sexta-feira, 27 de maio de 2016

De Trahiry a Anacetaba. A Origem de Antônio Sales


Taba dos Anacés


 Anacetaba em tupi quer dizer “Taba dos Anacés”, tribo indígena que dominou principalmente o litoral norte a partir do rio Curu. De mistura potiguara (tupi) com tapuias e tremembé, em Trairi eram conhecidos como pitiguaras, hoje resistindo como anacé. Com a partida de Jacaúna (conhecido também como o primeiro dos grupos familiares Camarão e Algodão) com os padres jesuítas para a criação de aldeias missionárias nas adjacências de Fortaleza, manteve resistência no rio Siupé, continuando instalada em São Gonçalo do Amarante e em Caucaia. 


 Antônio Sales



Antônio Sales
(13/06/1868 a 14/11/1940)

 Documentos jurídicos e históricos dos municípios envolvidos revelam que a Lei Nº 1235, de 27 de novembro de 1868, desmembrou Parazinho (Alto Alegre, depois Paracuru) de Trairi. A data levou-nos a confrontar biografias às evidências peculiares, como o caso do poeta Antônio Sales, um dos fundadores do grêmio literário Padaria Espiritual, ao lado do trairiense Álvaro Dias Martins.

 Miguel Ferreira Sales, natural de Soure (Caucaia), possuía parentesco com os Sales de Trairi, inclusive fixando residência na comunidade das Lages antes do nascimento do filho-poeta. Conseguiu do Senador Pompeu cargo público em Parazinho, onde foi residir e abrir uma mercearia. Se faltou pouco para Antônio Sales nascer em Trairi, não impede de se dizer que ele era trairiense, uma vez que veio ao mundo no dia 13 de junho de 1868, antes da Lei (27 de novembro), quando as citadas vilas eram subordinadas à terra do amigo de infância Alvarins (Álvaro Martins). Jamais, oficialmente, foi discutida essa realidade.



 Parazinho de Pe. Rocha



Pe. João da Rocha. Fundador
de Paracuru. Foto Lúcio Damasceno

 Com a invasão das dunas e seu aterramento, achou relevante o padre local, João Francisco Nepomuceno da Rocha, em construir, a um quilômetro de Parazinho, uma vila que mais tarde se tornou a progressiva cidade de Paracuru, que tinha entre os seus povoados Passagem do Tigre, esta tempos depois tomada pelas cheias do rio Curu, surgindo então Paraipaba, hoje próspero município do Vale do Curu.

 Detalhe interessante, com a Lei Nº 1604, de 14 de agosto de 1874, todos passaram a se chamar Nossa Senhora do Livramento (Trairi),  Paróquia e Vila, uma hegemonia que durou 16 anos. Época de profunda devoção à Santa portuguesa, cuja imagem chegou à comunidade através da Sra. Maria Furtado de Mendonça. Muitos estudiosos defendem essa data, 14 de agosto, como o dia do município de Trairi.


 Neco Martins - Fundador de São Gonçalo do Amarante



 Com a chegada do Sr. Manoel Martins de Oliveira e de sua esposa, Dona Filomena, no início do Séc. XX, Anacetaba começou a se desenvolver. Seu Neco, avô do ex-prefeito Maurício Brasileiro Martins e tio-avô de Salvador Martins, ex-coletor de Trairi, cedeu o terreno onde foi construída a capela que levou o nome do Santo de sua devoção, São Gonçalo, e em torno dela nasceu a vila de São Gonçalo. Como a maioria das famílias que se fixaram no Vale do Curu, os Martins têm origem do Sertão Central, especificamente de Quixadá, de onde muitos migraram durante a praga da varíola durante a seca de 1877 e após a crise do algodão, ou mesmo antes, no auge das charqueadas, nas ribeiras dos grandes rios, como Acaraú, Mundaú, Siupé e Aracati.



    
Ig. de São Gonçalo do Amarante. Fundada por Neco Martins


        

  Artigos:  


                             São Gonçalo do Amarante - Por Overlan Gomes Correia:


Na primeira metade do século XVI, muito antes que as primeiras penetrações no território cearense fossem efetuadas, as terra onde hoje se localizam o município de São Gonçalo do Amarante já eram habitadas por índios de várias nações, principalmente de Anacés, Guanacés e Jaguaruanas.

Da cultura e civilização indígena nada ficou que possa caracterizar o marco do trabalho dos índios, além do que é contado nas publicações do Instituto Histórico do Ceará, que enfoca com maior destaque a nação dos Anacés, por sua superioridade numérica e valentia.

Realmente as terras eram privilegiadas e, com certeza, bastante disputadas entre as tribos, tendo em vista sua localização em pleno litoral, cortada por Rios e Lagoas, férteis e apropriadas para o cultivo, além da abundância da caça e da pesca.
Sabe-se que a penetração do homem branco, com vista ao povoamento da área, foi iniciada a partir de 1682, quando surgiram os primeiros núcleos como Parazinho, Trairi, Siupé e São Gonçalo.

