sábado, 7 de maio de 2016

Gláucia Lima - Exemplo de Mulher, Mãe, Companheira

Gláucia. Somos todos Tonny Ítalo

 O poeta não se prende a ilusões, insiste na versão singela de uma natureza bela, que o inspire no desejo desesperador pela ternura, pela leveza, uma paz como forma de driblar as amarguras de uma vida marcada por espinhos, envolta de segredos. Essa imagem que o acompanha tem uma trilha e um fim, percorrendo todos os segredos da vida, dos quais apenas pessoas mais preparadas, em todos os sentidos, são capazes de completá-la sabendo-se vencedoras.

 A realidade nos torna um artista, ou para ser mais elegante, lembrando Paulo Freire, uma poeta, um poeta. Ela nos endereça àquelas que nascem com um destino, uma missão das mais desafiadoras, no que Deus, tão Magnífico, nos ensinou ao criar Maria, a mais bela, não fisicamente, mas completa pela fortaleza que representou, a maior de todas as mulheres, de todas as mães.

 Poderia homenagear, neste espaço do meu Ceará, a minha mãezinha, a quem rogo felicidades todos os dias, e comigo estar presente pelo amor que nos une, mesmo a 120 km um do outro, embora juntos no coração, mas me inspiro - em meio às nuvens que carregam uma montanha, onde, junto às flores e espinhos, numa mulher pela qual exaltamos a lembrança de sua infância no colo da mãe e irmãs, ao cordão abençoado que a conduz para longe das trevas que a despedaçaram.
Mãe e filho. Arte musical de berço

 Não posso esquecer daquela manhã em que ela me comunicou o ocorrido, a tragédia que levaria seu filho mais velho aos braços da avó, agora no céu, ao azul celestial que “vozinha” tão bem realçava com seu pincel. A perda de um filho, de uma criaturinha que a acompanhou até na sala-de-aula, comportadamente, dói, abala, afasta a pessoa da anterior, joga-a num vazio brutal. Mas, como a artista e o poeta se inspiram na chama reveladora do otimismo, ainda que na sua última etapa, encontra o destino daquela trilha: o amor. Esse sim é capaz de superar pesadelos.
 Pequenina, chegou a Fortaleza guardando as lembranças da sua Recreação, em Mombaça, município cearense que elegeu o primeiro prefeito socialista em plena ditadura oriunda do golpe de 1964: José Marques (MDB), seu pai, que se foi repentinamente, sendo ela uma menina. E com a partida dele, sua genitora, Dona Francisca, apressou-se em educar a caçula. Porém, estudante exemplar, viu sua mãe partir cedo também, não sem antes conviver com o netinho Tonny Ítalo, um amor arrolado em fatos que se entrelaçaram, mistérios que futuramente se revelaram verdadeiros, como a própria previu em seu livro, “Sonhos, Uma Percepção da Verdade” (ED. Realce, 2011), onde a autora procura conversar, a partir de experiências que se inter-relacionam, e discutir as situações pelas quais passamos. Como disse na apresentação, “são relatos variados de viagens oníricas ao longo da sua vida, amigos e de familiares”. E de fato o livro traz a associação de fatos, aproximação e ideias entre seus parentes, inclusive de seu filho, tão novo e se antecipando no desejo de ajudar pessoas carentes.

 Não foi fácil. Entre outra paixão, o canto, formou-se em Letras pela Universidade Estadual do Ceará, até então criando sozinha o seu garoto. Habilitou-se em Língua Cervantina, Máster e Doutora em Espanhol, não escondendo o seu orgulho de ter sido professora do Instituto Municipal de Pesquisas e Administração de Recursos Humanos (IMPARH), tendo, por concurso, entrado no quadro de servidoras da SEFAZ quando cursava a Faculdade, chegando, hoje, ao cargo de Auditora Fiscal Adjunta.
Reunião de Natal. Uma bela família, inclusive com a Lolita.

 Então surgiram os outros dois filhos queridos, igualmente inteligentes, João Rodrigues e Gláucia Maria, estudantes de Medicina e Direito, respectivamente, nos quadros da Universidade Federal do Ceará (UFC). Não sem antes seus esforços em garantir-lhes ensino de qualidade, o próprio que é ponto relevante, como militante dos direitos civis, na sua luta por uma sociedade justa. Os abraços e as presenças do casal são motivos de conforto e resistência a dor de uma mãe ilutada.

