô – 23/03/2008 – 231 mm (Fonte Funceme)
Trairi - 07/04/2016 - 217,0 mm (Fonte Funceme. Ano de seca)
Beberibe – 29/04/2009 – 215 mm (Fonte Funceme. Ano chuvoso)
Icapuí – 19/04/2009 – 213,0 mm (Fonte Funceme)
Obs: Em 2004, exceto as citadas acima, as maiores chuvas ocorreram
em janeiro, como em Mauriti (180,0 mm) e Cariré (173,0 mm). Municípios como
Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Tauá, Jardim e Fortaleza decretaram
calamidade pública. Exemplo: 30/01/2004: Açude Araras (Varjota) sangra.
Comemoração com fogos de artifício.
FORTALEZA – MAIORES CHUVAS:
|
Bairro Lagamar, em Fortaleza (O Povo 8/3/2004, igualmente abaixo) |
24/04/1997 - 270,6 mm (seca)
06/05/1949 - 250,0 mm (chuvoso)
11/02/1978 - 250,0 mm (chuvoso)
29/01/1994 - 250,0 mm (chuvoso). Questionável. Não consta nos
jornais da época.
11/01/1978 - 200,0 mm (segundo o meteorologista Claudio Pamplona.
Ano chuvoso)
23/06/2012 - 197,6 mm (seca)
27/03/2012 - 197,5 mm (seca)
07/03/2004 - 185,6 mm (chuvoso. Entre 0h e 20h. Funceme)
31/03/2014 - 169,0 mm (seca)
12/05/2005 - 169,0 mm (chuvoso)
02/06/1977 - 168,0 mm (chuvoso)
08/04/2001 - 165,0 mm (mal distribuídas)
10/04/2002 - 163,0 mm (idem)
08/04//2001 - 165,0 mm (por este pesquisador)
21/03/1981 - 161,6 mm (seca)
01/05/1974 - 147,0 mm (chuvoso)
19/03/2003 - 146,7 mm (idem)
11/03/2011 - 145,8 mm (chuvoso)
03/04/1985 - 145,5 mm (chuvoso)
03/01/2015 - 145,2 mm (seca)
01/05/1986 - 140,4 mm (chuvoso)
CEARÁ 2016:
Cágado (S. Gonçalo) - 07/04/2016 - 253,0 mm
Paraipaba - 07/04/2016 - 233,0 mm
Trairi - 07/04/2016 - 217,0 mm
Quiterianópolis - 21/01/2016 - 204,5 mm
Arneiroz - 21/01/2016 - 194,0 mm
Barroquinha - 21/01/2016 - 166,2 mm
Crateús - 21/01/2016 - 166,0 mm
Trairi - 21/01/2016 - 164, 0 mm
Aquiraz - 31/03/2016 - 163,2 mm
S. Teresa (Tauá) - 21/01/2016 - 160,0 mm
FORTALEZA 2016:
Água Fria - 02/04/2016 - 132,6 mm. A maior parte se refere a 1 de
abril.
Pici - 21/01/2016 - 129,8 mm
Água Fria - 31/03/2016 - 123,8 mm
Messejana - 01/04/2016 - 100,6 mm
CEARÁ 2015:
*Tucunduba (Caucaia/Maranguape) - 22/03/2015 - 280,0 mm
*Tucunduba - 13/04/2015 - 270,0 mm
*Tucunduba - 15/04/2015 - 101,0 mm
*Total: 651,0 mm em uma semana na serra de Tucunduba.
