quarta-feira, 4 de maio de 2016

Chuvas no Ceará - Levantamentos Preocupantes


Açude Castanhão, o maior do País, nunca sangrou (foto DNOCS)
 Não é de admirar a preocupação das autoridades em conter o consumo exagerado de água no Ceará. Nossos estudos indicam queda e má distribuição das chuvas ao longo dos últimos anos. Desde 2008 os índices de armazenamento de suas bacias sofrem uma curva descendente, e vertiginosa a partir de 2011. Em maio de 2008 o Ceará contava com 83% da sua capacidade de armazenamento, caindo, em fevereiro de 2011, para 63%, chegando a 13% em abril de 2016, que teve um desvio negativo de 45,2% com relação à média histórica entre fevereiro e maio.. No que pese chuvas em janeiro de 2016, entenda-se que foram isoladas e seguidas de veranico no mês seguinte. A natureza foi castigada e responde duramente. Urge uma política de recuperação da sua vegetação e maior conscientização do seu uso, evitando aterramentos e construções nas proximidades de rios e açudes.

FUNCEME (Médias históricas do CE e médias registradas):

JAN: 98,7 mm -  Registros: 2015: 28,4 mm - 2016: 192 mm
FEV: 118,6 mm - Registros: 2015: 97,0 mm - 2016: 52,8 mm
MAR: 203,4 mm - Registros: 2015: 181 mm - 2016: 130,4 mm
ABR: 188,0 mm - Registros: 2015: 116,4 mm - 2016: 100,7 mm
MAI:   90,6 mm - Registros: 2015:   37,7 mm -  2016: 48,3 mm

COGERH (Armazenamento das bacias hidrográficas no CE):

2016:
ABR (4): 12,77%
ABR (29): 13,4%
MAI (11): 13,7 %
JUN (13): 12,6 %

Balanço da estação chuvosa de 2016 (FUNCEME):

Em janeiro, Funceme apontou ano seco como cenário mais provável

O presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Eduardo Sávio Martins, iniciou a coletiva de imprensa desta manhã, 13 de junho de 2016, lamentando ter que comunicar a consolidação do quinto ano de seca no Ceará. Entre os meses de fevereiro e maio, as precipitações observadas foram de 329,3mm. A média para o período é de 600,7mm, ou seja, choveu 45,2% abaixo da média.

“O principal fator para mais este ano de baixas precipitações foi o El Niño. A Funceme já tratava isso como uma preocupação desde dezembro de 2014, devido às perspectivas de que o fenômeno se estabeleceria com intensidade. Foi o que aconteceu. Agora, já estamos monitorando um provável resfriamento das águas do Pacífico Equatorial, que dissiparia o El Niño e, talvez, configuraria uma La Niña. Ainda é cedo pra uma previsão, mas há possibilidade de um cenário mais positivo em 2017”, explicou Martins.

Durante a apresentação nesta manhã, na sede da Funceme, ele mostrou que as regiões mais afetadas com as poucas chuvas foram Jaguaribana, Sertão Central e Inhamuns. Na faixa litorânea as precipitações tiveram desvios negativos menores, conforme a tabela abaixo.
Além do El Niño no Pacífico, as condições do Oceano Atlântico não estiveram favoráveis na maior parte da quadra chuvosa, o que manteve a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) mais afastada do Ceará. Quando esse sistema atua pouco no Estado a qualidade do nosso principal período de precipitações fica comprometida.

Era o cenário mais provável

Em janeiro e em fevereiro de 2016, já ciente da intensidade do El Niño, a Funceme elaborou duas previsões climáticas que apontaram maior probabilidade de chuvas abaixo da média durante a quadra chuvosa.

No segundo semestre, conforme a característica climatológica do Ceará, quase não chove. Enquanto março e abril têm médias de 203,4mm e 188mm, em setembro e outubro, essas médias são de apenas 2,2mm e 3,9mm. “O Governo do Estado, através da Secretaria de Recursos Hídricos, tem priorizado a questão do abastecimento da população. Desde que lançamos o prognóstico de 2015 o esforço tem sido de se antecipar, garantindo as licitações para perfuração de poços”, destacou Martins.