Em 1881, chegou a São Gonçalo, Manoel Martins de Oliveira, conhecido como “Neco Martins”, ainda adolescente, que ali se estabeleceu juntamente com sua esposa Dona Filomena Martins.

A mesma época também chegava ao povoado, o Capitão Procópio de Alcântara, que buscava no clima saudável e fresco de São Gonçalo, melhoria para sua saúde.
Em 1898, ajudado pela Capitão José Procópio de Alcântara, Neco Martins edificou uma capela dedicada a São Gonçalo, santo de sua devoção. Iniciou-se, então, nova fase de vida da localidade. Dona Filomena Martins, professora dedicada, cuidou da educação de toda gente da terra e ao lado do Coronel Neco Martins, amimou e incentivou o comércio com outras povoações e vilas próximas, muito contribuindo para o desenvolvimento cultural e social de São Gonçalo. (Professor Overlan Gomes Correia).



Almanaque do Ceará (1951)  destaca Anacetaba




                  Paracuru - Por Rodolfo Spínola:


Numa antiga e pequena povoação a beira mar, habitado quase que exclusivamente por pescadores, mas que um dia foi tragado pelas areias amareladas das dunas de Paracuru, obrigando os moradores a construir uma nova vila em um local mais alto e seguro. 

E foi assim que o Padre João Francisco Nepomuceno da Rocha, nascido no Parazinho, deu início a construção da igreja, edificando ao seu redor as primeiras casas, sendo por esse motivo considerado o “Fundador de Paracuru”.  

Em 27 de novembro de 1868, a Lei de nº. 1.235, elevou a categoria de vila à povoação do Parazinho com a denominação de Vila do Paracuru, e território desmembrado de Trairi. 

Após a instalação do município já com a denominação de Parazinho, sua história passou a ser marcada por muitas idas e vindas da sede municipal, travando brigas políticas ferrenhas com Trairi e posteriormente com São Gonçalo do Amarante (ex - São Gonçalo e Anacetaba), de acordo com o poder político dos coronéis, que mandavam e desmandavam em seus redutos. 

E assim podemos constatar esse tremendo jogo de poder. Em 14 de agosto de 1874, de conformidade com a Lei 1.604, o município de Paracuru foi suprimido, transferindo-se a paróquia e a sede municipal para Trairi que doravante recebeu a denominação de Nossa Senhora do Livramento. 

O município voltou a ser restaurado, de acordo com o Decreto nº. 73, de 1º de outubro de 1890, tendo sua sede instalada dia 25 de outubro daquele ano. Em 1921 perde sua autonomia sendo sua sede transferida para São Gonçalo. 

Já em 30 de julho de 1926 a sede do município volta a Paracuru, sendo São Gonçalo rebaixado à condição de povoado com a denominação de Anacebata. 

Já em setembro de 1828, a Lei nº. 2.589 leva a sede novamente para São Gonçalo, mas em 20 de maio de 1931, Paracuru passou novamente a sede, perdendo mais uma vez essa condição para São Gonçalo em 7 de agosto de 1935.

Foi
 Paracuru, o local escolhido para observação do eclipse total do Sol, ocorrido em 15 de abril de 1893.

A Paracuru veio duas comissões científicas, uma da Real Sociedade Astronômica de Londres e outra brasileira, chefiada pelo cientista Dr. H. Moritze.

Origem do Topônimo: Primitivamente Paracuru denominou-se Alto Alegre e Parazinho. O nome Paracuru é tupi e significa Lagarto do Mar.




Almanach do Ceará 1908 traz curiosidades sobre Paracuru: Sede como Alto Alegre; mantém Parazinho como porto; distâncias em léguas e milhas; malotes dos correios da capital às quintas feiras e retorno de Trairi aos domingos.



Sede de São Gonçalo do Amarante em 1976








4 comentários:

  1. Excelente, Lucas Júnior. Penso como você e, inclusive, considero ser Antônio Sales trairiense, pois, na verdade, o lugar onde nasceu, por lei, era na época, território de Trairi. Parabéns por seu maravilhoso trabalho.

    ResponderExcluir
  2. Grato, meu colega de pesquisas e personalidade cultural de Trairi.

    ResponderExcluir
  3. Boa noite, tem algum documento que retrata os primeiros nativos entre paracuru e trairi? Se possível eu queria, podasse mim enviar, tenho interesse de escrever sobre o assunto. Estou escrevendo um livro sobre os anacés, sou muito grato se podesse mim ajudar, Meu E-mail/; etinan.com@gmail.com

    ResponderExcluir
  4. Olá. Pesquiso a origem dos Sales. Você teria mais informações sobre as ascendências de Miguel Ferreira Sales?
    meu e-mail é bernardosaguiar@gmail.com.

    ResponderExcluir