Paramoti - 01/04/2015 - 197,8 mm
Cruz - 03/04/2015 - 167,4 mm (228,9 em três dias)
Lameiro (Crato) - 22/04/2015 - 162,0 mm
Barbalha - 22/04/2015 - 159,0 mm
Camocim - 07/04/2015 - 146,0 mm
Água Fria (Fortaleza) - 03/01/2015 - 145,2 mm
Crato - 22/04/2015 – 140,0 mm
Missão Velha - 22/04/2015 - 133,0 mm
FORTALEZA 2015:
Água Fria - 03/01/2015 - 145,2 mm
Pici - 05 a 10/03/2015 - 181,0 mm
Castelão - 05 a 10/03/2015 - 167,4 mm
|
O Cedro e a dor da seca (Arquivo Quixadá Antiga) |
CEARÁ 2014:
Farias Brito - 03/02/2014 – 182,0 mm
Fortaleza - 31/03/2014 - 169,0 mm (Messejana)
Ererê - 03/04/2014 - 158,0 mm
Ipaumirim - 05/03/ 2014 - 157,0 mm
Pereiro - 03/04/2014 -130,0
Cariús - 08/02/2014 - 127,0 mm
Juazeiro do Norte - 08/02/2014 - 125,0 mm
Caririaçu - 31/03/2014 -111,0 mm
Barreira - 03/04/2014 - 110,0 mm
Várzea das Mercês (Itapipoca) - 31/03/2014 -106,6
mm
Barbalha - 26/03/2014 - 106 mm
S. Gonçalo - 30/01/2014 -104,5 mm
S. Gonçalo - 03/04/2014 - 102,0 mm
CEARÁ 2013:
Icapuí - 20/04/2014 - 180,0 mm
Jaguaretama - 18/03/2013 - 158,0 mm
Baleia (Itapipoca) - 18/05/2013 - 144,0 mm
Icaraí (Amontada) - 18/05/2013 - 142,0 mm
Aracati - 20/04/2013 - 142,0 mm
Jardim - 14/01/2013 - 133,0 mm
Groaíras - 03/01/2013 - 126 mm
Paraipaba - 18/05/2013 - 125,0 mm
Crato - 25/05/2013 - 125,0 mm
CE 2011:
Porteiras - 04/05/2011 - 182,0 mm
Aquiraz - 05/01/2011 - 174,0 mm
Croatá - 10/05/2011 - 170,4 mm
Santa Quitéria - 25/01/2011 - 162,8 mm
Ibiapina - 10/05/2011 - 150,0 mm
Paramoti - 19/01/2011 - 149,6 mm
Canindé - 25/01/2011 - 147,0 mm
Fortaleza - 11/03/2011 - 145,8 mm
Ipueiras - 10/05/2011 - 141,0 mm
Acaraú - 24/04/2011 - 139,4 mm
Granja - 01/05/2011 - 137,0 mm
Ipu - 10/05/2011 - 137,0 mm
Obs.: O Orós sangrou no dia 24/04/2011.
CEARÁ 2008:
Espetacular ano chuvoso.
Sertão Central e Baixo Jaguaribe, entretanto, com as menores precipitações.
De janeiro a abril:
Itapipoca (Vale do Curu): 1.206,9 mm
Granja (Litoral Norte): 1.164,9 mm
Trairi (Vale do Curu): 1.136,8 mm
Lavras da Mangabeira (Cariri): 1.060,5 mm
Barro (Cariri): 1.053,6 mm
Sobral (Vale do Acaraú): 988,0 mm
Fortaleza: 947,7 mm
Obs 2008:
30/03/2008: Sangra o açude Trici (Tauá - Inhamuns)
03/04/2008: sangra o açude Várzea do Boi (Tauá - Inhamuns)
03/04/2008: Sangra o açude Arneiroz II (Arneiroz - Inhamuns)
04/04/2008: Sangra o açude Orós (abriram as comportas do Castanhão,
o maior do País, que nunca sangrou), assim como no dia 27/04/2009 e 24/04/2011.
2008: COGERH. Nível dos açudes monitorados do Ceará: 13/05/2008:
83,23% (o maior segundo as nossas anotações).
Maiores precipitações:
Quixelô - 23/03/2008 - 231,0 mm
Beberibe - 29/04/2008 - 215,0 mm
Aracati - 11/03/2008 - 200,8 mm
Saboeiro - 26/02/2008 -197,0 mm
Acaraú - 07/04/2008 - 174,0 mm
Chaval - 05/04/2008 - 158,0 mm
S. L. do Curu - 11/04/2008 -158,0 mm
Iracema - 29/03/2008 - 156,0 mm
Morrinhos - 31/03/2008 - 148,2 mm
Campos Sales - 29/04/2008 -147, 3 mm
Redenção - 29/04/2008 -147,0 mm
Novo Oriente - 29/04/2008 -146,2 mm
Missão Velha - 31/01/2008 - 143,0 mm
Pereiro - 02/04/2008 - 142,0 mm
Parambu e N. Oriente - 31/01/2008 - 140,0 mm
Uruoca - 11/04/2008 - 140,0 mm
Saboeiro - 15/04/2008 - 140 mm
Fontes: COGERH, FUNCEME, Jornal O Povo e nosso Acervo Lucas.