2015:
FEV: 19,03 %
ABR:  20,37%
OUT (22): 14,8%
DEZ: 12,23% (menor desde 1998)
2014:
JAN: 31,1%
FEV: 29,95%
2011:
FEV (24): 62,01%
2008:
MAI (13): 83,23%
2004:
FEV: 79,8 %
2002:
DEZ: 34,9 %

Almanaque do Ceará 1934

CE - ANOS COM MAIORES SECAS:

1605/06: Historiador Raimundo Girão: “A primeira que a história cearense registra”.
1612/14
1645
1652
1670/71
1690/93
1721/27: Primeira grande seca com registros oficiais.
1736/37: Índios escravizados e assassinados.
1744/45: A fome avança no sertão.
1777/78: Começa a enfraquecer as charqueadas.
1790/93: Arruinou as charqueadas do CE. Raimundo Girão: “...matando os rebanhos quase inteiramente, liquidou em definitivo o comércio das carnes, cujos mercados compradores passaram a ser abastecidos por Parnaíba (PI), e depois e até hoje - 1962 - pelo charque do RS”.
1814
1824/25: Seca cruel.
1844-45: Historiador Gustavo Barroso: “Peste e fome”. Criado órgão oficial de pesquisas, Comissão Científica.
1877/81: Jornalista Dórian Sampaio: “...famílias inteiras morriam de fome, além de surto de bexiga. Província arruinada”.
1915: Com a devastação, flagelados interioranos foram a pé para Fortaleza.
1931/32
1942
1951/53
1958: Seca a maioria dos rios e açudes.
1970 - Três composições da RVC (Rede Viação Cearense) tomadas de assalto, por flagelados, entre Piquet Carneiro e Acopiara. Delas levaram dezenas de sacas de alimentos.
1976
1979/83: O noticioso da TV Globo, Fantástico, mostrou a devastação no Ceará.
1987/88
1991/94
1998/2000
2012/15

CURIOSIDADE:

Açude do Cedro (Arquivo Pararâmio)

 O açude do CEDRO (Quixadá CE), cujas obras foram iniciadas durante o Império e inaugurado na República, em 1906, em Quixadá, por ter sido construído ao lado de nascente de rios, só sangrou seis vezes:
1924 - 1925 - 1974 - 1975 - 1986 (3 de maio) e 1989.

 O açude ORÓS (Orós CE), o segundo maior, tendo as obras iniciadas no Governo JK (1958) ante à grande seca do período, e inaugurado em 1965, sangrou em:

 24/02/1966
 1974
 1985
 05/02/2004
 12/04/2008
 24/04/2009 - 1,9 bi metros cúbicos.
 27/04/2011
 01/04/2013
 
Açude do Orós durante cheia (Foto DNOCS)

CE - ANOS COM MELHORES CHUVAS:

1789: Rio Jaguaribe invade Aracati. Alguns pesquisadores falam em 32 anos de "invernos" seguidos nesse século, complementados por terrível seca que praticamente acabou com as charqueadas.
1924
1963/64
1973/74
1986
1996
2004
2008
2009
2011


CEARÁ - MAIORES CHUVAS:
 
Groaíras CE: cheia do seu rio (correio do Ceará, 14/03/1974)
Dom Quintino (Crato) - 290,0 mm - 16/02/2004 (Fonte Funceme).
Obs: Jornal do Cariri, publicado no dia seguinte, apontou 130 mm no Crato e 176 mm em Juazeiro do Norte. Enviamos o jornal via anexo (internet) e estamos aguardando o posicionamento da Funceme.

*Tucunduba (Caucaia) - 280 mm - 22/03/2015 (Fonte Funceme. Ano de seca)
Fortaleza - 24/04/1997 - 270,6 mm (Fonte Funceme, de 3h às 13h. Ano de seca)
*Tucunduba (Caucaia/Maranguape) - 13/04/2015 - 270,0 mm (Fonte Funceme. Ano de seca)
*Essas chuvas em Tucunduba, numa serra habitada e sem ocorrências de alagamentos e desastres ambientais, nós questionamos. Foram cerca de 650 mm em três ocasiões.
 