 O Grupo de Tradições Cearenses (GTC), fundado pela professora Elzenir Colares a partir de uma visita à Espanha, teve a colaboração de Gláucia Lima, numa brilhante participação ao interpretar “Cajueiro Pequenino” (Juvenal Galeno), no CD “Areia do Mar”, comemorativo aos 30 anos do grupo, que incorpora a cultura cearense, levando às gerações a riqueza do nosso folclore. Vez por outra a cantora me envia mensagens tipo “traga o meu CD de volta, seu peste!”. Não posso sequer “curiar” seus acervos... Quando ela parar de me questionar, por certo me pegará, trocando o disco por um pirata, que não é do seu feitio, claro. O GTC chega aos 50 anos, no que, suponho, a artista aposentada talvez se “sujeite” a gravar Chico.

Outubro Rosa é com Mulheres no Fisco
 Pelo lado ativista, sua atuação no movimento Mulheres no Fisco não foi interrompida. Óbvio que ouve uma lacuna no tempo diante do luto, mas Gláucia continua engajada na defesa das companheiras. Durante recente fórum, a preocupação e inquietude com a gravidade que vive o País. Os últimos atos do deputado Jair Bolsonaro levaram o grupo a sair com a posição drástica, condenando a violação dos direitos humanos e convocando a sociedade a “repudiar toda e qualquer atitude machista, homofóbica e preconceituosa que ponha em risco a harmonia entre homens e mulheres, independente de etnia, classe social ou condição”. Nossa amiga volta às lutas sociais, e nos encanta, envaidece e inspira. A altivez sobrepondo a fatalidade.
Itaitinga: presidente inspecionando obras do InsTI

 O Instituto Tonny Ítalo (InsTI), por sua vez, foi o reencontro de Gláucia com a mulher guerreira de outrora. Surgiu dos esforços da família e de pessoas próximas, precisamente dos amigos do seu filho, dos quais alguns ela não conhecia, estando a ONG em busca daquilo que ele sonhava desde a pré-adolescência: um espaço para ajudar o próximo, sensibilizar e mobilizar famílias e comunidades “na construção de uma sociedade justa, não-violenta, saudável, criando mecanismos para contribuir com uma nova cultura de alegria e paz”. Ainda que com poucos recursos financeiros, o trabalho é uma realidade e as obras seguem.
 Haverá um processo de cadastramento das famílias próximas à sede, em Itaitinga, no sentido de que, a partir da coleta de dados, possa sentir as necessidades e carências da comunidade. Essa sensibilidade será analisada neste mês, durante mais uma Ação Social, quando os convidados serão assistidos por prestação de serviços e atenção. Um trabalho que toda a sociedade deveria acolher.
  Queria ser o poeta do primeiro parágrafo para saber ilustrar e aprimorar estes garranchos, sintetizar com a arte dos imortais o que ela simboliza no mundo de desigualdades em que vivemos. A mulher que diariamente leva o café ao filho e com ele conversa, um diálogo que se resume em incentivo e conforto. A mulher que sobra ideias, que ouve e opina, que busca tornar seus desejos para o bem. A mãe que me inspirou neste dia dedicado a ELAS.

 Gláucia Lima, feliz Dia das Mães. Creio que muitos a desejarão o mesmo, em respeito não apenas a tua dor, mas a tua história e honradez. És uma vencedora.

4 comentários:

  1. Surpresa e emocionada... abrir os olhos e ler tais palavras obrigaram-me a fechá-los novamente... as lágrimas impedem-me de abri-los e de escrever minhas impressões...
    Por enquanto, ¡gracias! 😘💕

    Parabéns a todas as Mães!👏💐Pães tbm 🙋

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  2. Glaúcia Lima,você é merecedora de tanta coisa boa na sua vida, tenha certeza que Deus te deu a graça de ser mãe de três jóias! Você está no meu coração!! bjoss
    Joyce e Davi

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  3. FMFi (leia-se: "femefi") - o Fórum de Mulheres no Fisco parabeniza todas as mulheres e mães através de suas coordenadoras!

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  4. Aplaudo de pé esta guerreira. Simbolo da força da Mulher, Mãe... Beijos no coração minha amiga!

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