Fev de 2004: Jornal do Cariri
não confirma a maior chuva da história
Eusébio - 07/03/2004 - 253,0 mm
Cágado (S. Gonçalo do Amarante) - 07/04/2016 - 252,0 mm (Fonte Funceme. Ano de seca)
Fortaleza - 29/01/2004 - 250,0 mm (Fonte Funceme)
Fortaleza - 06/05/1949 - 250, 0 mm (Fonte Serviço de Meteorologia. Não entra nos dados da Funceme))
Fortaleza - 11/02/1978 - 250,0 mm (Fonte Jornal O Povo)
Paraipaba - 07/04/2016 - 233,0 mm (Fonte Funceme. Ano de seca)
Quixelô – 23/03/2008 – 231 mm (Fonte Funceme)
Trairi - 07/04/2016 - 217,0 mm (Fonte Funceme. Ano de seca)
Beberibe – 29/04/2009 – 215 mm (Fonte Funceme. Ano chuvoso)
Icapuí – 19/04/2009 – 213,0 mm (Fonte Funceme)

Obs: Em 2004, exceto as citadas acima, as maiores chuvas ocorreram em janeiro, como em Mauriti (180,0 mm) e Cariré (173,0 mm). Municípios como Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Tauá, Jardim e Fortaleza decretaram calamidade pública. Exemplo: 30/01/2004: Açude Araras (Varjota) sangra. Comemoração com fogos de artifício.

FORTALEZA – MAIORES CHUVAS:

Bairro Lagamar, em Fortaleza (O Povo  8/3/2004, igualmente abaixo)


24/04/1997 -  270,6 mm (seca)
06/05/1949 - 250,0 mm (chuvoso)
11/02/1978 - 250,0 mm (chuvoso)
29/01/1994 - 250,0 mm (chuvoso). Questionável. Não consta nos jornais da época.
11/01/1978 - 200,0 mm (segundo o meteorologista Claudio Pamplona. Ano chuvoso)
23/06/2012 - 197,6 mm (seca)
27/03/2012 - 197,5 mm (seca)
07/03/2004 - 185,6 mm (chuvoso. Entre 0h e 20h. Funceme)
31/03/2014 - 169,0 mm (seca)
12/05/2005 - 169,0 mm (chuvoso)
02/06/1977 - 168,0 mm (chuvoso)
08/04/2001 - 165,0 mm (mal distribuídas)
10/04/2002 - 163,0 mm (idem)
08/04//2001 - 165,0 mm (por este pesquisador)
21/03/1981 - 161,6 mm (seca)
01/05/1974 - 147,0 mm (chuvoso)
19/03/2003 - 146,7 mm (idem)
11/03/2011 - 145,8 mm (chuvoso)
03/04/1985 - 145,5 mm (chuvoso)
03/01/2015 - 145,2 mm (seca)
01/05/1986 - 140,4 mm (chuvoso)

CEARÁ 2016:

Cágado (S. Gonçalo) - 07/04/2016 - 253,0 mm
Paraipaba - 07/04/2016 - 233,0 mm
Trairi - 07/04/2016 - 217,0 mm
Quiterianópolis - 21/01/2016 - 204,5 mm
Arneiroz - 21/01/2016 - 194,0 mm
Barroquinha - 21/01/2016 - 166,2 mm
Crateús - 21/01/2016 - 166,0 mm
Trairi - 21/01/2016 - 164, 0 mm
Aquiraz - 31/03/2016 - 163,2 mm
S. Teresa (Tauá) - 21/01/2016 - 160,0 mm

FORTALEZA 2016:

Água Fria - 02/04/2016 - 132,6 mm. A maior parte se refere a 1 de abril.
Pici - 21/01/2016 - 129,8 mm
Água Fria - 31/03/2016 - 123,8 mm
Messejana - 01/04/2016 - 100,6 mm

CEARÁ 2015:

*Tucunduba (Caucaia/Maranguape) - 22/03/2015 - 280,0 mm
*Tucunduba - 13/04/2015 - 270,0 mm
*Tucunduba - 15/04/2015 - 101,0 mm
*Total: 651,0 mm em uma semana na serra de Tucunduba.

Paramoti - 01/04/2015 - 197,8 mm
Cruz - 03/04/2015 - 167,4 mm (228,9 em três dias)
Lameiro (Crato) - 22/04/2015 - 162,0 mm
Barbalha - 22/04/2015 - 159,0 mm
Camocim - 07/04/2015 - 146,0 mm
Água Fria (Fortaleza) - 03/01/2015 - 145,2 mm
Crato - 22/04/2015 – 140,0 mm
Missão Velha - 22/04/2015 - 133,0 mm


FORTALEZA 2015:

Água Fria - 03/01/2015 - 145,2 mm
Pici - 05 a 10/03/2015 - 181,0 mm
Castelão - 05 a 10/03/2015 - 167,4 mm

O Cedro e a dor da seca (Arquivo Quixadá Antiga)



CEARÁ 2014:

Farias Brito - 03/02/2014 – 182,0 mm
Fortaleza - 31/03/2014 - 169,0 mm (Messejana)
Ererê - 03/04/2014 - 158,0 mm
Ipaumirim - 05/03/ 2014 - 157,0 mm
Pereiro - 03/04/2014 -130,0
Cariús - 08/02/2014 - 127,0 mm
Juazeiro do Norte - 08/02/2014 - 125,0 mm
Caririaçu - 31/03/2014 -111,0 mm
Barreira - 03/04/2014 - 110,0 mm
Várzea das Mercês (Itapipoca) - 31/03/2014 -106,6 mm              
Barbalha - 26/03/2014 - 106 mm
S. Gonçalo - 30/01/2014 -104,5 mm
S. Gonçalo - 03/04/2014 - 102,0 mm

CEARÁ 2013:

Icapuí - 20/04/2014 - 180,0 mm
Jaguaretama - 18/03/2013 - 158,0 mm
Baleia (Itapipoca) - 18/05/2013 - 144,0 mm
Icaraí (Amontada) - 18/05/2013 - 142,0 mm
Aracati - 20/04/2013 - 142,0 mm
Jardim - 14/01/2013 - 133,0 mm
Groaíras - 03/01/2013 - 126 mm
Paraipaba - 18/05/2013 - 125,0 mm
Crato - 25/05/2013 - 125,0 mm

CE 2011:

Porteiras - 04/05/2011 - 182,0 mm
Aquiraz - 05/01/2011 - 174,0 mm
Croatá - 10/05/2011 - 170,4 mm
Santa Quitéria - 25/01/2011 - 162,8 mm
Ibiapina - 10/05/2011 - 150,0 mm
Paramoti - 19/01/2011 - 149,6 mm
Canindé - 25/01/2011 - 147,0 mm
Fortaleza - 11/03/2011 - 145,8 mm
Ipueiras - 10/05/2011 - 141,0 mm
Acaraú - 24/04/2011 - 139,4 mm
Granja - 01/05/2011 - 137,0 mm
Ipu - 10/05/2011 - 137,0 mm

Obs.: O Orós sangrou no dia 24/04/2011.

CEARÁ 2008:
 Espetacular ano chuvoso. Sertão Central e Baixo Jaguaribe, entretanto, com as menores precipitações.

De janeiro a abril:
Itapipoca (Vale do Curu): 1.206,9 mm
Granja (Litoral Norte): 1.164,9 mm
Trairi (Vale do Curu): 1.136,8 mm
Lavras da Mangabeira (Cariri): 1.060,5 mm
Barro (Cariri): 1.053,6 mm
Sobral (Vale do Acaraú): 988,0 mm
Fortaleza: 947,7 mm

Obs 2008:
30/03/2008: Sangra o açude Trici (Tauá - Inhamuns)
03/04/2008: sangra o açude Várzea do Boi (Tauá - Inhamuns)
03/04/2008: Sangra o açude Arneiroz II (Arneiroz - Inhamuns)
04/04/2008: Sangra o açude Orós (abriram as comportas do Castanhão, o maior do País, que nunca sangrou), assim como no dia 27/04/2009 e 24/04/2011.

2008: COGERH. Nível dos açudes monitorados do Ceará: 13/05/2008: 83,23% (o maior segundo as nossas anotações).

Maiores precipitações:

Quixelô - 23/03/2008 - 231,0 mm
Beberibe - 29/04/2008 - 215,0 mm
Aracati - 11/03/2008 - 200,8 mm
Saboeiro - 26/02/2008 -197,0 mm
Acaraú - 07/04/2008 - 174,0 mm
Chaval - 05/04/2008 - 158,0 mm
S. L. do Curu - 11/04/2008 -158,0 mm
Iracema - 29/03/2008 - 156,0 mm
Morrinhos - 31/03/2008 - 148,2 mm
Campos Sales - 29/04/2008 -147, 3 mm
Redenção - 29/04/2008 -147,0 mm
Novo Oriente - 29/04/2008 -146,2 mm
Missão Velha - 31/01/2008 - 143,0 mm
Pereiro - 02/04/2008 - 142,0 mm
Parambu e N. Oriente - 31/01/2008 - 140,0 mm
Uruoca - 11/04/2008 - 140,0 mm
Saboeiro - 15/04/2008 - 140 mm



Fontes: COGERH, FUNCEME, Jornal O Povo e nosso Acervo Lucas.



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